Genius: o Projeto Colaborativo Que Mudou a Forma das Pessoas Entenderem o Rap; Conversamos Com Michel Chermont e Igor França Sobre a Plataforma.

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Originalmente lançada como Rap Genius com foco na música rap e também na cultura hip-hop, a empresa atraiu a atenção e o apoio de celebridades e capital de risco permitindo um maior crescimento. O site teve uma guinada em 2014 passando a cobrir outras formas de mídia, como pop, literatura, R&B, e adicionou uma plataforma de anotações embutida.

Fundado em agosto de 2009 por Tom Lehman, Ilan Zechory e Mahbod Moghadam. O Genius começou como um site de crowdsourcing focado no hip-hop e foi originalmente chamado de Rap Exegesis. O site mudou seu nome para Rap Genius em dezembro de 2009 porque “exegese” era difícil para os usuários soletrarem.

A criação do projeto surgiu no verão de 2009, quando Lehman perguntou a Moghadam sobre o significado de uma letra de Cam’ron. Depois que o Lehman construiu a versão mais antiga do site, ele – junto com os cofundadores Moghadam e Zechory – decidiu deixar seus empregos na D.E. Shaw e o Google para se dedicarem a ideia em tempo integral e colocá-la em prática.

Em 2011, com o site “atraindo mais de 1 milhão de visitantes únicos por mês”, o Rap Genius se inscreveu na incubadora Y Combinator e “se tornou a startup de crescimento mais rápido na história do Y Combinator”, obtenção de US $ 1,8 milhão em financiamento inicial, o que permitiu aos fundadores ocupar escritórios em Williamsburg, Brooklyn. Em 2012, a empresa recebeu um investimento adicional de $ 15 milhões da firma de capital de risco Andreessen Horowitz (também conhecida como a16z), motivada em parte pelo próprio esforço anterior do próprio parceiro Marc Andreessen para construir um recurso de anotação de grupo em um navegador da web. Ben Horowitz descreveu o Genius como “uma das coisas mais importantes que já financiamos”. Os três co-fundadores da empresa foram nomeados para o Forbes 30 Under 30 em dezembro de 2012.

A credibilidade do projeto e o sucesso popular do empreendimento foi exemplificado pela participação de artistas como Nas, 50 Cent, RZA, e A $ AP Rocky, levando a empresa a criar um “artistas verificados “designação. Contas verificadas são oferecidas a artistas estabelecidos, onde eles anotam, moderam e editam suas próprias letras. Essas anotações são destacadas em verde, em vez do cinza usual. Nas se tornou o primeiro artista verificado, usando a plataforma para postar inúmeras explicações de suas letras e dissipar algumas interpretações errôneas, bem como para comentar as letras de outros rappers que admirava.

Masta Killa, Inspectah Deck, RZA, GZA, Ghostface Killah e Raekwon, membros do grupo de hip-hop americano Wu-Tang Clan, também obtiveram contas verificadas no Genius.

A CRIAÇÃO DO GENIUS BRASIL

O Genius Brasil surgiu através da comunidade que seguindo o exemplo da plataforma norte-americana, passou a explicar as letras dos rappers nacionais. Entretanto, logo outros gêneros foram tomando conta do site e hoje o site tem notícias, cinema, séries, poesia, leis, esporte, história, matemática e muitos outros sub-canais.

A MUDANÇA NA FORMA DE ENTENDER AS LETRAS DE RAP

Hoje todo lançamento que se preze tem a sua letra no site Genius e não é só isto. As frases, as rimas quanto mais explicadas, melhor. Um exemplo disto são pocket vídeos do site na pagina do Youtube, onde o próprio artista fala sobre a sua obra.

De Racionais Mcs, passando por Emicida, OGI, Matuê, Orochi, Recayd, L7nnon, LEALL e outros, diversos rappers estão com suas letras explicadas em detalhes no site. O projeto é gingante e a cada dia mais conteúdo é inserido.

Outra forma que o site Genius tem utilizado para interagir e explicar as linhas e rimas para o público, é através do instagram. Muitos fãs passam horas entretidos com o conteúdo que é criado de maneira colaborativa nos foruns.


Conversamos com o Michel Chermont, um dos responsáveis pela Genius Brasil e você pode conferir abaixo:

RAPGOL MAGAZINE – Como foi o início do Genius no Brasil?

GENIUS BRASIL Na época que o site se chamava “Rap Genius”, não existiam letras e nenhuma informação sobre obras brasileiras, já que o site é americano e estava começando a se popularizar aos poucos internacionalmente. Com a crescente popularização, alguns brasileiros começaram a contribuir e se tornar ativos no Genius, seja inserindo letras ou escrevendo sobre as obras brasileiras, principalmente de rap. Nesse mesmo período, existia um brasileiro que trabalhava na staff americana: o Dalmo. Ele, verificando o fluxo de brasileiros no site, os contatou e começou a organizar o que seria a Equipe brasileira do Genius. Então nós somos nada mais que uma parte da comunidade nacional dentro do site. 

Então a equipe é bem diversa, e o único membro que se manteve na Equipe até agora foi o Kleber Briz, porém, outras pessoas chegaram a fazer parte do Genius, mas que seguiram outros caminhos, como o Jé Santiago, Vinar (fundador da Rap Shit), Paulo Silva (Per Raps), Tiago Leve (Podcast, mano) e o Joe (Raplogia).

RAPGOL MAGAZINEO Genius Brasil é totalmente ligado a versão internacional?

