Léo, zagueiro do Vasco da Gama fala ao The Players’ Tribune Brasil

Léo, zagueiro do Vasco da Gama fala ao The Players’ Tribune Brasil

Gostou? Compartilhe

Às vezes me dá uma vontade danada de explicar para as pessoas como eu me sinto jogando no Vasco. Acontece geralmente depois de uma partida, quando eu chego em casa tarde da noite, pego uma água na geladeira e sento na cozinha pra deixar a adrenalina baixar. É tudo tão forte, ao mesmo tempo tão louco, que é necessário dividir isso com alguém.

Caramba, eu preciso explicar tudo isso!

Mas aí eu fico achando que a explicação que eu tenho pra dar é particular demais e não vai interessar a mais gente. Então acabo explicando pra mim mesmo, pra nunca esquecer: jogar no Vasco é representar um clube que me representa. Entendeu?

Representar um clube que me representa.

No futebol, quase nada pode ser maior do que isso. Quase nada.

Pois é, eu sabia que tu ia achar história. Mas peraí… Eu posso explicar melhor. Eu gostaria de verdade que você entendesse. No fundo é importante pra mais gente, sim. O sentimento é meu, mas eu não tô sozinho nessa. Tem muita coisa envolvida. 

Seguinte. Eu fui apresentado no Vasco numa quarta-feira, dia 4 de janeiro de 2023. Conheci os funcionários, a galera toda, falei com a imprensa, vesti a camisa e tudo mais. Pensei que tivesse conhecido o clube inteiro, mas ainda faltava um lugar especial: o Espaço Experiência, em São Januário. É onde ficam os troféus, o mural do Barbosa, as faixas de campeão, as camisas e fotografias de antigamente, as chuteiras de uma tonelada que o Roberto Dinamite usava… A glória do Vasco muito bem contada. 

Jogar no Vasco é representar um clube que me representa.- Léo

Passaram-se alguns meses e eu finalmente fui visitar o lugar que ficou faltando na apresentação. Aí, tô eu lá emocionado com tudo aquilo, olhando, querendo aprender, querendo captar tudo, e o Walmer, historiador do clube, me chama de lado: 

— Tá preparado pra ver a Resposta Histórica? 

Fiquei em choque. Eu sou do Rio, tô no futebol há bastante tempo, então já tinha ouvido falar daquele documento que o Walmer tirava do cofre pra me mostrar. Coisa fina, né? Foi um antigo presidente do Vasco que escreveu. Tipo uma carta, escrita 100 anos atrás. Por meio dela, o clube avisava que não ia mandar embora seus jogadores pretos, analfabetos e operários coisa nenhuma, que isso que os adversários exigiam pra aceitar o Vasco numa liga nova que estavam criando era um absurdo.

Esse presidente, agora eu sei o nome dele — José Augusto Prestes — disse não, nem pensar. Foi bem claro: “…seria um ato pouco digno de nossa parte sacrificar, ao desejo de filiar-se à AMEA, alguns dos que lutaram para que tivéssemos, entre outras vitórias, a do Campeonato de Futebol da Cidade do Rio de Janeiro de 1923”.  

Li a carta todinha e voltei em três palavras que estavam escritas ali: digno, lutaram, vitórias. 

Leo Resposta Historica Vasco museu experiencia

Matheus Lima/Vasco

Irmão, tu percebeu que, sem a Resposta Histórica do Vasco, talvez não existiria o Pelé? Ou Leônidas, Garrincha, Romário, Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo, vixe… É infinita a lista de pretos de origem humilde que fizeram a gente ser o que é.

Aí, quando me dei conta de que eu, Léo, também não existiria, ou existiria só nas condições que há 500 anos a galera impõe pra gente, caraca!, foi uma luz. Eu senti uma identificação tão poderosa com o Vasco que me segurei pra não chorar em cima daquele tesouro ali na minha frente. Eu senti a minha vida entrelaçada com a história do Vasco, como se fossem uma só. Eu me senti respeitado.

Leia o texto completo..