Das ruas para a revISTHA e de vez em quando na Globo, confira o bate o papo exclusivo com a Thaís Fogaça
A Thaís ou melhor, Istha, é uma menina cheia de talentos e correria, conheci o trabalho dela quando eu ainda era adolescente e estava começando a me apaixonar pela cultura de rua e o hip-hop.
A Istha era dona de uma revista digital chamada Revistha, onde disponibilizava digitalmente fotos dos rolês dela e de todo um pessoal do pixo curitibano, ela não sabe, mas minha admiração por ela e esse rolê todo, fez eu fazer isso anos depois, tirando fotos de amigos, das ruas e do corre de vários manos que sempre teve minha admiração, mesmo sem conhecê-los.
Hoje a Thais é uma das vozes do coletivo 100 Horas Girls, um coletivo feminino de grafiteiras que estão no corre dia a dia entre a arte, as ruas e o trabalho e peso de ser mulher no mundo. O coletivo tem tanta credibilidade e respeito, que recentemente as meninas aparecerem na Rede Globo em pleno horário do almoço, um dos horários com maior audiência do canal do plim plim.
Venha conferir essa entrevista sobre começo da Istha na pixação, Graffiti, fotografia e os projetos que participa.
RapGol Magazine: Salve Istha, obrigado por conversar conosco, tudo certo?
Istha: Salve RapGol! Obrigada pelo convite, satisfação total!
RapGol Magazine: Aqui a gente sempre prefere iniciar a conversa com o início de tudo… você sempre gostou de desenhar?
Istha: Sim, desde muito nova, sempre tive uma inclinação para o desenho. Eu adorava rabiscar, escrever meu nome em todos os lugares, seja em casa, na rua, no ônibus ou na escola. Era algo que fazia de forma natural, sem pensar, simplesmente por puro prazer. Acredito que desde pequena eu já tinha um encantamento pela tipografia, mas foi somente mais tarde que fui entender o real significado e desenvolver meu lado artístico.
RapGol Magazine: Como era a Thaís na escola?
Istha: Na escola, eu sempre fui muito estudiosa e dedicada. Gostava de aprender e tinha um interesse genuíno em adquirir conhecimento, minha mãe é professora e sempre me inspirou muito. Claro que havia aulas mais chatas, mas, no geral, eu adorava aprender algo novo. Sempre fui uma pessoa curiosa, em busca de novas informações e experiências. A escola era um ambiente em que eu me sentia motivada a expandir meus horizontes e explorar diferentes áreas do conhecimento.
RapGol Magazine: Pixação, graffiti, muitos tratam como rebeldia, por mais que seja arte pura. Você enxerga esse mundo de qual maneira?
Istha: Entendo que a associação dessas formas de expressão, como a pixação e o graffiti, com a rebeldia pode ocorrer devido ao contexto em que surgem. A adolescência é uma fase em que buscamos identidade e questionamos as normas estabelecidas, e essas formas de arte podem ser vistas como uma manifestação desse espírito rebelde.
No entanto, na minha visão, o mundo do graffiti vai além disso. Para mim, quando comecei, significava liberdade. Sentia-me dona do meu próprio mundo, forte e capaz de fazer o que eu queria, sem precisar pedir permissão a ninguém. Era uma forma de expressão que fazia para mim mesma, uma maneira de me afirmar e deixar minha marca no mundo.
Acredito que, com o tempo, o graffiti tem sido cada vez mais reconhecido como uma forma legítima de arte, que pode transformar espaços e transmitir mensagens poderosas. A rebeldia pode ter sido uma motivação inicial, mas o graffiti se torna uma forma de expressão criativa e autêntica, capaz de promover a inclusão, dar voz a diferentes comunidades e inspirar outras pessoas.
RapGol Magazine: Você foi uma adolescente rebelde?
Istha: Sim, eu diria que fui uma adolescente rebelde em certa medida (risos). Acredito que a adolescência é um período em que construímos nossa identidade e, muitas vezes, queremos nos opor às leis, para fazer valer nossos pontos de vista e opiniões. No entanto, mesmo na minha rebeldia, sempre tive bom senso em relação à vida. Sabia distinguir o certo do errado e isso me ajudou a não me perder.
RapGol Magazine: Hoje você é formada em design, você já sabia o que queria ser desde criança?
