Expoente no rap, Natalhão fala sobre sua carreira, música, sexualidade e seus novos projetos

Expoente no rap, Natalhão  fala sobre sua carreira, música, sexualidade e seus novos projetos
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Quando ela está rimando, a primeira coisa que vem a cabeça é: esta mina é braba! Atrás de uma voz pesada no microfone, se esconde uma menina que busca dar o seu melhor na música e para quem está ao seu redor. Natalhão consegue transitar facilmente em diversos estilos musicais e vem se mostrando uma das melhores na cena. Conversamos com a jovem que falou sobre sua carreira, sobre o que ela gosta de curtir, falou também sobre sua sexualidade, novos projetos e muito mais. Confira:


RAPGOL MAGAZINE – Conte-nos um pouco da sua trajetória, de onde você é como iniciou no Rap?

NATALHÃO Eu conheci o rap por volta de 2013 / 2014, lembro que na época eu namorava uma mina que morava na zona sul do Rio e nesta época eu sai de casa, fui morar com a minha irmã na zona sul.
Através deste meu relacionamento eu fui com essa mina na Lapa e estava rolando a Batalha do Real, esta foi a primeira vez que tive contato com a batalha e neste dia se não me engano a primeira batalha que assisti foi PK x Naan e este dia foi incrível, lembro que me arrepiava em cada rima que eu ouvia tá ligado? Dai passou um tempo, eu dei uma esquecida, terminou o meu namoro com esta menina, mas continuei morando na zona sul e um pouco depois voltei a morar na região da Maré, onde cresci, estava estudando no centro (Rio de Janeiro), mas perdi contato com o Rap.
De início foi uma parada que eu achava que não conseguiria fazer, achava maneiro ver e sentir a emoção, mas de primeira achava que não conseguiria fazer, então deixei pra lá.

Pouco tempo depois, eu comecei a namorar um outra mina que morava em Belford Roxo (baixada do Rio de Janeiro) e por conta de uns problemas em casa ela veio morar comigo. Na época costumávamos assistir muito vídeo de internet. Mano! Era muito vídeo na internet! (risos) Até que um dia eu sair para fazer uma parada e na volta ela me disse que estava assistindo um vídeo de batalha de rima. Novamente era da Batalha do Real, neste dia assistimos ao vídeo, mas tinha uma louça para lavar.
Falei: “Pô lava a louça lá!” aí ela respondeu ” Aí você deve estar louca, hoje é o seu dia de lavar a louça.” Mano! Isto acendeu uma lâmpada na minha mente, ficamos alí fazendo umas rimas uma para a outra e descobrimos que estava tendo uma batalha de rimas em Bonsucesso (zona norte do RJ), era a Roda Cultural de Bonsucesso organizada pelo coletivo RN. Meus amigos e ela colocaram
meu nome na batalha sem eu saber, me chamaram lá, claro que fiquei com vergonha, mas os caras falaram que eu não poderia desfalcar a batalha.  Batalhei e mano, fui pra final! Passei a fazer isto com mais frequência mesmo com medo.

RAPGOL MAGAZINE – Nosso primeiro contato com as suas rimas foi através da Batalha do Real, fala pra gente sobre esta época de batalhas, o pente continua destravado?

NATALHÃOO MC que se prepara para as batalhas tem outro estado de espírito, eu hoje em dia estou bem mais envolvida com arte e música, mas amo freestyle e pretendo voltar um dia para as batalhas. Esta é uma parte do MC, não morre. Rimar é tipo andar de bicicleta, quem sabe, sabe! Não vai esquecer nunca. O pente sempre estará destravado no momento certo.

Na sequência dos anos você esteve envolvida em dois projetos muito legais, o primeiro que gostaríamos de destacar foi a sua participação na música “Palavra Poderosa” do MV Bill e a segundo é aquele X-chyper que você faz uma rima sensacional com a Jeckie Brown e Helen Nzinga.


RAPGOL MAGAZINE – Como você classifica a importância destes dois projetos para a sua carreira?

