JEF DELGADO
Esta semana trazemos na matéria de capa um cara sensacional, Jef Delgado! Ele que é um dos responsáveis por estar registrando parte da história do rap no Brasil com as suas lentes.
O fotógrafo, diretor criativo, jornalista, empresário e correria, arrumou um espaço em sua agenda em meio as tours e sessões de fotos para conversar com a RAPGOL Magzine sobre diversos assuntos interessantes.
Falamos sobre direitos autorais, curiosidades nas viagens, música, Life style, Corinthians, passado, projetos futuros e muito mais.
A entrevista completa você acompanha na sequência.
RAPGOL Magazine -Primeiramente obrigado por conversar conosco. Você está na correria há um tempo e seus projetos já ganharam o mundão.
Observamos que ao longo dos últimos anos a sua carreira vem evoluindo e novos trabalhos estão surgindo, como você analisa esses seus últimos 5 anos?
Jef Delgado – Os últimos anos foram insanos, tenho vivido muito focado no meu crescimento e dos meus investimentos, sinto que me dediquei 100% pra fazer meu correr virar e achar meu espaço na cena, com muito pé no chão, porém focado ao extremo.
Acredito que tudo foi uma construção feita com boas escolhas, os últimos 5 anos passaram rápido, mas, ao mesmo tempo vivi eles e hoje analiso como valeu a pena tudo que fiz para hoje tá onde estou.
https://www.youtube.com/watch?v=v_F7Hm-bSwk&t=50s
Já no início da entrevista entraremos em um assunto polêmico, mas que precisa ser conversado: direito de imagem e créditos nas fotos.
RAPGOL Magazine: Em um passado recente, houve uma grande discussão nas redes sociais envolvendo o seu nome e as suas fotos. Na ocasião muito se falou sobre a falta de tato de alguns meios de comunicação que estavam publicando os seus registros sem os devidos créditos. Como você observa esta movimentação agora?
Jef Delgado – Analiso meu posicionamento da época e hoje faria diferente, e olha que nem fez tanto tempo assim, mas já pude aprender com minha forma de falar e posicionar, tava rolando muitas fotos minhas rodando sem crédito, páginas fazendo modificações com meu material sem autorização (isso rola até hoje), a minha meta era apenas dizer que isso não é bagunça, que tenho zelo por tudo que eu produzo e sei o peso que tenho na cena como uma dos profissionais que mais produzi e registra a galera, então tem que ter uma parceria mais próxima com as páginas e afins.
Imagino que fui visto como chatão, mas também é meu dever tomar conta do que é meu, sinto que a cena tá crescendo e precisamos ir se organizando, as páginas em relação aos créditos, por que no final das contas estou falando sobre a valorização dos profissionais que fazem a cena do rap existir, sem fotografia, sem registro, como as páginas vão ter conteúdo? Então geral precisa jogar junto, todo mundo tá fazendo seu trampo.
RAPGOL Magazine -Conhecemos o seu trabalho através dos registros feitos nos Bailes Funks das comunidades de São Paulo. Gostaríamos de saber: qual a importância destes projetos para a sua carreira até hoje?
Jef Delgado – A importância do funk na minha vida tem diversos desdobramentos, comecei registrando os bailes, os primeiros artistas que trabalhei foram do funk e aprendi muito fazendo as paradas, ou seja, tudo que faço hoje com uma qualidade melhor, eu tive oportunidade de arriscar produzir lá atrás, hoje ser consultor para plataformas digitais e poder fazer essas conexões de forma genuína e mais verdadeira possível é um dos grandes ganhos.
Registrar bailes no começo do corre me ajudou a ter noção sobre um registro completo de uma festa, de um evento, de acontecimentos que rolam nos bailes, então me ajudou a ter noção de como captar, além de todas as estéticas que fazem parte dessa cena e você não pode alterar, só registrar e mostrar como realmente é, sendo cria de baile isso fica mais fácil, é um território que conheço desde os 13/14 anos.
Eu já fui um menor que andava com copo de energético na mão pra conquistar as novinhas, hoje mais velho, observo o baile por outras perspectivas e vejo como ser cria desse lugar, me fez ser quem eu sou.
RAPGOL Magazine – As suas fotos não se resumem a eventos e artistas. Você consegue ter a noção do quanto o seu trabalho colocou muita gente no mapa? E nós lhe agradecemos por isto.
Jef Delgado – É foda, não paro muito pra pensar, só vou fazendo, sei que to registrando uma parte da história dessa cena que é difícil pra gente mesmo resumir com uma palavra ou uma frase, mas a ideia é só ir fazendo, produzindo, plantando, a hora certa de colher vai chegar. Eu costumo dizer que eu sou “Marcha nos progressos”, vou somando, vou ajudando, vou produzindo, uma hora a gente chama a Netflix pra produzir um doc sobre tudo que registramos, ai diversos países vão saber quem sou eu, o tamanho dessa cena e tudo que fizemos acontecer com poucos recursos.
