Luisa Perisse, “Trap do Trepa Trepa” e a seletividade do mercado musical

Luisa Perisse, “Trap do Trepa Trepa” e a seletividade do mercado musical
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Na última semana, a atriz e cantora Luisa Perisse viralizou com o “Trap do Trepa Trepa”. O meme se tonou uma parceria com DENNIS e Corth e agora ganhou destaque nas plataformas digitais. O som, que mistura elementos do trap e do funk, carrega o potencial de viralizar, impulsionado pelo nome de Perisse, sua rede de contatos e o suporte de grandes produtores da cena. Mas enquanto “Trap do Trepa Trepa” recebe atenção e espaço, muitas MCs periféricas seguem invisibilizadas, esbarrando em barreiras estruturais que limitam suas oportunidades na indústria musical.

A ascensão de Luisa Perisse na música não acontece de forma isolada. Filha da atriz Heloísa Perissé, ela já possui um capital cultural e social que facilita sua inserção em diferentes meios. Esse fenômeno é recorrente: artistas vindos de contextos privilegiados conseguem circular com mais facilidade por espaços e oportunidades que, para talentos da quebrada, costumam ser inacessíveis. O chamado privilégio branco e de classe se manifesta não apenas na entrada facilitada na indústria, mas também na recepção midiática e no investimento direcionado a esses artistas.

A desigualdade na cena rap

O rap sempre foi uma ferramenta de resistência e voz para a periferia. No entanto, o cenário musical brasileiro tem um histórico de apagamento de mulheres negras e periféricas nesse gênero. Muitas artistas como MC Carol, Drik Barbosa e Ebony precisaram enfrentar desafios imensos para conquistar um espaço que ainda hoje é majoritariamente ocupado por homens e por artistas brancos. Enquanto isso, figuras com acesso privilegiado encontram atalhos que encurtam o caminho para a visibilidade e o sucesso.

https://twitter.com/nicolebalestro/status/1894839148428578964

Esse padrão de apropriação e esvaziamento cultural transforma expressões de resistência em produtos comercialmente aceitáveis para um público mais amplo, diluindo o impacto social e político desses gêneros.

O impacto do fenômeno

Não se trata de invalidar a trajetória de Luisa Perisse ou questionar seu talento. Mas é fundamental reconhecer que sua visibilidade não acontece por acaso. O sucesso de “Trap do Trepa Trepa” deve ser observado sob a lente da estrutura que privilegia certos corpos, discursos e estéticas em detrimento de outros. Enquanto artistas da periferia precisam batalhar pelo mínimo de atenção, nomes vindos de contextos elitizados têm lançamentos planejados estrategicamente para alcançar grandes audiências desde o primeiro dia.

Além disso, é importante questionar como o mercado musical pode se tornar mais justo e inclusivo. Incentivar a presença de mulheres negras e periféricas no rap e no funk não é apenas uma questão de representatividade, mas de reparação histórica e de equidade dentro da indústria. Se “Trap do Trepa Trepa” se tornou um hit em questão de dias, quantos sons igualmente bons ou até melhores ficaram pelo caminho simplesmente porque suas criadoras não tiveram a mesma estrutura para promovê-los?