Nos últimos dias, uma controvérsia tem agitado a comunidade do rap e do funk, ganhando grande repercussão nas redes sociais. A discussão gira em torno do apoio de alguns artistas desses gêneros musicais a candidatos políticos cujas ideologias parecem divergir dos princípios que tradicionalmente sustentam esses movimentos. O debate foi intensificado após uma publicação feita por Junior Freitas, candidato a vereador pelo PSOL, em seu perfil no Instagram.
Freitas levantou uma questão que reverberou amplamente: “Todo mundo do movimento se declara antirracista, todo mundo do movimento vive reclamando da opressão policial… Mas na hora que vocês vão escolher quem vai comandar todos esses aparatos, todo esse sistema, vocês votam em quem?” A postagem provocou uma série de reflexões e discussões dentro da comunidade do rap e do funk.
Um dos principais ícones do hip-hop nacional, Mano Brown, membro dos Racionais MCs, não deixou de expressar sua opinião sobre o assunto. Em resposta à publicação de Freitas, que foi amplamente compartilhada, inclusive pelo site Rapmais, Brown afirmou: “É, irmão… Quando eu falei pra vocês lá na Sabin que os bagulhos estavam mudando, que nós tínhamos que antecipar os caras, que os nossos iriam tomar decisões contrárias às nossas muitas das vezes e que isso é o normal na democracia.” A fala de Brown destaca a realidade de que, em uma democracia, as escolhas nem sempre seguem a linha ideológica original, refletindo as complexidades e contradições que surgem ao longo do processo.
Outro artista que manifestou seu descontentamento foi Djonga. O rapper mineiro criticou a postura de alguns políticos que, segundo ele, fingem apoiar o funk e o rap apenas por conveniência eleitoral. “Tem político fingindo que gosta de funk, tem político fingindo que gosta de rap, tem até político fingindo que é da política, e é bizarro pensar que nossa galera do funk e do rap está simplesmente apoiando esses caras,” declarou Djonga, apontando para a superficialidade de tais alianças.
MC Hariel também se pronunciou sobre o tema, lamentando a facilidade com que certos políticos se aproximam do movimento. “É o lobo falando para os carneiros que vai virar vegetariano depois que se eleger. Sou funkeiro com orgulho, amo esse movimento que mudou a minha vida, mas não compactuo e fico triste em ver esse tipo de pessoa tendo abertura tão fácil no nosso movimento,” afirmou o artista, demonstrando sua frustração com a situação.
A polêmica em torno do apoio de artistas de rap e funk a determinados políticos continua a ganhar força nas redes sociais, evidenciando as tensões e contradições que permeiam a relação entre cultura e política. Esse episódio ressalta a complexidade das escolhas e alianças dentro de comunidades que, historicamente, sempre defenderam uma postura de resistência e crítica às estruturas de poder tradicionais.