GENIUS BRASIL Não. Nós temos o aval de utilizar a logo e o nome “Genius”, e temos liberdade criativa para elaborar nossos conteúdos, mas não temos nenhum vínculo oficial com a empresa e nem recebemos nenhum auxílio por parte deles, tudo que fazemos é de forma independente e voluntária. 

Nós conseguimos essa “parceria” com o Dalmo. Na época ele fazia parte da staff oficial do site, fazendo a curadoria de conteúdo e buscando maneiras de expandir o Genius para além do rap.

RAPGOL MAGAZINEQuais foram as maiores dificuldades encontradas?

GENIUS BRASILDesde o início nós temos duas principais dificuldades. A primeira é o “tempo”. Devido ao trabalho no Genius ser totalmente voluntário, uma das principais dificuldades é conciliar o nosso trabalho pessoal com o do Genius. Atualmente a Equipe é composta por 18 pessoas do Norte ao Sul do país, então tudo que decidimos e organizamos é feito a distância, nós não temos um escritório próprio ou um local de encontro, por exemplo. E todas essas pessoas trabalham nas mais diversas áreas, alguns ligados a música ou audiovisual, outros na área da educação, na área jurídica e assim por diante. Então, em diversas ocasiões, o ritmo de “produtividade”, com os textos, vídeos e análises, acabam dependendo do nosso tempo disponível, mas nós sempre fazemos um esforço para fazer as coisas acontecerem. Mas um aspecto interessante é que muitos de nós às vezes atrasamos algumas coisas do trabalho e/ou da faculdade para fazer os textos e as postagens do Genius.

A segunda é a falta de apoio da Genius americana. Diversas vezes, nós tivemos que tirar dinheiro do próprio bolso para poder gravar alguns vídeos do canal do Youtube, (que na época não era monetizado), ou então, para custear os troféus da nossa própria premiação. Foi somente ano passado, com o crescimento do YouTube, conseguimos custear os quadros do Prêmio Genius aos artistas vencedores sem tirar do nosso bolso. Mas tudo isso fez com que nós nos afastássemos do site, focando o nosso conteúdo quase que exclusivamente para as redes sociais onde reside o nosso principal engajamento hoje em dia. Por causa desse trabalho, hoje nós somos a maior comunidade internacional do Genius nas redes sociais. Porém, nós ainda não conseguimos firmar algumas outras ações devido às questões legais envolvendo a marca e isso nos restringe muito. 

Anteriormente as pessoas somente buscavam as letras para acompanhar a música, hoje elas procuram entender o sentido das palavras e citações. 

RAPGOL MAGAZINEComo vocês analisam a mudança do consumo das letras após o surgimento da plataforma?

GENIUS BRASILCreio que o público tem se antenado muito mais às referências do que antigamente, mas creio que essa já seja uma demanda antiga para aqueles que gostam de música; inclusive, existem alguns blogs e sites que explicam versos e significado de algumas músicas, principalmente MPB, mas o Genius trouxe isso de forma mais simples e direta, já que é um site onde as pessoas conseguem ler a letra, ouvir e entender o significado dos versos, e até mesmo colocar uma interpretação por si.

O nosso maior trunfo foi trazer um pouco dessa “cultura” pra dentro do site e fazer com que as pessoas se antenassem mais às mensagens dentro de cada música e do universo em cada produção que não envolve somente o artista, mas que tem dedo do produtor, do diretor e assim por diante. Nós trouxemos essa cultura não só para o público, mas para os artistas também, e assim damos uma profundidade maior às obras.

RAPGOL MAGAZINEQual foi a reação de vocês ao saber que haveria uma abertura para outras áreas do entretenimento?

GENIUS BRASILFoi um processo natural da Genius essa abertura devido ao sucesso que o site se tornou, que hoje já parte para uma abordagem de noticiário, conteúdo em vídeo e plataformas próprias no meio musical.

RAPGOL MAGAZINEAtualmente o rap ainda é o maior gênero musical dentro do Genius?

GENIUS BRASILSim. É uma tendência tanto nacional quanto internacional. No ano passado, 6 das 10 músicas nacionais mais acessadas no site eram de rap, e alguns lançamentos como “Máquina do Tempo” do Matuê e “O Líder em Movimento” de BK chegaram a aparecer no top 50 de músicas e no top 10 de álbuns mais acessados no mundo inteiro. Até mesmo o nosso público nas redes sociais é majoritariamente ouvinte de rap.

Logo atrás do rap temos o público do pop e Kpop crescendo muito no site.  As músicas da Anitta, por exemplo, quase sempre aparecem dentre as mais acessadas devido a sua carreira internacional.

RAPGOL MAGAZINEA plataforma tem se reinventado na maneira de apresentar o conteúdo, podemos esperar mais novidades para 2021?

GENIUS BRASILNós temos investido mais no conteúdo jornalístico e nas produções musicais, buscando ampliar o universo dentro de cada música, dando voz para todos que fazem parte da processo de criação de uma música ou de um álbum, como produtores, diretores, os designers e artistas gráficos, assim como os próprios artistas. 

Além disso, estamos planejando mudanças, tanto na mídia em geral quanto para o Prêmio. Sobre o Prêmio, pretendemos manter a premiação, realizada a partir de quadros no ano passado, e transformar algumas das categorias para dar um olhar mais técnico, convidando diretores, produtores e artistas gráficos para escolher, junto conosco, os melhores trabalhos dentro do rap e derivados em 2021. As outras novidades que o público vai saber em breve.

É importante falar que estamos buscando parcerias com marcas que propiciem todas essas mudanças. Nós da comunidade brasileira estamos buscando cada vez mais independência e buscar entrar no mercado de mídia musical, prezando pela qualidade, conhecimento, debates e informação.