Ele é beatmaker, DJ, produtor, cozinheiro, e, nas horas vagas, mostra suas habilidades como MC. Estamos falando de Antonio Constantino, mais um cria das ruas de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Vem desenvolvendo ao longo dos anos trabalhos sólidos, que, além do público em geral, influenciam as cabeças dos artistas tanto do underground, quanto do mainstream por todo o país. É responsável por soltar na pista sons de Grime, Funk, Drill, Dubstep, Dancehall, Jungle, entre vários outros gêneros e subgêneros da música eletrônica, além do Rock.
É responsável ainda pela idealização do selo Leigo Records, que reúne diversos artistas colocando a cara pelo país. Sem contar sua participação pelo Brasil Grime Show, programa que se tornou referência na música jovem. Hoje tem em seu canal o PURGATORIUM, onde recebe a cada episódio MCs de diversos estilos para soltarem barras em cima de seus beats.
Eu, particularmente, já acompanho seus lançamentos há, no mínimo, três anos. E sei que é um artista que merece muita confiança, pois tem um futuro brilhante.
Acompanhe mais essa entrevista exclusiva, onde ANTCONSTANTINO fala sobre sua vida pessoal, profissional, o lançamento de “FASHION”, o seu mais recente EP, sua visão sobre a cena musical atual, ALÉM DE ANTECIPAR EM PRIMEIRA MÃO os novos lançamentos que virão ainda este ano.
Acompanhe a seguir.
Agradecimentos: Juliana Wanderley, a.k.a. Tarja Preta
RAPGOL Magazine – É um enorme prazer poder tê-lo como RAPGOL Magazine. Eu mesmo já admiro e acompanho sua trajetória a alguns anos. Conta um pouco pra quem ainda não conhece sobre o ANTCONSTANTINO, de onde ele é cria e para o que veio.
ANTCONSTANTINO – Salve, desde já obrigado pelo convite. Sou o Antonio Constantino, filho da Dona Lilian de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Mais conhecido como ANTCONSTANTINO, sou produtor musical, beatmaker, DJ, tenho um projeto de roupa e até aspirante a cozinheiro ou MC mas horas vagas (risos).
RAPGOL Magazine – Quando houve o seu primeiro contato de fato com a música? Há quanto tempo você atua profissionalmente? Como foi esse início?
ANTCONSTANTINO – Essa é uma pergunta difícil, pois não sei quando se iniciou esse contato. Na minha família todo mundo gosta muito de música, porém todo mundo é mais ouvinte e etc. Tenho um tio que teve banda, inclusive toquei bateria na banda dele (salve tio Fernando).
Porém, tirando isso, só lembro de lá em casa tocar música direto: forró, rock, arrocha e vários derivados de música baiana. Lembro também d’eu dançar muito Michael Jackson quando criança, gastar dinheiro comprando DVD pirata de clipe e etc.
Hoje em dia depois de velho eu consigo ver meu passado com mais clareza e etc, eu sempre rodiei arte, música e etc, seja indo pra show muito novo, tocando bateria em banda, falsificando camisa de banda emo gringa pra vender e etc.
Música sempre foi algo presente na minha vida mesmo sem eu planejar. Acho que é a coisa que mais gosto, é o que me move. Mas trabalhar “profissionalmente” mesmo acho que já tem uns 5 anos.
RAPGOL Magazine – Você pode apontar uma dificuldade que enfrenta até aqui enquanto artista independente?
ANTCONSTANTINO – A arte é ingrata, ainda mais na era da internet. Hoje em dia só talento não é o suficiente, você tem que saber se blogueiro, tem quase que se prostituir nos stories pra ele entregar migalhas do seu conteúdo e isso é uma das coisas que cansa muito, muitas vezes nós só queremos fazer música e lançar, nada mais.
Toda essa burocracia e esse modo que a máquina gira, cansa, adoece. Escolhi seguir um caminho que sei que não é o mais fácil mas é o que mais me agrada, trampar com sonoridades underground tem seus perrengues… Isso sem falar do financeiro. Muitas vezes falta de investimento, estrutura… mas é aquilo, “faça voce mesmo” igual o Hardcore me ensinou.
RAPGOL Magazine – Quais são as suas maiores referências dentro da música?
ANTCONSTANTINO – Minhas referências vão ser sempre aqueles que acreditam naquilo que é o mais difícil e batem cabeça até o final, mesmo sem saber se vai dar certo ou não, mas tentam por só saberem fazer aquilo, ou seja, muito dos meus amigos me inspiram diariamente.
Mas vou deixar um salve aqui para DESTRAVALT, Bruno Kroz, Jacquelone, KBrum, MASKOTTE, Oliver Sykes, Maui, Luciano Paz, Kelela, Flora Matos, Michael Jackson, Timbaland, J. Dilla, Max Cavaleira, Ozzy Osbourne e etc. Muitos aí já estão rico mas me inspiram pelo som, pela sua doideira mas outros aí além de me inspirarem pelo som, me inspiraram pela sua força em acreditar no que quase ninguém acredita.
