Enquanto escrevia e recriava as camisas que utilizei na matéria “Confirmado! As camisas de futebol 2020/2021 ficam melhores com patrocinadores retrô.”, me chamou a atenção o domínio da Coca-Cola nos patrocínios das camisas na segunda metade da década de 80.
O ano de 1987 foi sem sombra de dúvidas um dos piores anos para o futebol nacional, ano em que a CBF decretou falência e também o ano da criação do Clube dos 13. Foi neste ano também que aconteceu a Copa União e o famoso Flamengo X Sport Recife que resulta em uma disputa judicial até hoje pelo título da competição.
Em meio a todas as coisas estranhas de 1987, o Clube dos 13 fechou um contrato com a gigante americana, por apenas 1 milhão de dólares ( que era muito para o ano), quase todos os times de futebol do Brasil vestiriam o logo da Coca Cola.
“Estávamos no país do futebol e seria loucura deixar passar a oportunidade.”
Neville Isdell,
A Coca-Cola era um produto popular e de fácil acesso, com isto fazia todo o sentido associar seu nome ao imenso alcance que o futebol proporciona. Desde 1974, a empresa é uma das patrocinadoras da FIFA e da Copa do Mundo. No Brasil, placas publicitárias da marca já foram expostas nos estádios em incontáveis partidas ao longo dos anos. Um dos seus principais garotos-propagandas dos anos 1980 foi Zico, o maior ídolo de uma geração de brasileiros.
A Coca-Cola também havia participado do pool de empresas que repatriou Zico em 1985 de volta para o Flamengo após dois anos no futebol italiano pela Udinese, mas nenhum movimento havia sido tão ambicioso como o de patrocinar praticamente todo o futebol brasileiro. Porém, naquele Brasil de 1987 nada era tão simples.
Flamengo e Corinthians, os clubes com maior torcida do Brasil, recusaram o acordo e ficaram com seus patrocínios da Lubrax e Kalunga, respectivamente. Se era bom para o São Paulo, não seria bom para o Corinthians, afirmava o presidente corintiano Vicente Matheus. Palmeiras, São Paulo, Inter e Santos só ostentariam o logo da Coca-Cola após o fim dos patrocínios vigentes. O Grêmio aceitava estampar o patrocínio, mas não aceitava a cor vermelha da marca na camisa. O jeito foi colocar o logo em preto.
Após os acordos, 10 dos 16 clubes da Copa União foram patrocinados pela Coca-Cola. A gigante continuou nas camisas dos clubes brasileiros até 1994. Aos poucos a marca de refrigerantes foi sumindo dos uniformes, mas entrou para a história e os colecionadores de camisas buscam as edições de época que hoje são raras.
COCA-COLA na camisa da Seleção Brasileira.
Estádio Parque do Sabiá, Uberlândia, 9 de dezembro de 1987. Treinada por Carlos Alberto Silva, a Seleção Brasileira entra em campo para um amistoso contra o Chile. Na escalação: Gilmar Rinaldi; Zé Teodoro, Batista, Luizinho e Nelsinho; Douglas, Raí e Pita; Sérgio Araújo, Renato e Valdo. Era o melhor possível, já que os “estrangeiros” não poderia ser convocados, assim como os jogadores de Flamengo, Internacional, Sport e Guarani, que decidiam a Copa União e o Módulo Amarelo.
Mas o estranhamento maior da torcida quando o time entrou em campo não foi nenhum jogador que vestia a Amarelinha, e sim um toque de vermelho na camisa: um logo da Coca-Cola estampava o uniforme da seleção então tricampeã do mundo. Uma ação inédita até então.
Criaa da Zona Oeste do RJ.
Comunicador, fotógrafo, colecionador de camisas de times e camisa 8 no time da pelada.
Trabalhando com notícias e informações desde 2002.
