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Camisa de time: Por que a Inovação nos uniformes dos Clubes Morre no Voto do Conselho?

por CRIAA · 31 de dezembro de 2025

Em muitos clubes do Brasil, existe um abismo invisível, mas praticamente intransponível, entre o departamento de marketing, as gigantes de material esportivo e o torcedor que desembolsa R$ 499,00 / 599,00 em uma camisa oficial. No centro desse vácuo está o Conselho Deliberativo. O problema central não reside na certidão de nascimento de quem vota, mas na mentalidade de “guardião” que impede o futebol de acompanhar a evolução do mundo. Enquanto clubes europeus e norte-americanos fundem esporte e moda, o modelo de gestão brasileiro permanece ancorado em ritos que priorizam a política em detrimento do mercado.

Essa barreira burocrática gera um custo invisível, onde o clube perde a chance de ser protagonista na cultura pop. A camisa deixa de ser um objeto de desejo para quem gosta de moda e passa a ser tratada apenas como um “uniforme de jogo”, limitada por decisões de quem muitas vezes não consome o produto que ajuda a definir.

1. O Estatuto como Escudo e a Tradição como Algema

Para um conselheiro, o estatuto do clube é a “Constituição” suprema. No entanto, muitos desses documentos foram redigidos em épocas em que o futebol era puramente um esporte de campo, sem a dimensão de mercado global e digital de hoje. A barreira aqui é interpretativa: qualquer tentativa de modernização estética ou comercial é lida como uma “violação de valores históricos”.

O conselho se vê como o último bastião contra uma modernidade classificada como “profana”, criando um filtro que barra o novo antes mesmo de ele ser testado pelo público. O resultado é uma gestão que protege a identidade congelando-a no tempo, impedindo que a marca respire e se renove para as próximas gerações de torcedores.

2. O Rito Político contra a Agilidade do Mercado

O design de uma camisa deveria ser um processo técnico, baseado em comportamento de consumo, tendências de streetwear e tecnologia têxtil. Mas, em grandes clubes como o Flamengo, São Paulo, Corinthians, Cruzeiro, Grêmio e etc.. esse processo é puramente político.

  • Aprovação por Colegiado: Colocar centenas de pessoas para votar em um design é a receita para a mediocridade. O que acaba aprovado não é o melhor projeto artístico ou comercial, mas o projeto que causa menos atrito político.
  • O Medo do Erro: O conselheiro teme que uma aprovação “ousada” manche sua reputação interna. É politicamente mais seguro aprovar uma camisa “mais do mesmo” do que ser o responsável por um modelo que divida opiniões, mesmo que esse modelo tenha potencial para explodir em vendas.

3. A Desconexão de Referências: O Choque Cultural

A grande barreira é que as referências de quem aprova e de quem consome não se cruzam mais. Enquanto o torcedor está olhando para o que se usa em Londres, Paris e no streetwear de Tóquio, o ambiente do conselho é autorreferencial.

Os tomadores de decisão olham para a própria galeria de troféus como única fonte de inspiração. Isso cria um ciclo vicioso de “homenagens” a datas redondas e efemérides, impedindo que o clube crie novos marcos visuais independentes. A tradição, que deveria servir de inspiração, acaba sendo usada como ferramenta de censura criativa.

Conclusão: O Veto

Enquanto o voto de quem não consome o produto valer mais que a voz de quem o veste, a inovação continuará sendo vetada nos clubes. Para que o futebol brasileiro atinja o patamar de potências globais de marketing, é preciso entender que modernizar o visual não é apagar a história, mas garantir que ela continue sendo contada para quem ainda vai nascer.

A identidade de um clube deve ser um organismo vivo. Se ela não se adapta às novas linguagens da moda e do comportamento, ela corre o risco de se tornar uma peça de museu, admirada pelo passado, mas irrelevante para o presente e invisível para o futuro.

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