Jornalista  João Abel diz: a imprensa esportiva deve discutir sobre a homofobia que acontece fora de campo

Jornalista João Abel diz: a imprensa esportiva deve discutir sobre a homofobia que acontece fora de campo

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Jornalista João Abel diz: a imprensa esportiva deve discutir sobre a homofobia que acontece fora de campo - Rapgol Magazine

João Abel é autor do livro “Bicha!: A Homofobia Estrutural no Futebol” e coautor de “O Contra-Ataque: O Futebol É Uma Manifestação Cultural”.

Em conversa com a Folha de São Paulo, João Abel disse: “Quando um torcedor LGBT vai ao estádio, ele tem que ouvir muita coisa calado. Entra por um ouvido, sai pelo outro: bicha, viadinho, bambi, fresco, frouxo.

Tenho uma série de amigos bissexuais —como eu— e gays que adoram discutir futebol, comprar a camisa do time e ir ao estádio, mesmo que esse seja um ambiente onde não são bem-vindos. Um homem não pode ir lá com o companheiro —se for, não pode demonstrar afeto.

O futebol não está à parte da sociedade, é preciso pensar nele como elemento social e cultural. O esporte também potencializa e reflete a masculinidade tóxica que existe no Brasil. Por exemplo: os homens estão mais expostos à criminalidade, conflitos armados e morrem mais por violência. Corta para o futebol. Você vê muitos homens se valendo desse pretensa masculinidade e desvirtuando o papel de uma torcida organizada para matar alguém que veste a camisa rival.

Os homens cuidam menos da saúde e se suicidam três vezes mais que as mulheres. Corta para o futebol. O primeiro jogador a se assumir homossexual foi um inglês chamado Justin Fashanu. Além de ser gay, ele sofria com racismo, abandono dos pais, nunca se firmou em nenhum clube e tirou a própria vida antes dos 40 anos.

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Jornalista João Abel diz: a imprensa esportiva deve discutir sobre a homofobia que acontece fora de campo - Rapgol Magazine

Tem 80 mil jogadores profissionais no Brasil e o único exemplo recente de jogador homossexual não está em um clube de expressão: o goleiro Messi, do Palmeira, time do interior do Rio Grande do Norte. Você não vê nenhum jogador de clube grande expressar a própria sexualidade se não for heteronormativa.

Em 2019 João lançou um livro sobre a homofobia estrutural no futebol chamado “Bicha!”. O grito de “bicha” segundo ele, talvez tenha sido a coisa mais simbólica na última década para mostrar que o problema existe. A recusa em usar a camisa 24 é outro exemplo.

“Hoje, quando alguém grita “preto” ou “macaco” num estádio, a maioria das pessoas acha inaceitável. Mas há cinco ou seis anos a gente ouvia 50 mil pessoas gritando “bicha” e até hoje muita gente acha que é algo cultural.”

“De lá para cá, muitas torcidas aboliram o grito, apesar de não terem abolido outros cânticos homofóbicos. ” continua o jornalista.

Ainda sobre a homofobia, João cobra que a imprensa esportiva deveria falar mais sobre o assunto e destaca que é preciso ter mais diversidade na imprensa.

“Quando você entra numa Redação de esportes, a maioria é formada por homens heterossexuais, o que pressupõe que a causa LGBT não é algo vivenciado. A gente precisa ter mais diversidade na imprensa —isso é fato e tem mudado nos últimos anos.”

João continua dizendo: ” Mas também acho que a forma como os casos de homofobia no futebol são externados nas pautas poderia ser melhor. É quase cíclico: no mês do orgulho LGBT, em junho, o jornalista esportivo fala disso porque é uma pauta que está no noticiário, mas não é algo recorrente.

O jornalismo precisa pautar mais as ações de luta contra a homofobia no futebol e deixar claro que a imprensa esportiva é um ambiente de discussão sobre um objeto social. Isso não é uma pauta secundária. O que acontece dentro e fora de campo deve ser igualado. ” finaliza ele.

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Criaa da Zona Oeste do RJ.
Comunicador, fotógrafo, colecionador de camisas de times e camisa 8 no time da pelada.
Trabalhando com notícias e informações desde 2002.

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