Istha: Na verdade, quando criança, eu era muito fascinada pela tecnologia. Durante o ensino médio, fiz um curso técnico em informática, e esse mundo me encantava. Havia uma boa perspectiva nessa área, então eu me via seguindo esse caminho. No entanto, quando chegou a hora de decidir qual carreira seguir logo após o ensino médio, experimentei diferentes opções. Tentei turismo, engenharia da computação… (risos). Mas então, consegui uma bolsa em um curso chamado “Produção Multimídia”. Esse curso abrangia diversas vertentes, como fotografia, vídeo e web design. Foi uma experiência muito enriquecedora e me permitiu explorar várias áreas. Acredito que fiz a escolha certa ao seguir a carreira de design, pois isso me permite unir minha paixão pela tecnologia com a expressão artística. Sou grata pela direção profissional que minha vida tomou e estou feliz com o rumo que segui.
RapGol Magazine: Como é respirar arte numa cidade como Curitiba?
Istha: Respirar arte em Curitiba pode ser um desafio em alguns aspectos. Os habitantes em geral nem sempre são receptivos à expressão artística, mas felizmente tenho notado uma melhora gradual. Hoje em dia, o graffiti está na “moda” e tem se tornado mais aceito, saindo dos muros e entrando nos estabelecimentos, como lojas e restaurantes. Isso tem contribuído para mudar a visão das pessoas, que agora tiram fotos e acham legal quando estão em ambientes controlados, mas ainda podem ter uma perspectiva negativa quando se trata de arte de rua. Acredito que ainda há muito espaço para melhorias nesse sentido.
É por isso que eu e minha crew decidimos estudar sobre projetos culturais, como aproveitar as oportunidades oferecidas pelos editais e construir nossa própria história dentro da cultura. Buscamos criar projetos que promovam a inclusão e a valorização da arte urbana, trabalhando para que ela seja cada vez mais reconhecida e apreciada em Curitiba. Mesmo com os desafios, a cidade possui um potencial incrível e acredito no poder transformador da arte para influenciar positivamente a comunidade.
RapGol Magazine: Somos um site que fala sobre rap, mas também adoramos futebol e o esporte em geral. Existe um lado atleta dentro da Istha ou você é daquelas pessoas que prefere sofá e Netflix?
Istha: Sofá e Netflix! (risos). Confesso que não sou muito atleta, mas gosto de me manter ativa de outras maneiras. Eu gosto de andar de bicicleta, isso conta como um lado mais esportivo? (risos) Eu não sou muito de ficar no sofá assistindo Netflix, prefiro explorar atividades ao ar livre, fazer caminhadas, conhecer novos lugares e aproveitar a natureza. Embora eu não seja uma atleta dedicada, valorizo a importância do exercício e de manter um estilo de vida saudável.
RapGol Magazine: Conta para a gente o que é o coletivo 100Horas Girls e quantas pessoas fazem parte?
Istha: O coletivo 100Horas Girls é uma crew que eu e minha amiga Elo, com quem tenho uma longa amizade, criamos juntas em 2014. Nos identificamos muito em termos de ideias e ideais. O graffiti é predominantemente um ambiente masculino, e na época em que começamos, pintar com homens poderia gerar interpretações equivocadas e situações desconfortáveis. Ter uma parceira nesta jornada era ideal para nós. Eu e Elo temos uma conexão forte e uma confiança mútua, e fomos aprendendo e evoluindo juntas, tanto no graffiti quanto no lado pessoal. Participamos de oficinas de projetos culturais e hoje estamos realizando tudo o que um dia sonhamos, sempre agindo com respeito e sem nos comparar com ninguém. Atualmente, somos cinco mulheres na crew.
Além de mim e Elo, temos a Dejota, a Julie e a Tonon. Cada uma delas possui características únicas que agregam ao nosso coletivo. Além disso, cada uma representa uma vertente diferente do graffiti, o que é maravilhoso, pois aprendemos muito umas com as outras. Também colaboramos com outros artistas e amigas que compartilham dos mesmos ideais e desejam contribuir com o nosso coletivo. Acreditamos na força da união e na troca de experiências, buscando sempre fortalecer a presença feminina no mundo do graffiti.
RapGol Magazine: Vocês do coletivo foram parar no horário nobre da Globo de Curitiba, como foi a reação dos familiares?
Istha: Foi realmente uma experiência marcante para mim, pois por muitos anos mantive minha paixão pelo graffiti em segredo em relação à minha família, ao trabalho e outras esferas da minha vida. Minha mãe era a única que sabia, mas não era algo que eu compartilhava abertamente. Então, quando eu apareci na TV fazendo meu graffiti, como parte de um projeto em que estava envolvida, a reação foi extremamente positiva. Recebi muitas mensagens de amigos, parentes e colegas de trabalho elogiando e expressando admiração. Uma colega de trabalho, inclusive, me enviou desenhos feitos pela sua filha, dizendo que ela se sentiu inspirada pelo que viu. Isso é extremamente gratificante. Fiquei muito feliz em aparecer na TV mostrando minha paixão pelo graffiti de uma forma positiva, não como um mau exemplo, o que geralmente acontece (risos). Essa oportunidade foi uma grande conquista para mim, tanto pelo fato de ser um projeto realizado por uma equipe composta apenas por mulheres, como também por mostrar o graffiti em um meio de comunicação de grande alcance. A repercussão e o apoio que recebi mostraram que esse tipo de expressão artística pode tocar as pessoas de maneira positiva e inspiradora. Estou muito orgulhosa desse projeto e de como ele foi recebido.
