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Além do Campo: Como a AFCON 2025 em Marrocos se Tornou a Maior Vitrine de Moda e Herança Cultural do Futebol Mundial

por CRIAA · 28 de dezembro de 2025

Houve um tempo em que a Copa Africana de Nações (AFCON) era vista por muitos clubes europeus como uma “anomalia no calendário”, um torneio secundário que retirava jogadores de seus elencos no meio da temporada. Essa percepção ruiu por completo. A edição de 2025, sediada em Marrocos, consolidou a AFCON como uma competição de prestígio inegável, capaz de cativar fãs muito além das quatro linhas. Essa mudança de patamar reflete-se na atenção obsessiva aos detalhes, com as seleções nacionais desembarcando em solo marroquino com visuais cuidadosamente curados, transformando o túnel do aeroporto na passarela mais influente do ano.

Nesta matéria, analisamos como o “drip” africano está redefinindo o conceito de uniformes de viagem e como o orgulho cultural tornou-se o acessório mais valioso dos craques que brilham nos gramados de Marrocos.

1. Mali e o Poder do Bogolan: Tradição Reinterpretada

O Mali deu uma aula de como honrar o patrimônio estilístico nacional sem abrir mão da modernidade. A delegação chegou a Marrocos vestindo conjuntos feitos de Bogolan, o tecido tradicional do país, tingido com terra e plantas em um processo ancestral.

Os jogadores utilizaram túnicas e bonés em tons de cinza com inserções azuis, complementando um look total white que exalava sofisticação. Já a comissão técnica optou por um padrão geométrico ousado, alternando tons de ocre e preto. O uso do Bogolan na AFCON 2025 não foi apenas uma escolha de vestuário; foi um manifesto de resistência cultural, elevando um tecido artesanal ao status de alta moda esportiva.

2. A Elegância do Oeste: Nigéria, Senegal e as Cores da Identidade

As potências da África Ocidental mantiveram a tradição de usar roupas que comunicam autoridade e história.

Nigéria e o Kaftan Floral

Os “Super Eagles” da Nigéria optaram pelo clássico Kaftan, mas com um toque de luxo contemporâneo. O conjunto verde total, cor nacional, foi elevado por detalhes florais bordados ao longo das mangas e no fechamento central. É o equilíbrio perfeito entre a robustez do atleta e a delicadeza do artesanato iorubá, provando que o “drip” nigeriano continua sendo um dos mais influentes do mundo.

Senegal: O Minimalismo Branco e Dourado

Os atuais defensores da honra senegalesa escolheram a pureza do branco. O conjunto senegalês, marcado por cortes limpos e acentuado por botões e detalhes em ouro, trouxe uma aura de calma e confiança. No “Blokecore” moderno, o visual do Senegal é a definição de luxo silencioso, onde a qualidade do corte fala mais alto que qualquer logotipo.

3. Comores, África do Sul e Zimbabwe: O Novo Contemporâneo

Enquanto alguns focaram na tradição absoluta, outras federações buscaram uma estética mais relaxada e sob medida, fundindo o tailoring europeu com a alma africana.

As Ilhas Comores impressionaram com conjuntos da marca EMIR, apresentando camisas de gola mandarim brancas combinadas com calças e jaquetas cinzas. A África do Sul, por sua vez, manteve o foco na cor nacional com ternos verde monocromáticos e camisas brancas impecáveis, um visual que remete à sofisticação urbana de Joanesburgo.

O Zimbabwe trouxe uma das histórias mais ricas em seus trajes. A marca 4May International adicionou detalhes coloridos nas mangas e bolsos, mas o destaque foi o contorno branco do Great Zimbabwe Bird — o símbolo nacional icônico — impresso nas costas. É o uso da moda como ferramenta de contar histórias, onde cada centímetro do tecido carrega um pedaço da história da nação.

4. Costa do Marfim e a Maison Elie Kuame: Alta Costura no Futebol

Se houve uma seleção que se posicionou “cem vezes melhor” que as outras no quesito estilo, foi a Costa do Marfim. Os “Elefantes” elevaram o nível da AFCON para o patamar da Paris Fashion Week ao desembarcarem com looks customizados pela Maison Elie Kuame.

Fundada em 2006, a casa de luxo reinterpreta a herança africana através de uma lente de alta costura. O visual marfinense para a AFCON 2025 é uma obra-prima: um casaco elegante adornado com um motivo geométrico repetitivo em tons de bege, ocre e branco, ecoando padrões têxteis tradicionais. Botões dourados e calças de corte flare completaram o look, que é, sem dúvida, o visual mais sofisticado da história do torneio. Ver jogadores de futebol vestindo peças que poderiam estar em um museu de arte contemporânea é a prova definitiva de que a África lidera a revolução do lifestyle esportivo.

5. O Impacto no Marketing e na “Jersey Culture”

Essa explosão de estilo na AFCON 2025 tem um efeito cascata no mercado global. Marcas de luxo e gigantes do streetwear como Nike e Puma agora olham para os trajes de viagem das seleções africanas como fontes de inspiração primárias. O conceito de “pre-match fit” ou “tunnel fit” tornou-se tão rentável quanto a própria venda de camisas de jogo.

A autenticidade demonstrada em Marrocos atrai uma nova geração de consumidores — os “Fashion Footballers” — que buscam peças que tenham história e propósito. O sucesso desses looks nas redes sociais gera um valor de marketing incalculável para as federações, permitindo que elas atraiam patrocinadores de luxo que antes ignoravam o futebol africano.

6. AFCON 2025: O Padrão Ouro para o Futuro

Ao transformar o desembarque em um evento cultural, a CAF (Confederação Africana de Futebol) e as seleções participantes enviaram uma mensagem clara ao mundo: a África não pede licença para ditar tendências; ela as cria. O prestígio da AFCON 2025 não é medido apenas pelo nível técnico — que continua altíssimo —, mas pela dignidade e pelo orgulho com que os atletas carregam suas cores.

Marrocos serviu como o palco perfeito para essa fusão de futebol e moda. Com estádios modernos e uma infraestrutura de primeiro mundo, o país ofereceu o cenário ideal para que o talento e o estilo africano brilhassem sem interferências.

Conclusão: A Vitória do Estilo e da Substância

A Copa Africana de Nações de 2025 será lembrada como o torneio em que o futebol africano reclamou seu lugar no topo da pirâmide cultural. Através dos tecidos Bogolan do Mali, dos Kaftans da Nigéria e da alta costura da Costa do Marfim, o mundo pôde ver uma África vibrante, sofisticada e consciente de sua influência global.

No fim das contas, o “drip” dessas seleções em Marrocos é o reflexo de um continente que sabe que sua história é seu maior ativo. Quando a bola rola, o talento resolve; mas quando os jogadores descem do avião, é a moda que anuncia que os reis chegaram. A AFCON 2025 não é apenas uma competição; é um movimento estético que mudou o futebol para sempre.

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