De Volta ao Corre: Os Sons de Curitiba Que Chegaram Até Mim

De Volta ao Corre: Os Sons de Curitiba Que Chegaram Até Mim

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A cena de rap de Curitiba nunca parou, e segue se renovando, criando, se reinventando. Quem acompanha sabe que, antigamente, era comum esperar meses por um clipe ou por uma música nova. Tudo era mais escasso, e por isso mesmo, mais fácil de acompanhar com profundidade.

Nos últimos tempos, com a correria do dia a dia, a falta de releases no e-mail e, pra ser sincero, até a falta de vontade de sentar e escrever, acabei deixando passar muita coisa. Muita mesmo. Mas recentemente, escutei alguns sons e assisti a alguns clipes que me chamaram atenção, e senti que era hora de voltar a escrever e divulgar um pouco do que está sendo feito por aqui.

Vale dizer: não consegui ouvir tudo da cena de Curitiba. Com certeza tem muita gente boa lançando coisa de peso e que ainda não passou pelo meu radar. Por isso, fica aqui o convite, mandem seus lançamentos, releases e links pro e-mail joao@rapgol.com.br. É uma honra divulgar vocês por aqui, como sempre foi.

Abaixo, deixo alguns parágrafos sobre os artistas e seus respectivos trampos. Confira o trampo, compartilham a página, ajuda a gente chegar em mais gente 🙂

Bface já é figura conhecida por aqui e também nos fones de quem acompanha de perto a cena de Curitiba. Artista completo, é daqueles que a gente aprende só de observar. Com uma caminhada marcada por consistência e sensibilidade, ele entrega em cada clipe uma verdadeira viagem no tempo, e com “Perdido no Tempo”, não é diferente.

A faixa faz parte do EP “Paciência” e chega agora com um clipe que é uma cápsula de memórias: uma narrativa visual que mistura passado, presente e sensação de repetição, como se as vivências de anos estivessem sendo revividas num único dia chuvoso. O clima introspectivo e denso cria o cenário perfeito para que as ideias mesmo desconexas se encontrem e escorram naturalmente sobre o beat.

A direção e câmera são assinadas por Malik (@malikfotografia), enquanto a direção de fotografia e styling ficam a cargo de Luciana Tavares (@soulutavares), que ajuda a construir a atmosfera visual delicada e potente do clipe. O próprio Bface assina o roteiro, montagem e parte da edição, reforçando seu envolvimento profundo em todos os processos criativos. A edição também contou com Matheus Moura (@matheusmouraator), e a pós-produção ficou por conta de Rodrigo Doze (@rodrigoev12). Nos bastidores, Kamylle Tavares (@akataress) acompanhou tudo de perto, cuidando da assistência de produção e making of.

“Perdido no Tempo” é mais do que um clipe, é um mergulho emocional, estético e sonoro, fiel à identidade de Bface. Um artista que segue sua jornada com leveza, verdade e uma fluidez rara. Se a vida é feita de momentos, Bface segue eternizando os seus em forma de arte.

Nome já conhecido entre quem acompanha de perto a cena, Nek ou Nektrash, como assina artisticamente é daqueles artistas que a gente ouve uma vez e não esquece. Com um estilo único, voz marcante e letras intensas, ele vem construindo uma trajetória sólida em Curitiba, sempre entregando autenticidade e profundidade em cada lançamento.

Depois de lançar um EP de três faixas (já noticiado por aqui), o rapper voltou com um novo trampo audiovisual que merece atenção: “Canivete”, lançado há cerca de três semanas. A música é resultado de uma colaboração afiada entre Nek, Skrabeats e BAKE, que assinam a composição, enquanto a produção musical ficou por conta de Skrabeats e Letrô — que também cuidou da mixagem e masterização.

Canivete” é mais do que um som: é estética, conceito e sentimento. A direção, edição e finalização do clipe foram feitas por Dvander, que trouxe uma linguagem visual que complementa perfeitamente o clima da música. A fotografia still ficou a cargo de Gloria Yole, com imagens que traduzem bem a atmosfera introspectiva e intensa da obra.

Com distribuição da RS Music, o lançamento reforça o nome de Nek como um dos artistas mais promissores da nova geração do rap. Ele não apenas entrega bons sons, ele cria experiências. E “Canivete” é mais uma prova disso.

O segundo da lista é o meu mano mano Rel Firma Zika, uma das pessoas mais HIPHOP que eu conheci na minha vida aqui em Curitiba. Rel é workholic, as vezes lança até 2 sons por mês e infelizmente não consigo acompanhar de perto, mas vale o salve e o lançamento de “Pixar É Humano“, com o mano Jamal.