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RapGol Magazine: Foi devido ao projeto “Somos Cores” né? Conta para a gente um pouquinho dele.
Istha: Com certeza! A “Somos Cores” na verdade é uma produtora cultural que foi criada pela minha amiga Elo. Ela desempenha um papel fundamental em nossos projetos, pois muitas vezes é necessário ter um CNPJ e outros recursos para torná-los realidade. Através da “Somos Cores“, buscamos promover a diversidade cultural e dar oportunidades a artistas e talentos locais que muitas vezes são negligenciados pela indústria tradicional. Nosso objetivo é descentralizar a cultura e proporcionar um espaço para aqueles que, assim como nós, também têm muito a contribuir.
Nós idealizamos projetos diversos, abrangendo diferentes expressões artísticas, e nos inscrevemos em editais para obter apoio financeiro. Felizmente, graças ao apoio de patrocinadores importantes, já conseguimos executar alguns desses projetos. Através dessas iniciativas, buscamos amplificar vozes e promover a inclusão, valorizando a pluralidade e as diversas manifestações culturais presentes em nossa comunidade.
RapGol Magazine: Gosto de sempre pedir indicações das pessoas que eu entrevisto, tem algum livro, filme, que você curte muito e quer compartilhar conosco?
Istha: Com certeza! Gostaria de indicar o filme “Urubus“, uma obra recente que aborda a relação entre a pichação e o mundo da arte, destacando como um grupo de jovens pichadores de periferia se torna protagonista de um debate cultural polêmico. O filme explora a transformação desses jovens invisíveis em figuras importantes nesse contexto, trazendo à tona questões relevantes sobre identidade, expressão artística e o papel da arte urbana na sociedade. É uma obra que pode abrir novas perspectivas e gerar reflexões interessantes sobre o tema.
Quanto ao livro, sugiro “O Sol é Para Todos” de Harper Lee. É um clássico da literatura que aborda questões importantes sobre preconceito, injustiça e empatia, tudo isso através dos olhos de uma criança. É uma leitura poderosa e inspiradora.
RapGol Magazine: A arte urbana cresce cada vez mais e a cada minuto surge gente nova, você acompanha a cena como um todo? Cite 3 pessoas pra gente ficar de olho.
Istha: Com certeza, acompanho a cena da arte urbana de perto e é incrível ver a quantidade de talento emergindo. Aqui estão três artistas de Curitiba que acredito que valem a pena acompanhar: DPaula, Babi e Juma.
RapGol Magazine: Bora pra um ping-pong? jogo rápido.
Istha: Bora!
RapGol Magazine: Sua comida preferida?
Istha: Sou fã da comida italiana, tudo que tem queijo derretido é bom. Hahaha
RapGol Magazine: Uma cidade que sonha conhecer?
Istha: Fernando de Noronha, vamos sonhar alto né?!
RapGol Magazine: Um País que sonha conhecer?
Istha: Eu tenho um fascínio pela Índia, gostaria de conhecer essa cultura tão diferente da nossa.
RapGol Magazine: Pixação, Tag ou Graffiti?
Istha: Os três! (risos) Depende da circunstância e da oportunidade para cada um.
RapGol Magazine: Nikon, Canon ou Sony?
Istha: Eu tenho um carinho especial pela Nikon, foi minha primeira câmera e me acompanhou em muitos momentos importantes.
RapGol Magazine: Acho que é isso, Istha. Obrigado pelo bate papo, fique à vontade para deixar suas considerações finais.
Istha: Quero agradecer ao João e à equipe da RapGol Magazine pelo bate-papo incrível. Foi um prazer compartilhar um pouco da minha história, perspectivas e paixões. A arte urbana, o graffiti e a cultura têm um poder transformador imenso, e espero que mais pessoas possam se inspirar e valorizar essas formas de expressão. Sigam acompanhando o trabalho dos artistas, e continuem apoiando a cena do rap, do hip-hop, do esporte e da cultura em geral. Obrigada novamente e até a próxima!
Jornalista, fotógrafo, amante do rap nacional e fã nato do Baianinho de Mauá.