Marcus foi um grande colaborador no Rapevolusom e até hoje é um do meus melhore amigos. Ao lado do Ribah e Charle estamos diariamente em contato através de um grupo e este isto se mantém há muitos e muito anos.
Sempre antenado em tudo que acontece na cena, ele pediu um espaço para escrever sobre o álbum Donda, confira:
Bom, já faz um tempo, uns sete anos, talvez, quem sabe, ninguém tá contando. Os garotos do Bruno Inácio, a.k.a BDog, a.k.a O Chefe, a.k.a Criaa (maluco tem mais pseudônimo que o Jay-Z) cresceram, e eventualmente voaram em propósitos diferentes. Mas o espirito nunca morreu, a gente se fala todo dia, talvez mais que naquela época.
Paralelo a isso, nossos artistas favoritos também envelheceram, sem perder o posto de favoritos. Caso do próprio Jay citado acima, quantas vezes já nos pegamos falando: “Caramba, Jay precisa de uns sons”, instantes depois caímos na real: “Não, não precisa mais, a gente que quer”. Ou então: “Olha o Nas, Grammy depois de tantos anos”.
Falamos sobre as mudanças dos tempos, a velocidade das coisas, mas se tem uma coisa que ainda é veredito entre nós é: TODO REVIEW IMEDIATO É UMA M****. Sentimos muito, a verdade dói.
E um disco tão pessoal como Donda, precisava ser digerido, ouvido prestando atenção, ouvido sem atenção enquanto se faz outra coisa, tipo trabalhar, lavar uma louça, cuidar dos filhos (avisei que crescemos lá no inicio do texto né). Discos funcionam assim, então sempre que você ver no outro dia do lançamento um “Ouvimos o disco e está aqui nosso Review” faça como disse o próprio Kanye: “Runaway fast as you can”.
Estávamos falando do quê mesmo? Ah sim, o disco do Kanye. Impossível falar de Donda sem pinçar coisas de outros álbuns do Kanye, pois se tem um cara no Rap que reflete sua vida em suas obras, esse é o menino Ye. O relacionamento explosivo com Amber Rose, nos deu ‘My Dark Twisted Fantasy’, da vida com Kim, ‘Life of Pablo’, quando começou a desandar, ‘Ye’. Em ‘Jesus is King’ Kanye já estava na turbulência da vida das celebridades outra vez, então voltou lá no inicio da carreira, e montou um álbum louvor. Quem ai se lembra de ‘Jesus Walks’? Kanye precisava disso, uma pegada diferente, uma sonoridade diferente.
Então veio o divorcio, mais polemica, mesmo se tornando bilionário e mente criativa de uma das marcas mais hypadas da atualidade, Kanye tinha que voltar pra segurança, pra piso firme, e onde foi buscar isso? Na mãe como todo mundo faz. Entendeu agora o significado do colete a prova de balas escrito Donda? E Donda é isso, um álbum sobre família, sobre portos seguros.
Tivemos Kim, a ex-esposa nos eventos de lançamento com os filhos dele. Jay-Z, o irmãozão, logo nas faixas do inicio, em ‘Jail’ mandando: “Donda, estamos com seu bebê, sem mais bonés vermelhos, estamos voltando pra casa”. Pontuando esses momentos no disco, em ‘No child Left Behind’ a intro é “Quando tive as costas na parede, nunca chamei vocês, nunca contei com vocês, sempre contei com Deus. Ele tem feito milagres em mim”.
‘Praise God’ começa com um discurso da própria Donda: “Mesmo que você não esteja preparado para o dia, não pode ser noite pra sempre”. ‘Keep my Spirit Alive’ com os caras da Griselda, um dos meus sons favoritos no disco, Kanye crava sobre sua relação com a mãe na juventude: “Quem era a tropa? Donda – Quem era a mãe? Donda”. Em ‘Jesus Lord’, com Jay Elec, outra vez temos Kanye falando sobre perder seu porto seguro: “Mãe você era a vida da festa, eu juro, você deu vida à festa e quando você se foi, eu enfrentei a vida fora da festa”. Nessa mesma faixa temos um discurso de Larry Hoover Jr., onde ele agradece Kanye por dar visibilidade a luta da família de Larry Hoover Sr., pela libertação do mesmo. É um discurso pesado e cheio de sentimentos, do filho do ex-chefão da Gangster Disciples.
Caminhando pro fim do disco, Kanye trouxe pra ‘Jail pt. 2’, o rapper DaBaby e o Rockeiro Marilyn Manson, ambos envolvidos em polemicas nos últimos meses. Três caras com problemas com a justiça, num refrão que diz “Quem vai pra cadeia essa noite?”. Não se esqueçam, estamos falando de Kanye West, polemica é o nome do meio dele.
Enfim, foi assim que eu vi e ouvi Donda, um álbum sobre família, não importando a definição que você tenha disso. Kanye deve ter ouvido aquela do Emicida: “Quando os caminhos se confundem é necessário voltar ao começo” ou aquela do Caetano e os filhos: “Todo homem precisa de uma mãe”. Talvez as duas.
E você, não precisa por o nome da sua num colete a prova de balas, mas faz pelo menos uma visita, ou uma chamada de video, afinal ainda estamos numa pandemia. Para de ler Review na Internet e vai curtir o off-line com a família.
Paz!