Coruja BC1 fala sobre o processo de criação do álbum “Brasil Futurista” e muito mais; leia a entrevista exclusiva

Coruja BC1 fala sobre o processo de criação do álbum “Brasil Futurista” e muito mais; leia a entrevista exclusiva

CORUJA BC1 E O SEU BRASIL FUTURISTA

Sempre certeiro em seus lançamentos e suas rimas, o rapper Coruja BC1 está de volta com o seu novo álbum “Brasil Futurista”, projeto que conta com 13 faixas e as participações de Margareth Menezes, RDD, Jair Oliveira, Lúcio Maia, Jonathan Ferr, Anchietx, Ed City, Larissa Luz e Lino Crizz

O álbum que chega para suceder Psicodelic (2019) , foi gravado com a intenção de reapresentar a diversidade musical nacional dentro do universo da música urbana, sobretudo do rap, com discurso que denuncia o abandono cotidiano do povo preto, pobre e periférico pelos poderes públicos.

Conversamos em uma entrevista exclusiva sobre os bastidores do álbum, participações e criação do projeto.

Leia tudo que o Coruja BC1 tem a dizer.

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Foto: Pedro Sanaa | Stylist: Van Nobre

Primeiramente obrigado por conversar com a Rapgol Magazine, e logo de cara vamos falar sobre a capa e contra capa icônicas deste disco. Elas chegam carregadas de mensagens.  Esta é a ideia, chegar com o pé na porta?  Conte-nos um pouco mais sobre a arte.

Antes de mais nada satisfação irmão! Esse disco sintetiza o momento sócio político brasileiro, a capa vem pra mostrar que a gente não tá moscando e estamos vendo tudo o que está acontecendo, desde essa direita comanda pela burguesia e aventureiros políticos falsos moralistas, que vem destruindo nosso país e trazendo a desinformação, até parte da classe média que se diz aliada na luta social mais muitas vezes atrapalha o real ativismo , e vê em nossa luta uma chance um marketing pra promover suas negociações e acaba atrapalhando e silenciando ainda mais a luta de nosso povo.

E no centro o povo que nem eu, trabalhador de quebrada, pobre, preto e periférico que sente esse abandono muitas vezes ambidestro, e mesmo assim continua na luta.

A contra capa é eu mostrando que sei quem é o principal inimigo e evidenciando que não perdi a direção nem as minhas convicções políticas, pra que não haja distorções e nem ruídos ao abrir esse debate.

A faixa de abertura intitulada “O Piano” tem uma narrativa forte e conta participações de peso. Como foi a idealização deste som?

 Um dia, entre minhas rezas de segunda feira, me veio essa música na minha mente. Em lágrimas nascia a primeira canção do álbum, que era uma visita ao passado cruel deste país construído em cima de dor, sangue e morte de negros e nativos dessa terra onde hoje estamos.

Ao terminar de compor comecei a olhar as semelhanças dos erros do passado, e quanto a periferia ainda continua marginalizada e explorada, como se a escravidão não tive nunca sido abolida, apenas reiventada para modernidade. Comecei a olhar as figuras dessa história musical e comecei a enxergar como essas correntes e prisões estão em nosso tempo.

A Casa Grande representa O Poder, que por sua vez desde de o período escravocrata sempre esteve na mão da burguesia. A Criança representa a esperança que habita em cada um de nós, que viemos da periferia com todos os motivos para desistir e ainda sim nos mantemos sonhadores e esperançosos.

A última frase da primeira estrofe “Pois pra vida dos patrões ser doce, a nossa no canavial teve que amargar” nos trás a reflexão sobre os tempos atuais, a ganância e a soberba de uma elite que eu chamo de elite Maria Antonieta, que esbanja o fútil enquanto a maioria da população passa dificuldade para manter o mínimo do mínimo.

O Piano é uma representação ao conhecimento e ao acesso, que a burguesia não quer que a periferia tenha, um exemplo é o acesso às Universidades. “Alguém que parecia muito comigo” nesse trecho falo sobre as armadilhas dos inimigos que precisa ser destruída no nosso imaginário, a inveja é inimiga de qualquer processo evolutivo, seja em grupo ou em nossas individualidades, dividir para conquistar sempre foi a estratégia do opressor, nos proteger e fortalecer é sem dúvida uma das armas mais fortes que podemos usar nessa guerra, afinal “se é nós contra nós, nós que morre primeiro”.

