Gau Beats
Sem sombra de dúvidas é um nome que você ainda ouvirá bastante. Gau Beats é o nome artístico de Adrienni Rodrigues, de apenas 28 anos, cria das ruas de Porto Alegre. A beatmaker e DJ tem se destacado nos últimos meses por lançamentos e trabalhos (individuais ou em conjunto) em gêneros que já são mais do que familiares no cenário underground.
A artista é uma das integrantes da gravadora GuetoAnonimato, composta por uma galera super dedicada no que faz, como os rapazes da Síganus. E ao lado de Jay-Gueto iniciou uma nova empreitada dentro da cena do Grime, ao criar um programa de rádio com o objetivo de reunir diversos artistas para que possam destilar suas barras nos microfones: O Grime Station.
Sendo assim, a RAPGOL Magazine conseguiu um espaço na agenda da artista para conversar sobre diversos assuntos. Entre eles a carreira, suas referências dentro da música, sobre Grime, seu convívio dentro da gravadora, e os desafios de quem trabalha com arte e cultura fora do eixo Rio-São Paulo.
A jovem trocou ainda uma ideia sobre o time do seu coração, o Sport Club Internacional, e seus gostos dentro do esporte. Leia abaixo a nossa entrevista
ROGER MORAIS
RAPGOL Magazine – Gostaríamos inicialmente de agradecer de coração por parar para
poder conversar conosco. Conta para quem ainda não conhece quem é a Gau Beats, e de onde ela vem?
Gau Beats – Eu sou de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. Sou beatmaker, DJ e produtora executiva da GuetoAnonimato Records. RAPGOL Magazine – Desde quando você resolveu se dedicar de fato a música, e como foi esse período pra tu? Gau Beats – Comecei a me dedicar à música no início da pandemia, tinha acabado de sair do meu emprego de CLT e queria me dedicar a algo que eu realmente gostasse de fazer e que nunca pude seguir por motivos de força maior. RAPGOL Magazine – Quais são as suas principais referências e espelhos dentro da música? Gau Beats – É difícil falar de referências porque eu tenho uma lista enorme. Eu cresci na periferia, onde as casas não tinham muita distância uma da outra e durante o dia se ouvia muitos tipos de música ao mesmo tempo, era uma confusão boa. Mas cresci ouvindo muita música brasileira, na infância sempre tive preferência por axé, funk, samba e conforme fui crescendo conheci muitos outros ritmos na convivência com familiares e amigos. Durante esse tempo conheci o bolero, a jovem guarda, o rock, o hip hop, sertanejo e muitos outros.
RAPGOL Magazine – Qual ou quais você pode apontar como as maiores dificuldades, os maiores obstáculos enfrentados até aqui como profissional? Gau Beats – Acho que falando de modo geral, a maior dificuldade é achar caminhos para quebrar a bolha da música e alcançar a mídia, o público e etc, principalmente quando se trabalha com algum ritmo específico e misturas diferentes, cujo o público não está familiarizado. Enquanto mulher, é difícil ser vista, tanto pelo público quanto por outros artistas, gravadoras, festivais e etc. RAPGOL Magazine – Você é conhecida por ser uma beatmaker dona de excelentes sons de Grime. Pode contar um pouco pra gente como você conheceu esse gênero musical e como foi que chegou até aqui? Gau Beats – Não lembro exatamente quando ouvi Grime pela primeira vez, mas lembro que foi o clipe de ‘Bonkers’ do Dizzee Rascal. No momento que ouvi não sabia a definição de Grime. Sabia que era algo diferente, pois nunca tinha ouvido os timbres e aquele tipo de beat, então comecei a pesquisar e descobri um pouco sobre o estilo, de onde vinha e outros artistas da época. Continuei ouvindo durante os anos e quando eu comecei a aprender a produzir, sabia que era esse caminho que queria seguir desde sempre. RAPGOL Magazine – Qual a maior diferença, na sua opinião, do Grime para o Rap? Gau Beats – Os timbres são o que mais se diferenciam pra mim e também a história por trás do Grime. Não são vias opostas, mas propostas diferentes que se encontram no meio do caminho, como muitos outros estilos.