NATALHÃOSão dois projetos que eu amo! O X-chyper tem uma importância tremenda para mim, poder trabalhar com duas mulher importantes para mim, duas mulheres negras que tem um corre super maneiro, super independente. Sem dúvida foi um dos projetos que eu mais coloquei coração.
É um projeto incrível apesar de poucas visualizações, nós trabalhamos muito e eu amo muito este projeto. Foi importante para mim conhecer outras meninas da área, saber o esforço que elas fazem para manter o trabalho na pista e eu também estou nesta fase de conquistar o meu espaço e foi importante para entender que não posso esperar por ninguém, tenho que fazer acontecer.
Já o “Palavra Poderosa” foi um sonho realizado, tinha várias pessoas lá que sou fã, pessoas que eu escuto desde quando comecei e MV Bill é sensacional e às vezes eu nem acredito que participei de um projeto tão grande como este. Para mim foi, sempre será um sonho.

RAPGOL MAGAZINE – Quem acompanha o seu trabalho, já percebeu que você busca passar o papo reto nas rimas e focando na realidade das ruas. Para você este é o real propósito do Rap, passar a visão?

NATALHÃOEu comecei nas batalhas então fui seguindo um estilo mais agressivo e didático, depois fui para outros gêneros para testar o que eu poderia fazer, mas entendo que eu tenho que dar um passo de cada vez e com calma, falar  da minha realidade, da minha essência e depois falar sobre aquilo que me diverte, tá ligado?! A visão que eu quero passar é a minha, minha ótica de vida, quero cantar para as pessoas como eu enxergo o mundo e também quero ouvir como as pessoas enxergam o mundo, acho essa troca de energia  muito importante. Quero que a galera da minha área me olhe e tenha orgulho do que me tornei.

RAPGOL MAGAZINE – Nos episódios do Brasil Grime Show, você se mostrou bem à vontade transitando pelo GRIME com rimas certeiras e rápidas. Como foi a experiência de estar em uma das maiores vitrines do momento?

NATALHÃO A equipe do BGS é maravilhosa, me deixaram super a vontade e quando fui fazer o episódio, pude mostrar umas composições novas, um outro lado da Natalhão, porque eu estava vindo de uma fase muito puxada para o pop / R&B  e eu queria voltar para o underground com rimas mais pesadas, falando da minha vida e da minha personalidade. O verso que cantei, eu escrevi exclusivamente para o BGS, foi muito foda!
o SD9 é um artista incrível, que passa muita energia e quem assistiu o episódio sabe que me contageou no momento, de verdade! Espero voltar em breve.

RAPGOL MAGAZINE -Ainda sobre rimas e métricas, seu leque de habilidades é vasto. Você faz rimas mais acelerado, você faz uns versos mais cantados como na música “Tudo Que Restou” por exemplo. A que você atribui esta versatilidade?  

NATALHÃOEu busquei me envolver com outros estilos musicais e também o sou uma pessoa que escuta músicas de muitos gêneros.  Eu tenho um carinho imenso por forró, talvez seja o ritmo que eu mais amo, o gênero que mais gosto e o que mais escuto. Então eu atribuo esta versatilidade ao meu gosto eclético para música. Meu pai era um cara que escutava muita música de todos os gêneros e tinha aparelhagem de som, então sou muito envolvida por isto desde nova.

RAPGOL MAGAZINERecentemente você soltou o videoclipe  “Fé Pra Isso” e o seu trabalho está cada vez mais sólido. O que podemos esperar ainda para este 2021?

NATALHÃO Este ano ainda tem muita coisa maneira, “Fé pra isso” é um projeto que eu gostei muito, que tem a minha cara. Este ano ainda tem o som “Guerra Fria” com o SD9 e ainda tem uns três feats que não posso revelar no momento, mas eu garanto que será uma para bem legal.

RAPGOL MAGAZINE – Um assunto constante em seus sons é o amor, seja ele com a família ou rimando para uma gata. Como anda o coração?


NATALHÃOEu sou uma pessoa sentimental, às vezes acho que tenho sentimentos confusos e que talvez seja até difícil de se lidar, mas sou muito intensa e me entrego seja no trabalho, família ou relacionamento. Acho importante viver a vida com intensidade. O coração tá tranquilo e ansioso, com os projetos, namoro há 8 anos e é isto. A família está bem, o trabalho está indo bem, isso deixa meu coração tranquilo.