RAPGOL Magazine – A moda pulsa nas comunidades e os registros chegam através de editoriais. Você acredita que o seu olhar como um cria do Jardim Rosana,ZS de SP é um diferencial nos trabalhos?
Jef Delgado – Penso que as marcas e empresas tem olhado cada vez mais pra todos os crias de comunidades, estão percebendo como somos potentes e temos muito a somar no mercado, tanto por quanto consumimos, mas também por todas as criações e realizações de qualidades que tocados. Hoje dentro das marcas tem tem cria e pessoas que sabem selecionar crias para idealizar e somar em grandes projetos, hoje eu sou um deles.
RAPGOL Magazine – Os editoriais “Joga Bonito” e “Love for football” destacaram as camisas de times e o futebol. Os kits há décadas são destaques nas quebradas. Você mantém um carinho especial por estas vestimentas, certo?
Jef Delgado – Bem louco essa pergunta, esses dias eu tava pensando sobre qual o meu estilo hoje, cresci como todo jovem de favela que a mãe não podia dar os kit da época, então sempre fiz meu corre pra tentar ter as paradas, hoje eu vivo outra realidade completamente, os kit que eu mais queria ter, chegam na minha casa enviado pelas marcas diretamente.
Sinto que mantenho meu estilo Mandrake que sempre quis ter, mizunão de mil no pé, Polo Play, Lacoste, e afins, porém sei que se quiser me vestir com um estilo mais social, meu público vai entender e acima de tudo, eu também vou me sentir bem, acho que posso resumir que hoje me visto da forma que quero, mas também mantenho minhas raizes de estilo, 4 molas no pé, bermuda e polo com uma correntinha, nem por isso sou menos empresário ou mais favelado, acho que a liberdade para se usar o que quiser, não muda suas raizes, acho que posso resumir assim.
RAPGOL Magazine – Ainda sobre o futebol entre os seus registros: como foi trabalhar em um projeto que envolveu o Sport Club Corinthians Paulista , seu time do coração?
Jef Delgado – Pô foi surreal, até hoje ainda não acredito, tenho histórias engraçadas com o Corinthians, minha mãe é missionário evangélica, não deixava a TV ficar ligada depois das 22h, tinha que ficar ouvindo os jogos da Libertadores em 2012 no rádio, aquela narração mil grau que o jogador tá no meio de campo e parece que ele já tá na cara do gol, era louco. Trampar com o Corinthians foi uma realização, tanto com o “Tropa do Corinthians”, quanto o lançamento da camisa II com o Fleezus, foram projetos da rua, com conexão musical, que super me vi na parada e teve uma conexão absurda.
Foto – Daniel Edurdo
A fotografia te abriu portas e nos últimos anos você assinou as capas de projetos que receberam destaques, entre eles temos: “NU” do Djonga, “JOVEM OG” do Febem e “Troféu” do Major.
RAPGOL Magazine – Como foi trabalhar nesses projetos?
Jef Delgado- Foram projetos que me ajudaram a ser mais visto ainda na cena e que pude somar na direção criativa e execução das ideias dos artistas, eu cresci consumindo muito rap, muita capa de álbum, ficava analisando como a capa resumia a obra do artista, então quando comecei a ter oportunidade para assinar capas, só segurei a responsa que era e marchei. Amo minha todas as capas que assinei, cada uma tem uma história na sua particularidade e daqui uns anos eu conto mais sobre ou até quem sabe não tenha imagens exclusivas dessas captações.
Ao longo dos últimos você esteve em diversas turnês e tem nos apresentado alguns registros sensacionais de artistas como: Emicida, Djonga e claro Racionais Mcs.
RAPGOL Magazine – Como é a vida de um fotógrafo na estrada?
Jef Delgado – A vida de um fotógrafo na estrada não é fácil, já estive em turnê, correndo pra cima e pra baixo e estava comemorando 3 anos de namoro, não tive tempo pra fazer um texto pra minha namorada na época.
Estar na estrada com artistas é saber que sua vida pessoal fica um pouco de lado, seu cachorro, sua casa, sua companheira, então saber essa responsa é a maior parada, sua rotina é com base na vida do artista, pra mim que registra diversos fica mais louco ainda, vivo pela agenda deles, mas sobre um tempo pra pensar em mim também.
RAPGOL Magazine – Você já parou para pensar sobre a importância das suas fotos no legado e eternidade do Rap/Hip-Hop?
Jef Delgado – Às vezes paro para pensar, mas a força de construir é o que me guia, quero fazer mais, registrar mais, produzir e somar mais na cena, sei que tudo vai ficar pra história, sei que posso tá virando o Chi Modu brasileiro, mas o que não sabemos é o que será daqui 10 anos, saca? ou até mesmo, menos tempo. Deixo tudo na mão do universo, hoje não era nem pra estar aqui, eu fui de um moleque que ninguém dava nada, que em 2015 foi expulso da escola, pra uma das peças mais importantes pro audiovisual e comunicação do rap no Brasil, tudo é muito novo, um peso gigantesco, que seguro a responsa e sigo querendo fazer acontecer.