RAPGOL Magazine – Você é uma das integrantes da gravadora “GuetoAnonimato”. Como é o convívio com os demais membros? Gau Beats – O dia-a-dia na gravadora é super tranquilo, as relações entre todos é de muito respeito tanto como artista quanto pessoa. E fora do estúdio também, sempre temos a oportunidade de apoiar do lado de fora. RAPGOL Magazine – Estamos no final de uma pandemia que assolou a nossa sociedade. Como foi para você lidar com os projetos e trabalhos em um período tão turbulento? Gau Beats – Eu comecei com a profissão no meio da pandemia, então não tive muitos contatos durante esse período, foi realmente muito difícil planejar como eu entraria nesse ramo num momento onde as relações só eram possíveis online. Tive que aprender a usar as redes como forma de trabalho, algo que eu nunca tinha feito antes, deu certo de certa forma, sinto que fiz muitas conexões e isso fez o meu trabalho ser reconhecido a nível nacional, o que é muito gratificante. RAPGOL Magazine – Com quais ferramentas você costuma trabalhar como beatmaker? Gau Beats – Uso o FL, porque foi nele que eu aprendi tudo o que eu sei e alguns outros plugins essenciais. Ainda tenho vontade de aprender a usar outras ferramentas como o Ableton, porém falta tempo entre a vida no estúdio, eventos e etc.RAPGOL Magazine – Você tem algum time do coração? Se tem, porque? Gau Beats – Eu torço pro Inter. O futebol sempre foi uma paixão na minha família e principalmente foi o maior motivo de ligação entre eu e meu pai. Desde criança a gente senta pra ver os jogos juntos, não só do Inter como de outros times que a gente compartilha ali uma admiração. RAPGOL Magazine – Quais são as suas três camisas de time prediletas? Gau Beats – A do Inter vermelha de 2006, a do Liverpool branca e verde da temporada 1995-1996 e a do Liverpool vermelha de 2019. RAPGOL Magazine – Um momento do futebol que jamais vai sair da sua cabeça. Gau Beats – O mundial do Inter de 2006, com certeza. Foi o momento mais histórico e único que eu vivi. RAPGOL Magazine – Quais são os seus três atletas prediletos? Gau Beats – Dos que eu vi jogar, Índio, Gerrard e Adriano. RAPGOL Magazine – Qual seria a escalação do sonhos do seu time? Gau Beats – Acho que seria um misto do Liverpool de 2005, com o Inter de 2006. (risos) RAPGOL Magazine – Pelo andar da carruagem, você acredita que o Brasil possa levar o
hexa esse ano? Gau Beats – Tenho fé que a gente chega lá, acho que a gente merece muito esse título, precisamos muito da energia que o futebol pode trazer.
RAPGOL Magazine – Você tem ideia de quantos beats produziu ao todo? Gau Beats – Nunca parei pra contar, mas devo estar perto de 40 ou 50. RAPGOL Magazine – Qual seria o feat dos seus sonhos? Gau Beats – SD9, Grone, N.I.N.A, Nic Dias, Monna Brutal, Mc Carol, MV Bill e muitos outros artistas que pavimentaram todo um caminho pra cena do rap, grime, do drill e do funk chegarem onde chegou e que só continua crescendo. RAPGOL Magazine – Você participa da produção do programa “Grime Station”, que a cada
episódio reúne diversos artistas para soltarem suas barras. Quando surgiu a ideia e como foi o processo de produção do projeto até sua estreia? Gau Beats – O Grime Station era um sonho meu e do Jay-Gueto, desde o início quando começamos a trabalhar juntos, ele vem sendo pensado a mais de 1 ano e somente em Julho de 2022 conseguimos tornar real. Durante esse mais de 1 ano, fizemos investimentos na estrutura do estúdio pra poder comportar o formato do projeto e conseguir fazer da forma mais profissional possível com o mínimo de recursos e espaço que temos. No início de 2022 fizemos uma rifa onde pudemos arrecadar o dinheiro que faltava pra de fato colocarmos o projeto pra rua. RAPGOL Magazine – Como você enxerga os desafios de quem trabalha com arte fora do
eixo Rio-São Paulo? Gau Beats – É difícil fazer as pessoas do eixo entenderem que existe uma cultura diferente da que elas veem na TV ou nas redes sociais. E é muito difícil falar sobre isso publicamente, não é uma fala muito aceita pelo público de fora, então acho que a gente prefere transmitir isso pela música, pelos clipes e afins. RAPGOL Magazine – Podemos esperar mais alguma novidade da Gau ainda este ano? Gau Beats – Sim, tô trabalhando num single novo, que vai ser lançado ainda esse ano e já planejando os próximos passos para o próximo ano. RAPGOL Magazine – Qual a mensagem você gostaria de deixar para o pessoal? Gau Beats – Acho que eu queria pedir pro pessoal ser mais receptivo com os artistas novos que estão surgindo, principalmente com os artistas de fora do eixo. Sabe, é importante a gente olhar a cena de forma geral e existem muitas mídias trazendo os artistas e apresentando eles da melhor forma para público. Não é como se a informação não estivesse ali, às vezes é só o pensamento de “eu quero conhecer, eu quero algo novo” e clicar e ouvir, pesquisar lá nas plataformas, mostrar lá na rede social.