Em um beat de Cassol, as artistas A-Ka e AMAIZ interrompem a vinheta para anunciar: a gente precisa falar um pouco da gente agora, tá ligado? Assim começa a nova denúncia das rappers sobre a luta das mulheres pretas, carregada de violência e titulada como “Nova Chance”.
O lançamento foi feito no dia 25 de julho, dia da mulher negra, latino-americana e caribenha; e no Brasil também dia de Tereza de Benguela – liderança quilombola que organizou a resistência contra a escravidão no Quilombo do Quariterê durante duas décadas no século XVIII.
“Pra que feminismo negro, ô playboyzinho? (…)
Céu é não ser arrastada pela viatura
É não ser queimada, chamada de bruxa
É não ser chamada de preta puta quente na rua
É não ser estuprada na viatura”
Só chama as pretas quando te convém
A música expõem as contradições de uma sociedade que reproduz violência contra as mulheres negras de forma estrutural – mais de 12 milhões de mulheres pretas já foram alvo de algum tipo de violência, o que corresponde a 65% das vítimas registradas no país, segundo dados da pesquisa Visível e Invisível. A pesquisa encomendada pelo DataFolha indica também que em mais de 53% dos casos, a violência ocorre dentro de casa.
No quinto país que mais se assassina mulheres no mundo, as bases escravocratas elegem as mulheres pretas como alvo principal: maioria entre os moradores das favelas, entre as desempregadas, terceirizadas e estupradas, o trabalho das rappers quebra um silêncio ainda presente na cena do RAP.
“Mulheres são mortas, estupradas
E as pretas ainda não são valorizadas
Mulheres são diariamente abusadas
E as pretas ainda não são consideradas
E aí, branca mimada?
Terra e fogo? Dá lava (pega)
Pega a visão que é de graça”
Para a pensadora Sueli Carneiro, a mulher negra no Brasil é a base para a sustentação social de uma estrutura misógina e racista de violência: “a mulher preta é a síntese de duas opressões, de duas contradições essenciais. A opressão de raça e de gênero. Isso resulta no tipo mais perverso de confinamento. (…) Ser preta é experimentar essa condição de asfixia social”, afirma a filósofa.
Confira a faixa “Nova Chance” de A-Ka e AMAIZ
FICHA TÉCNICA.
Direção: @poetagriot
Ass direção: @paulakoseki
Beat: @cvssxl
Mix/Master: @lucasbin__
Direção de foto: @cass_brito & @isabelaarnas
Ass de câmera: @lucahideo
Direção de arte: @kamylletavares
Ass de arte: @putsp_ e @cr4mos_
Tranças por: @nina_braids_ e @miikazuri_
Maquiagens: @leblon041
Produção: @lucahideo
Ass de Prod: @itsmayhere_ @mivi.e @putsp_
Montagem: @lucahideo e @putsp_
Color Grading: @lucahideo
Finalização: @lucahideo
Realização: @coletivolibre