Lutando contra o vício, rapper Cabeça SNJ é condenado por tráfico de drogas

Lutando contra o vício, rapper Cabeça SNJ é condenado por tráfico de drogas

Gostou? Compartilhe

🧱 Ícone do rap paulista, Cabeça SNJ é condenado

Fábio Ferreira Xavier, conhecido como Cabeça SNJ, ex-vocalista do emblemático grupo de rap Somos Nós a Justiça, foi condenado a 6 anos e 9 meses de prisão em regime fechado por tráfico de drogas. A decisão da 5ª Vara Criminal do Foro de Guarulhos foi proferida em 8 de agosto de 2025, mas ainda cabe recurso.

O caso expõe não apenas a queda de um nome histórico do rap nacional, mas também uma ferida social crônica: a linha tênue entre vício, sobrevivência e criminalização de corpos negros nas periferias.


🔥 Da crítica social à luta pessoal

Cabeça SNJ é parte da fundação do rap de protesto no Brasil. Com o SNJ, ajudou a escrever capítulos decisivos da cultura Hip Hop paulistana nos anos 1990, ao lado de grupos como Racionais MC’s e DMN. Suas letras sempre denunciaram o racismo, a violência policial e a exclusão nas periferias.

Desde os 20 anos, Cabeça enfrenta o vício em crack. Hoje com 44, sua luta é marcada por recaídas e tentativas de retomada. Segundo relatos da própria sentença, ele apresentava “aparência debilitada” no momento da prisão. A dependência química o acompanha há mais de duas décadas.


🚨 O caso em Guarulhos

A prisão ocorreu em 26 de abril de 2024. Policiais militares afirmaram ter visto o músico correndo ao notar a viatura, tentando se esconder. Ele teria entregue espontaneamente uma sacola com drogas e indicado onde havia mais entorpecentes escondidos. Foram apreendidos 72,4 g de maconha, 27,7 g de cocaína e R$ 64 em dinheiro.

O local era conhecido como ponto de venda, e um dos PMs relatou que o rapper confessou estar traficando para sustentar o vício. Na versão de Cabeça, no entanto, ele comprava apenas para consumo e teria sido confundido com o verdadeiro traficante, que fugiu do local durante a abordagem.


⚖️ Sentença e contexto

A juíza Priscila Devechi Ferraz Maia considerou o contexto, a forma de embalagem e a quantidade como elementos suficientes para caracterizar o tráfico. Apesar de reconhecer a condição de dependente químico, a magistrada afirmou:

“O vício pode explicar a motivação para o crime, mas não o descaracteriza.”

Cabeça negou pertencer a qualquer organização criminosa e disse nunca ter vendido drogas perto da casa da própria mãe, que está em estado terminal e mora a menos de 100 metros do local.


📉 Queda, exclusão e abandono

O caso de Cabeça SNJ não é só sobre crime. É sobre a falta de políticas públicas eficazes para dependentes químicos, a marginalização de artistas periféricos após a fama e a ausência de suporte social àqueles que já foram ícones de resistência.

A condenação é o retrato cruel do que acontece quando a cultura é esquecida e o vício se sobrepõe à trajetória. É também um alerta: quantos artistas do rap ainda estão em silêncio, lutando sozinhos contra o mesmo destino?


Por que isso interessa?

Porque a história de Cabeça SNJ mostra como a estrutura social brasileira pune com rigor os sintomas da exclusão, mas negligencia suas causas. A prisão de um ícone do rap, dependente há 20 anos, revela a falência das redes de apoio à saúde mental e o desamparo da cena musical periférica. É preciso falar sobre isso — com justiça, mas também com humanidade.