RAPGOL MAGAZINE – Você já deve ter percebido que falamos sobre Rap e claro sobre futebol. Você acompanha o esporte e tem algum time do coração?


NATALHÃO Eu não acompanho futebol assim assiduamente, joguei futebol quando era mais nova, amo o esporte, mas time e torcer não tenho uma preferência, nunca foi uma menina de acompanhar além do que jogava, assistia mais quando era copa do mundo, mas não tenho nenhum time de coração a não ser a seleção brasileira, masculina e feminina.

RAPGOL MAGAZINE – Ainda sobre a sua vida fora da música, o que você curte fazer quando não está envolvida com o Rap, você tem algum hobby específico?


NATALHÃOMinha vida fora da música é música, vivo e respiro música 24 horas por dia, não tenho um hobby específico, mas quando não estou falando, trampando com música, eu gosto de estar com a minha família, amigos, cuidar da minha espiritualidade, de saber o que está se passando pelo mundo e acompanhar as notícias. Sou uma pessoa que gosta de se manter atualizada.
Jogo futebol bem pouco e é isto.

RAPGOL MAGAZINE – Voltando para a música, o que você gosta de escutar ?


NATALHÃOEu gosto de forró , minha banda preferida é Cavaleiros do Forró.  Escuto também muito rap, MPB e acho que isso acaba influenciando nas composições. Não falo de plágio, mas acho que é importante estar ligado no mundo musical em todas as áreas.  

RAPGOL MAGAZINE O mês de Junho é celebrado no mundo inteiro como o mês do orgulho LGBTQIA +, como você vê a aceitação da sua opção sexual e de suas letras dentro do Rap?


NATALHÃO Eu sempre me aceitei desde nova, nunca tive problemas com a minha família. Demorei um tempo para entender, acho que todo mundo leva um tempo, são muitos sentimentos e muitas sensações.  São fases e você vai atravessando de criança pra adolescente, de adolescente para fase adulta é muito difícil de entender, mas quando você entende quem você é, tá ligado?!! Fica mais fácil. E eu acho que me aceitei bem nova! Falo disto nas letras e acho importante as meninas terem esta representatividade. É importante fazer nosso trabalho, saber nosso local de fala e ser exemplo para estas meninas que tanto precisam de exemplos para se sentirem mais confortáveis em ocupar os lugares e viverem suas narrativas.

RAPGOL MAGAZINE – Você percebe alguma resistência por ser assumidamente lésbica?

NATALHÃO É engraçado me fazerem esta pergunta porque na real eu não lésbica, eu sou bi-sexual, mas a galera tem este pensamento devido ao meu modo de se vestir. Na Real existe uma resistência dos garotos , mas não vou generalizar, pois tem uma galera no Rap que felizmente abraça o meu trabalho e sou grata. Mas não vou negar, tem uma resistência de uma rapaziada que está no mercado.  

RAPGOL MAGAZINENos EUA, algumas rappers assumiram e declararam suas opções sexuais. Da Brat, Queen Latifah e mais recentemente a braba Young M.A  são exemplos que podemos citar.
Você acredita que isto dê forças para que outras meninas possam aparecer e mostrar que também sabem rimar?


NATALHÃOIsto dá muita força! Foi como eu falei anteriormente, precisamos ter exemplos e deixar as pessoas mais confortáveis em se mostrar. Hoje em dia tem uma galera que acha que é um erro se mostrar, mostrar sua essência. Tem uma galera mais jovem que está sempre neste jogos de interesses de forma bem rasa. Se mostrar verdadeiramente dá uma força não só para o artista, mas também para os anônimos.

RAPGOL MAGAZINE – Para finalizarmos, gostaríamos de agradecer a oportunidade de estarmos conversando e gostaria de pedir para que você deixe uma mensagem a quem nos acompanhou até aqui.

NATALHÃOGostei muito de conversar com vocês, relembrar várias partes da minha carreira até aqui e a mensagem que eu gostaria de deixar é: não desista! Pode parecer clichê, mas tem muita gente que desiste. Se você tem um sonho, persiste nele. Não desista. Você não tem nada a perder.
Tem uma frase do Don L que ele diz: “Nóis tudo vive pra morrer, mas luta pela vida” e é isto, vamos lutar pela vida, vamos viver o agora.

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