Na Próxima Vida, já que essa música é uma visita ao passado, e estamos no presente, o tempo de lutar e conquistarmos o que é nosso de direito é o agora, pra que o futuro do Brasil não seja um eterno loop temporal a um passado sombrio do qual não queremos visitar jamais.

Sobre a parte musical,Inspirado em Espelho de João Nogueira , ref que passei a Theo e que me inspiro melodicamente, Theo Zagrae botou sua mão genial na produção, e trouxe Douglas Bastos pra somar com a gente nos arranjos de corda, e também trouxemos o genial Jonathan Ferr que abrilhanto ainda mais a canção com todo seu talento e axé, e a rainha Margareth Menezes que junto ao coral (Kesia, Kalebe, e Luciane Dom) completou toda a musicalidade e sensibilidade que essa faixa merecia.

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Foto: Pedro Sanaa | Stylist: Van Nobre

 Brasil Futurista (álbum) chegou com uma swingueira, as faixas contam com muitos metais e elementos que transitam por toda a musicalidade brasileira.  Como foi a construção deste projeto?

 Como qualquer tipo de relacionamento, o relacionamento entre o cantor e o produtor tem que ser de extrema confiança, esse fator é de terminante para o êxito de qualquer projeto.

Partindo disso e de um processo de extremo capricho, passei o que queria ao Theo Zagrae confiando em sua musicalidade e diversidade rítmica, e assim começamos a criar os caminho sonoros do disco, Theo me disse “tenho o time pra isso” e eu confiei 100% nele, que trouxe o grande Diogo Gomes que fez todas os arranjos de metais do projeto, e executou junto do grande Marlon Sette.

Douglas Bastos nos ajudou a criar os arranjos de cordas de algumas faixas importantes como O Piano, Brasil Futurista, Bolhas (ao lado dos arranjos de cavaquinho do mestre Salgadinho) e Ao Desamor. Pedro Amparo e André Siqueira cuidaram de toda parte de percussão, e RDD trouxe todo swing dos grooves arrastados na faixa Dendê.

Vale destacar a genialidade musical do Theo, e o quanto de amor,dedicação e vontade foi colocado nesse processo de criação por todos. Um processo extremamente prazeroso de executar!

 

O álbum surgiu em um período conturbado de pandemia, crise financeira no Brasil e muitos outros problemas.  Gostaria que você falasse sobre as dificuldades encontradas durante as gravações.

 É um milagre estarmos lançando esse disco como ele está, digo isso com tranquilidade. A maioria dos artistas têm grande investimento nos lançamentos o que infelizmente não foi o nosso caso, tento não pensar tanto nisso, penso que a música brasileira merece um álbum feito com amor e que prioriza a arte em primeiro plano, e nisso me sinto tranquilo pois foi entregue. Apesar das extremas dificuldades financeiras e quase 2 anos sem show , tenho que me manter firme.

Ser certeiro nas rimas já virou uma marca registrada sua há muitos anos e neste álbum você se manteve muito bem. Como foi o  processo de composição das faixas?

 Acho que o maior desafio do compositor é se reinventar, não ficar refém de vícios de escrita ou estéticas pré estabelecidas. Por isso considero esse meu melhor álbum, eu estou totalmente voltado a entrega da arte, jogando fora da minha zona de conforto, longe do hype e por incrível que parece a fase onde eu descobri e desenvolvi mais ainda meu potencial e musicalidade.


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 “Tarot” é o primeiro single do disco e falar de amor é quase uma marca registrada em seus álbuns.  Ao escutar observamos linhas sobre erros e acertos. Fale um pouco mais sobre este som. O amor salva?

 Quando correspondido sem dúvida, e nem falo só da afetividade em questão de relacionamentos amorosos,mas de convívio também. Falar sobre erros é muito necessário, todo mundo quer ser o fodao e perfeitao na frente das câmeras e nas redes, mas acho isso que isso vai minando o que é real, moro ?

Criando ilusões, e o primeiro passo pra trabalhar e melhoras pontos negativos em nós é reconhecê-los. Eu me entrego de corpo e alma, sou profundo no que digo e vivo,quero que se foda quem quer parecer certinho, eu sou ser humano, meus erros e acertos me fazem humano, já a falsa ilusão de perfeição nós desumaniza, assim como nosso ego quando perdemos o senso.

 Em 2019 você lançou o seu disco Psicodelic , projeto bem elaborado, mas que foi impactado diretamente com a falta de shows em 2020.  Como foi para você  conseguir trabalhar a ansiedade e incertezas antes das gravações do Brasil Futurista ?