RAPGOL Magazine – E quais são os gêneros e subgêneros com os quais você mais gosta de trabalhar?
ANTCONSTANTINO – Eu trampo muito com Grime, Drill, Dubstep, Jungle entre outras vertentes que giram em torno ali do cenário UK, música diáspora da Jamaica e etc, mas não gosto de me prender. Vim do Rock e consumo muito Rock até hoje, então tento unir esses dois universos e etc.
Mas no geral, o que me dá vontade de fazer eu faço, tô nem aí se o povo vai entender ou não. Minha parada com arte é mais pra gosto pessoal do que pros outros. Uma relação egoísta mesmo.
ANTCONSTANTINO – Sobre o Grime. Como você vê o surgimento e a evolução desse gênero aqui no Brasil de uns cinco anos pra cá?
ANTCONSTANTINO – Acho que ainda é algo “pequeno” e underground mas deu lentos passos longos nos ultimos 4 anos. Lembro lá por 2018 quando comecei a conversar sobre com o diniBoy e quase não tinha coisa de Grime Nacional na internet.
Hoje em dia tem Grime no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Recife, Porto Alegre, Florianópolis e muito mais lugares… Surgiu muitos MCs bons… DJs e produtores então, sinto que foram os que mais evoluíram com esse “revival” de Grime no Brasil.
Mas com fé no trampo de geral e nas nossas skills, a cena só tende a crescer. Até os caras lá de fora que criaram o gênero musical olham aqui pro Brasil, vêem pra cá frequentemente, comentam e etc.
ANTCONSTANTINO X BRASIL GRIME SHOW
RAPGOL Magazine – Você marcou sua passagem pelo programa Brasil Grime Show, com dezenas de episódios reunindo um time de artistas brilhantes e promissores. Como foi a construção dessa ideia e o que esse período representou para você?
ANTCONSTANTINO – Foi um período de muita aprendizagem para geral acredito eu, desde a produção, a quem filmava, editava desde o som a imagem, principalmente pro DJ e pro MC. Era algo novo pra geral, por mais que tivesse já esse formato lá fora, não tinha muitas referências nacionais nesse formato (hoje em dia tem várias), então acredito que todo mundo se virou muito e aprendeu muito.
Eu lembro que o diniBoy estava já trocando essa ideia com uns amigos e então me convidou pra colaborar na produção do programa. Daí juntou eu, ele e todas as pessoas que completam a produção do projeto.
Ali, além dos sets, eu ajudava na seleção dos MCs, na escolha dos chroma key pra casar legal com os MCs escolhidos, nas artes de divulgação e etc. Como eu disse, foi um período de muito “se vira” pra geral e muito aprendizado.
RAPGOL Magazine – Diferentemente do Rap, onde MCs se enfrentam em batalhas de rima, no Grime os artistas têm a cultura de se encontrar nas rádios para trocarem suas habilidades nas barras, meio que uns ajudando aos outros. Como você vê o papel das rádios para a construção da cena do Grime?
ANTCONSTANTINO – Lá fora foi algo necessário pra ajudar a parada a andar, chegar no ouvido dos novos e até pelos costumes culturais do local. O tipo de música que eles ouvem, a música eletrônica ser enraizada lá e etc, tudo isso somou.
Aqui no Brasil por mais que a cultura de rádio pra esse cenário de música eletrônica seja diferente de lá, temos aqui rádios undergrounds que espalham não só o Grime como diversos gêneros da música eletrônica com excelência, Veneno Live, Function, Na Manteiga, Senso Rádio, entre outras.
ANTCONSTANTINO – EP “FASHION”
RAPGOL Magazine – Você acaba de trazer ao público o seu mais novo EP, intitulado “Fashion”. Nele chama atenção o fato de que você convida alguns artistas para cantarem sob o mesmo beat. Quanto tempo levou e como se deu o processo de produção?
ANTCONSTANTINO – De forma resumida, esse beat foi feito em 2019, era pro Sheik S, mas ele acabou não usando, eu gostei muito e guardei. Dai na pandemia conheci o Kroz e chamei ele pra esse projeto, na época muito inspirado no EP “French Montana” do Jammz com Jack Dat e até “Haunted Joyride” do Spooky Bizzle, que seguem esse mesmo padrão, um único beat e geral rima em cima daquilo.
Porém como “Fashion” demorou pra sair (não me arrependo), fui lapidando melhor as referências e até entendo melhor tudo isso de riddim. Acabou que a versão final é ainda com o mesmo conceito de riddim mas ao invés de fazer pensando só no Grime, fiz pensando mais nas coletâneas de Riddim de Dancehall, que no fundo foi o que inspirou até os EP de Grime que eu citei acima.
