A repercussão dos ataques racistas direcionados ao jogador Vini Júnior, do Real Madrid, neste ano revelam que o racismo contra atletas brasileiros, infelizmente, não são fatos isolados. De acordo com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), 41% dos profissionais que atuam no Brasil, entre eles, jogadores, membros de comissão e arbitragem, já sofreram racismo durante o exercício de sua atividade. Os casos de discriminação incluem “piadas”, insultos e ataques, sendo que 53% ocorrem nos estádios, 31% nas redes sociais e 11% nas sedes ou centros de treinamentos.
Fato é que, dentro e fora dos campos, é necessário trabalhar para excluir as práticas discriminatórias do futebol. Entretanto, o que se vê nos estádios é reflexo de uma sociedade que age impunemente porque o Estado fecha os olhos para esses crimes. No país, 56% dos habitantes se consideram negros.
Para o psicólogo esportivo e especialista em DE&I na Condurú Consultoria, José Vítor Capello Rezende, o futebol brasileiro está longe de ser um lugar democrático e respeitoso no que diz respeito às diferenças. “”As punições são um passo importante e precisam sair da teoria e acontecer na prática – não apenas em alguns jogos como modelo, mas em todas as partidas, nos campeonatos por todo o mundo, sem exceção. Aí sim caminharemos para reduzir o comportamento do racismo no futebol. Com as normas sendo cumpridas à risca poderemos chegar, finalmente, a um novo paradigma e a uma mudança de cultura nos estádios, com os torcedores mais vigilantes e mais atuantes no sentido de coibir manifestações racistas, até que haverá um momento em que as pessoas sequer pensarão em cometer esse tipo de crime nos estádios, não por temer a punição ao seu clube, mas sim por saber e acreditar que aquela é a maneira que se deve torcer e se manifestar nos jogos”, explica.
É importante que jogadores brancos de importância no cenário se posicionem como agentes desta luta. “Eles não são vítimas do racismo, têm uma carga emocional muito menor e podem se colocar nestas situações justamente por não serem alvos diretos dos ataques. O privilégio destes atletas faz com que suas vozes e atitudes reverberem ainda mais, principalmente entre outras camadas privilegiadas”, finaliza Rezende