Pixar É Humano é o novo videoclipe que une duas potências criativas do Brasil: Paraná e São Paulo. A produção marca uma conexão firme entre as marcas É HUMANO e Mania de Pixar, resultando em uma obra que transborda identidade, rua e autenticidade. Com rimas pesadas de Jamal e do Rel, o som carrega a energia crua das quebradas e a força da palavra. O visual do clipe ganha ainda mais impacto com a participação especial dos grafiteiros Jacaré e Chiarotti, que assinam intervenções visuais marcantes.

Para complementar a estética e a narrativa, o artista visual Gards cedeu imagens exclusivas que enriquecem ainda mais o projeto. Toda a produção foi conduzida pela Bueiro Entretenimento, que mais uma vez entrega um trabalho consistente, direto dos bueiros mais sujos da Zona Norte.

Pixar É Humano é mais do que um clipe, é uma obra coletiva, feita por quem vive e respira a cultura de rua.

O terceiro da lista é meu mano Dow Raiz com o Rodrigo Ogi, duas lendas do rap brasileiro que colaboraram em um clipe lindo. Os dois se unem em um trabalho audiovisual de peso que mistura lirismo, estética e uma produção cuidadosamente elaborada. O videoclipe, filmado no icônico restaurante japonês OIDE, em Curitiba, conhecido por sua sofisticação e atmosfera única, entrega uma narrativa intensa e visualmente marcante.

A faixa “Ramelão”, de Dow Raiz e Rodrigo Ogi, é um retrato bem-humorado e crítico daquele personagem típico das festas: o vacilão que passa dos limites. Com rimas afiadas e cheias de ironia, a música narra as atitudes do sujeito que exagera na bebida, derruba copos nos outros, tenta roubar um gole alheio e acaba virando piada da noite. Com beats envolventes e uma narrativa afiada, “Ramelão” é uma crônica urbana sobre os excessos e os personagens que todo rolê conhece ou já foi.

Com instrumental assinado por Eduardo Mangueman, a faixa ganha corpo e profundidade com os teclados de Jean da Rosa e os metais de Audryn Souza, criando uma ambientação sonora rica e envolvente. A produção não se limita apenas à música: é um verdadeiro encontro de talentos também por trás das câmeras. A arte visual é assinada por Arthur Reis, enquanto a direção, roteiro e edição levam a assinatura precisa de Estrela, que também comanda a produção executiva do projeto. A fotografia e as imagens ganharam força com a assistência e operação de câmera de Giulio Miranda, além do still captado por Lucas Costa.

A produção de locação foi realizada por Karla Keiko e Will, com apoio na assistência de produção por Chico Han. O elenco principal conta com Gabriel Morais, além dos próprios Ogi e Dow Raiz, reforçando a presença artística no núcleo da obra. O clipe conta ainda com o apoio das marcas OUS e OIDE, que somam forças para promover a arte urbana com elegância e respeito à cultura de rua.

Dow Raiz e Rodrigo Ogi entregam, mais uma vez, não só rimas afiadas, mas também um olhar artístico que eleva o nível das produções no rap brasileiro.

A quarta perssoa da lista é a AMAIZ, A rapper AMAIZ chega com força em seu mais novo lançamento, “Ego de Rapper”, um som direto, afiado e necessário, que joga luz sobre as vaidades e ilusões dentro da cena. Com letra escrita e interpretada por ela mesma, a track é um recado claro: consciência, talento e atitude ainda são a base do verdadeiro rap.

Representando a Zona Sul de Curitiba, AMAIZ não veio sozinha, ela reuniu um time de peso para dar corpo ao projeto. O beat vem assinado por Cassol, entregando uma base firme e envolvente que sustenta as rimas afiadas da artista.

O clipe, com roteiro e direção de Paula Koseki (@paulakoseki), traz uma estética urbana marcante, com captação e edição de imagem que acompanham o ritmo intenso da música. A produção audiovisual reflete o cuidado em cada detalhe, mostrando que AMAIZ está trilhando seu caminho com identidade e profissionalismo.

O trabalho ainda contou com a participação e apoio de nomes como @menord_zs, @maloquerozs, @mtlmatheuss, @_nevesnow, @kamaike.1, @gabriel.boorba e @brasileiroforreal, fortalecendo a ideia de que o rap é coletivo, é vivência, é rua.

“Ego de Rapper” é mais uma prova de que a nova geração da cena curitibana vem forte, com voz ativa, mensagem e muito flow.

A nova geração do rap de Curitiba está chegando com fome, atitude e muito conteúdo. Um dos nomes que vem se destacando é Cassol, também conhecido como @cvssxl, um artista que faz muito e fala pouco, deixando que seu som fale por ele. E em “Inocente”, seu mais novo trabalho, ele prova isso com autoridade.

Produzido, mixado e masterizado pelo próprio Cassol, o som traz um beat cabuloso e original, que serve de base para rimas afiadas em inglês e versos sinceros. Com uma lírica carregada de punchlines e metáforas, “Inocente” é daqueles sons que não passam batido, é entrega, técnica e autenticidade na medida.