Brasil Futurista me salvou, fiquei sem fazer show, consequentemente sem publicidade, até por que esse espaço foi tomado por artistas maiores que também ficaram sem shows. Deu um puta nó na minha mente na questão financeira, sem grana, pois eu sou o cara dos shows, e uma grande abalada na auto estima.

A mango lab ter chegado junto numa sociedade, e acreditado no projeto, realmente me salvo artisticamente e espiritualmente, pois não consigo viver sem música,talvez teria parado de fazer música por força maior, ou algo pior.

As 13 faixas foram assinadas pelo  Théo Zagrae , fale um pouco sobre a importância e como surgiu a parceria?

A minha amiga Kesia grande cantora foi quem me apresentou, tanto o Theo Zagrae quanto a Mango Lab. Minha paixão pela musicalidade é genialidade do teu foi a primeira vista, em nossa primeira sessão sentimos que tínhamos uma puta sintonia pra trabalhar juntos, e além de parceiros de trabalho viramos grandes irmãos nesse processo.

Theo é um gênio me sinto honrado de trabalhar com ele, ele torna o processo criativo muito mais prazeroso e leve de se fazer pela personalidade e amor dele a arte, além de sua generosidade e humildade. Gosto de gente assim que prioriza a arte, despido de ego.

As participações deste disco elevaram ainda mais o nível do projeto. Temos desde Margareth Menezes, passando por Lino Krizz, Jair Oliveira e outros. Como foi a escolha de quem estaria no álbum?

 Eu, Theo e Mango e Juliano Big Boss, fizemos uma curadoria pra escolher os feats, eu queria que fosse um encontro de gerações e imprimisse Brasil, e também usei o termo não ter artistas que já colaborei nesse disco, queria só colaboração inédita nele.

Todos os artistas ali são pessoas que eu amo extremamente e sou muito fã. Margareth Menezes e Larissa Luz são duas gerações que imprimem a força e realeza das mulheres. Ed City e RDD duas gerações dos groove arrastado de Salvador, Lino Krizz e Anchietx duas gerações do R&B, Eu e Salgadinho o encontro do Rap e do Pagode que são gêneros de periferia, ainda usando um House Samba, dois ritmos que imprimem o poder da música negra, Lúcio Maia gênio, Nação Zumbi é a minha banda de rock preferida, inovadores em todos os sentidos, Jair Oliveira um dos grande de nossa música alguém que admiro muito.


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Lendo a ficha técnica do projeto todo, encontrei nomes como Van Nobre, Jef Delgado e em especial do Juliano Big Boss.   Juliano foi um dos meus primeiros amigos dentro do mundo jornalístico do Rap e meu sócio durante muitos anos no Rapevolusom.com.br.  Como é para você estar trabalhando com uma enciclopédia do rap mundial?

 Juliano é meu irmão mais velho, meu mentor, braço direito. Acho que todo mundo precisa de alguém assim, pra ter direção não caminho moro ? Geralmente os caras ficam famosos e se cercam de baba ovo, por isso que a qualidade da música cai sempre, eu já penso ao contrário gosto dos meus irmãos sinceros e leais pois quero sempre evoluir junto com meu time. Jef sou fã é um irmão que vem do sofrimento como eu, Van uma parceira de longa data, enfim pessoas que gosto e admiro, e a cima de tidos grandes profissionais!

“Brasil Futurista” é das ruas para as ruas, quais as suas expectativas para os próximos meses agora que o Brasil vem alcançando um dos maiores índices de vacinados no mundo?

O álbum é só uma apostila, a formatura de todo álbum é a turnê, estou ansioso pelos shows, quero rodar o Brasil e o mundo com esse disco.

Vamos trocar uma ideia sobre futebol. Você curte ou tem algum time  do coração?

 Torço pelo Corinthians por que o Corinthians é a sua torcida foi quem fechou comigo quando voltei morar em São Paulo. Então é o time que torço e fecho!

Quais as suas expectativas para a Copa do Mundo em 2022?

Baixas, sinto o Tite já dominado por vícios da CBF, ou refém. Mas como brasileiro a gente sempre fica na torcida né ?

Para finalizarmos gostaria que você deixasse uma mensagem para os leitores da nossa revista.

So gratidão a cada um de vocês que vem escutando e acompanhando a nossa caminhada. Amor e respeito sempre ❤️✊🏽🍃

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Criaa da Zona Oeste do RJ.
Comunicador, fotógrafo, colecionador de camisas de times e camisa 8 no time da pelada.
Trabalhando com notícias e informações desde 2002.

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