Bem-vindos a mais uma análise, onde exploraremos um tema sério que há muito tempo merece nossa atenção: a influência do narcotráfico no futebol latino-americano. Este assunto, embora complexo e polêmico, merece ser discutido, pois afeta diretamente a integridade e a transparência do esporte que tanto amamos.
Unión Magdalena
O Unión Magdalena foi o primeiro clube colombiano a contar com dinheiro ilícito da droga. No fim da década de 1970, os irmãos Dávila Armenta, suspeitos de traficar maconha na época, salvaram o clube do rebaixamento e ainda o levaram à disputa do título em 1979 (após uma ótima primeira fase, o clube acabaria na 4ª posição geral, com o jejum de títulos em vigor desde 1968).
A partir dos anos 70 até os anos 90, a Colômbia estava imersa em conflitos internos, vivendo uma espécie de Guerra Civil, com grupos paramilitares e guerrilhas comunistas lutando pelo controle do país. Nesse cenário caótico, os cartéis de drogas encontraram terreno fértil para prosperar, especialmente devido às condições climáticas favoráveis para o cultivo de drogas como maconha e cocaína.
América de Cali
Este clube foi dirigido nos anos 80 e 90 por Miguel Rodríguez Orejuela, líder do cartel de Cali e arqui-inimigo de Pablo Escobar. A partir de 1995, começaram os julgamentos contra Rodríguez e o clube foi acumulando dívidas, despedindo-se de uma gloriosa época (foi pentacampeão colombiano, de 1982 a 1986, um recorde histórico, e também alcançou a final da Libertadores em quatro oportunidades, todas como vice).
Esses cartéis, em busca de legitimidade e influência, viram no futebol uma oportunidade de lavar seu dinheiro sujo. Através de investimentos em clubes e manipulação de resultados, eles conseguiram infiltrar-se profundamente no mundo do futebol colombiano. Times como o Deportivo Cali e o América de Cali foram alguns dos mais beneficiados, recebendo investimentos pesados que lhes permitiram contratar talentos sul-americanos de destaque e dominar o cenário nacional.
No entanto, a influência dos cartéis não se limitava apenas aos clubes. Ela se estendia até mesmo à seleção nacional colombiana, onde jogadores eram selecionados e escalados de acordo com os interesses dos traficantes, visando aumentar seu valor no mercado internacional.
Atlético Nacional
O Nacional de Medellín foi o “time de excelência” de Pablo de Escobar, considerado o narcotraficante mais poderoso da história da Colômbia. Em 1989, o clube ganhou uma Libertadores (a primeira do país) envolta em polêmica devido à alegação de manipulação do torneio por parte de Escobar. Tal era o descaramento na relação com Escobar que vários jogadores visitavam o traficante em sua prisão domiciliar para jogar uma pelada com ele (o clube voltou a conquistar a Libertadores em 2016, já sem a sombra do Patrón).
Essa interferência criminosa não apenas distorceu a integridade do esporte, mas também teve consequências trágicas. Em muitos casos, jogadores foram ameaçados e até mesmo assassinados por desempenharem mal em campo ou se recusarem a participar de esquemas de corrupção.
É importante ressaltar que esse problema não é exclusivo da Colômbia. Em outros países, como México, Bulgária e Itália, também houve casos de envolvimento do narcotráfico com o futebol, demonstrando a escala global desse problema.
No entanto, apesar dos desafios enfrentados, o futebol colombiano tem buscado se recuperar desse passado sombrio. Com medidas de combate ao narcotráfico e maior transparência, os clubes estão gradualmente se distanciando de sua associação criminosa passada.
Embora o legado do narcotráfico ainda possa ser sentido em alguns aspectos do futebol colombiano, é importante reconhecer os esforços em curso para restaurar a integridade e a credibilidade do esporte. Através da educação, da aplicação da lei e do apoio da comunidade internacional, esperamos ver um futuro onde o futebol possa prosperar livre da influência nefasta do crime organizado.