RAPGOL Magazine – Sabemos que a carreira de fotógrafo envolve muita dedicação e trabalho. Qual o seu conselho para quem está começando na profissão?
Jef Delgado – Dedicação! você precisa se dedicar pra fazer virar, já cantou Ice Blue em Cores e Valores “Seu limite cê que sabe, quer chegar aonde?”. Eu me via onde estou, não sabia como, quando, de qual jeito, mas eu me via grande, bem posicionado, fazendo um bom trabalho, então a ideia é projetar e fazer virar, por ser preto preciso sempre ser 10x melhor, então faço isso todo santo dia, minha dica é, se dedique no seu corre, nas coisas que você acredita.
RAPGOL Magazine – Falamos bastante sobre o Jef Delgado profissional, mas agora queremos saber mais apenas do Jef: Se você tivesse a oportunidade de falar para o Jef de uns 5 anos atrás algum ensinamento de hoje, o que você diria?
Jef Delgado – “E ai irmão, vai pra cima, essas loucuras ai vai dá bom, confia!” hahahaha acho que falaria pra mim não desistir, que por mais que não eu não fiz isso, muitas vezes eu me questionava por não ter os melhores equipamentos, não estar com o melhor credenciamento e afins, mas eu sempre meti marcha nos progressos, eu falaria pro Jef de 5 anos atrás continuar metendo marcha que vai virar.
RAPGOL Magazine – Quando não está trabalhando, o que você curte fazer?
Jef Delgado – Gosto muito de conhecer restaurantes legais e novas comidas, amo jogar Fifa, assistir séries (quando dar tempo kkkk)
RAPGOL Magazine – Qual o seu Top 5 de álbuns nacionais?
Jef Delgado – 1 – Racionais – Nada como um Dia após o Outro Dia
2 – Racionais – Sobrevivendo no Inferno
3 – Bk – Castelos e Ruinas
4 – Emicida – Pra quem já Mordeu um Cachorro por Comida, até que eu Cheguei Longe…
5 – VND – Eu também sou um Anjo
RAPGOL Magzine – Você gosta de conhecer novos lugares e pessoas ao chegar em uma cidade diferente?
Jef Delgado – Quando temos tempo, eu amo, vida de equipe artística é muito corrida, nem sempre tem tempo pra conhecer o lugar que a gente vai, mas as vezes rola. Com Emicida conheço lojas de discos, com Mano Brown e Racionais conheço novas pessoas com base nas amizades dele, então sempre rola disso acontecer, seja diretamente ou indiretamente.
RAPGOL Magazine – O que tem escutado ultimamente?
Jef Delgado – Pô to estimulando cada vez o lance de escutar mulheres e também novos artistas, pra não ficar só ouvindo os que eu sou fã ou os que eu trampo, então N.I.N.A, Duquesa, VND, Derxan, Big Bllakk são os mais que tenho dado streaming ultimamente, até pra ajudar essa galera a pagar as contas, assino o premium do Spotify e sei que cada reprodução ajuda a galera com uma grana. Mas também amo ficar atento a todos as novidades do funk, então tudo que a Love Funk e a GR6 lança eu busco ouvir, principalmente essas cypher com 5,6 MCs rimando com uma tema, gosto muito e diz muito sobre a cara do funk de SP.
RAPGOL Magazine – Somos um site que fala sobre Rap, mas também adoramos futebol. Qual a sua seleção de todos os tempos do Sport Club Corinthians Paulista?
Jef Delgado – Goleiro: Cássio
Lateral Direito: Alessandro
Lateral Esquerdo: Wladimir
Zagueiros: William e Chicão
Meias: Paulinho, Ralf e Sócrates
Atacantes: Guerreiro, Ronaldo e Sheik
RAPGOL Magazine – 2022 é ano de Copa do Mundo, você acredita que o Hexa desta vez vem?
Jef Delgado – Fé em Deus, vou torcer muito e acreditar na seleção que temos, o time tá bem, os cara tão voando no mundo, espero que o Hexa venha.
RAPGOL Magazine – Já agradecendo mais uma vez o espaço em sua agenda, gostaríamos que você deixasse uma mensagem para todas as pessoas que nos acompanharam até aqui.
Jef Delgado – Agradeço geral que somou até aqui, faço tudo por amor e dedicação, não imaginava que meu voo seriam tão alto apesar de visar sempre ser um cara grande. Sou um ser humano, cheio de contradições e falhas, mas também busco ser um cara melhor pra ajudar a construir um mundo melhor, sei que minha arte vai ficar pro resto da vida, sei que inspiro muitas pessoas, sei de bastante coisa, mas o melhor de tudo, tem coisas que não sabemos e pode ser maior que tudo que já vivi e produzir, que venha mais e mais trampos e oportunidades pra gente seguir firmes construindo essa cena, obrigado cada pessoa que apostou em mim desde 2016, é marcha!