RAPGOL Magazine – Qual seria o feat dos seus sonhos, se é que já não aconteceu, né?
ANTCONSTANTINO – Eu quero muito um dia fazer algo com Oliver Sykes, Black Alien, Vandal, Mez, Kelela, Flora Matos… são tantos. Alguns ai vai acabar rolando mais cedo ou mais tarde, não tem pra onde eles fugirem (risos).
RAPGOL Magazine – Como você conheceu o Grime e o Bass?
ANTCONSTANTINO – Eu já devo ter ouvido por aí em filme, jogo, e etc. Mas sempre sem saber o que era. Mas o momento que comecei a prestar atenção e procurar entender foi lá por 2017/2018 indo nas festas de bass do RJ, Breakz, Doom, Wobble e etc. Acho que a primeira vez que vi alguém tocar grime foi a Rebbeca Dues em alguma Breakz da vida no Aterro do Flamengo.
Quando era pequeno eu via “Xis – Chapa o Coco” na MTV, um dos primeiros Grime do Brasil, mas naquela época ali, aquilo pra mim era Rock (risos).
RAPGOL Magazine – Poderia citar cinco artistas, sejam eles cantores, beatamakers, DJs, que ao seu ver merecem atenção redobrada do público?
ANTCONSTANTINO – Claro que eu posso. Jacquelone, Ak1n, HRKN, MASKOTTE e Rocky N.
RAPGOL Magazine – Atravessamos uma pandemia que assolou nossa sociedade, interrompendo os planos de muita gente. Como foi para você lidar com a vida pessoal e os trabalhos durante esse período?
ANTCONSTANTINO – Mesmo com todos os seus pontos ruins, a pandemia foi um momento que eu tive o privilégio de ficar em casa trancado alguns meses com minha familia e etc. E foi um tempo crucial, pois foquei mais em produção musical, produção de beat, construi meu home studio, botei uns planos no papel e etc.
A pausa obrigatória da pandemia foi um dos fatores principais pra eu conseguir sobreviver de arte hoje em dia.
RAPGOL Magazine – O que você mais costuma fazer quando não está lidando com música?
ANTCONSTANTINO – Até quando estou cansado de música, penso em que música calma eu posso ouvir pra descansar. Mas nas horas vagas gosto muito de dançar, cozinhar, comer coisa gostosa, beber suco de fruta e assistir coisas que tenham finais felizes ou que me deixem empolgado de alguma maneira.
RAPGOL Magazine – Você faz parte do selo Leigo Records, o qual integram outros grandes artistas que são figuras carimbadas aqui na RAPGOL Magazine. Como começou tudo isso e como é a convivência entre vocês?
ANTCONSTANTINO – A Leigo Records surgiu na minha mente ainda quando eu tava ali no Brasil Grime Show. A principio minha ideia era estruturar algo pra começar a prensar vinil de tracks do Brasil pra vender aqui, mas é muito caro e eu não tinha grana e foi surgindo a oportunidade de lançar algumas tracks, desde gringos que sou fã até amigos, então só tive que abraçar o que o destino tava botando na minha frente.
A convivência é muito suave, geral é muito doido, muito parecido e diferente ao mesmo tempo, mas basicamente todo mundo passa os “mesmos” perrengues, gostamos muito de gastar a onda e produzir coisas ou até pensar em ideias “impossíveis”… sempre que estamos juntos é divertido e inspirador. E eu diria que 70% das pessoas ali são amigos de muitos anos.
A Leigo Records além de MCs, tem produtores, professor de geografia, fotografo, jornalista, vagabundo, tem tudo. É simplesmente um bando de amigo que quer se ajudar no que der. Hoje em dia temos uma estrutura minima pra trampar, mas a uns meses atrás não tinhamos e o fato de geral se ajudar que faz tudo funcionar.
RAPGOL Magazine – Podemos aguardar mais novidades do ANTCONSTANTINO ainda esse ano?
ANTCONSTANTINO – Com certeza. Sequência de spoiler pra vocês: To finalizando uma MIXTAPE do Bruno Kroz só com beats clássicos do hip-hop que vocês conhecem, finalizando novo EP do KBrum, breve sai “Notas” do MASKOTTE e meu próximo lançamento solo é mais um EP de Remix de Pula Pula… tem PURGATORIUM pra sair… muita coisa.
RAPGOL Magazine – Qual mensagem você gostaria de deixar para quem nos acompanhou até aqui?
ANTCONSTANTINO – Um muito obrigado a todo mundo que gasta um pouco da sua energia e do tempo do seu dia pra ajudar meu trabalho virar, seja me divulgando, me ouvindo, curtindo, comentando, comprando coisa e etc.
E pra galera que está começando: tente sempre criar um caminho seguro pra você e pra suas ideias, um ambiente que te conforte, inspire, com pessoas que você admira e apoia. E também não ceda a essa competição que as mídias empurram nós, você é único e tem seu próprio tempo.