O audiovisual ficou por conta de @dvander_ e @sete_co, que traduziram a força da faixa em imagens impactantes, enquanto a fotografia é assinada por @blockbyvvz, completando a estética visual do projeto com estilo e identidade.

Cassol mostra que está pronto pro jogo e, mais do que isso, que tem algo a dizer, com conteúdo, caráter e uma postura que reflete seu compromisso com o rap de verdade.

Próximo da lista é o Diaká, voz da quebrada, da juventude periférica e do rap feito com alma. Mais do que um nome em ascensão, é um artista que já se firma como referência na cena curitibana e além. Sua voz melódica combina perfeitamente com suas rimas, criando um estilo único e envolvente. É um dos meus artistas favoritos e também um dos que mais me tratou com respeito nesses anos de corre, sempre me chamando no privado para saber minha opinião sobre o som, de uma forma nada abusiva ou chata.

As músicas de Diaká abordam temas como autoestima, questões sociais e a realidade da quebrada, sempre com autenticidade, sensibilidade e uma versatilidade que impressiona. Artista completo, ele faz parte da nova geração que não espera por oportunidades, cria as suas próprias. Trabalhando de forma independente, Diaká grava, produz, mixa, dirige seus próprios clipes e ainda cuida da gestão da própria carreira. Mesmo com poucos recursos, ele encontra caminhos para levar sua arte adiante, do seu jeito e com a sua verdade.

No episódio mais recente do projeto 1.1.1, quem assume o microfone é Diaká, com a inédita “Homem de Pedra”. Representando a Vila Saquarema, periferia da Zona Sul de Curitiba, o MC entrega uma performance intensa e sincera, com rimas que falam de resistência, dor e firmeza emocional. Em apenas um take, Diaká transforma o microfone em confessionário, mantendo sua essência melódica e sua lírica afiada.

A produção conta com beat de soundsbysammy, mixagem e masterização de Gean Avila (@gean.avila), direção de fotografia de Fernanda Bittencourt (@fbittencourtfotografia) e realização da ZFO Produções (@zfo_prod), um time que ajuda a traduzir, em som e imagem, a força de uma das vozes mais autênticas da nova cena curitibana.

Em um dos episódios mais revoltantes contra a cultura de rua em Curitiba, a virada de ano de 2024 foi marcada por abuso de autoridade: a polícia invadiu uma festa na casa, confiscando mais de R$10 mil em equipamentos da DJ Spena e do artista 2L, numa clara tentativa de silenciar manifestações culturais periféricas. Mas, como sempre, o rap reagiu e respondeu da única forma que sabe: com música de verdade.

Nasce assim “ZS Minha Área”, uma faixa poderosa, onde Pecaos, Diaká e Menor’D unem forças em um som que é denúncia, resistência e arte. Com rimas afiadas e carregadas de indignação, os três MCs transformam a injustiça sofrida por seus irmãos em um hino da Zona Sul, que não se cala diante da repressão do Estado.

O beat cabuloso, produzido por Bêrabeats, traz o peso e a tensão necessárias para sustentar versos que expõem a realidade de quem faz cultura com pouco recurso e muita vontade e que ainda assim é perseguido. A mixagem e masterização também ficaram por conta de Bêrabeats, garantindo um som limpo, forte e direto, vale a pena ver o que o “rapsmtoespecificos” falou sobre essa obra.

A produção visual vem com assinatura de respeito: direção executiva de Jairo Andrade, direção, edição e finalização de Dvander, e fotografia still de Gloria Yole. A equipe ainda contou com Amanda Alice e Renan Handal na produção, e a distribuição foi feita pela Bagua Records, fortalecendo a mensagem e ampliando o alcance da obra.

ZS Minha Área” é mais do que uma música, é um ato político, um grito de quem não aceita o silenciamento e transforma dor em arte. Como diz a própria faixa, o rap denuncia, e a gente cura com som. E que som.

Essa semana, a cena do rap de Curitiba perdeu um dos seus nomes mais marcantes: Medo MC, um verdadeiro monstro do freestyle, conhecido e respeitado não só nas batalhas da capital, mas também em Colombo, cidade da Região Metropolitana onde nasceu e fez história.

Medo era daqueles que realmente faziam jus ao nome, dava medo nos adversários com rimas afiadas, presença de palco e uma confiança que só os grandes têm. Presença constante nas rodas de rima e nas batalhas de MCs, ele era uma referência para a nova geração e inspiração para quem vive o improviso como forma de arte e resistência.

Sua partida deixa um vazio nas batalhas, nas ruas, nas praças e nos palcos. Mas seu legado segue vivo em cada rima lançada no improviso, em cada verso cuspido com alma, e em cada jovem MC que teve nele um espelho.

R.I.P Medo MC, sua voz ainda ecoa nos becos de Curitiba e nas rodas de rima de todo o Paraná. Obrigado por tudo que representou.