Mostra Feminina de Hip Hop ocupa Porto Alegre com protagonismo e força periférica

Mostra Feminina de Hip Hop ocupa Porto Alegre com protagonismo e força periférica

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Uma revolução cultural no centro do sul do Brasil

Porto Alegre está prestes a viver um dos momentos mais potentes de sua cena cultural em 2025. Nos dias 2, 6, 8 e 9 de agosto, a capital gaúcha será ocupada por beats, versos e vozes que há tempos pedem mais escuta, visibilidade e reconhecimento: mulheres cis, trans e pessoas não-binárias que constroem o hip hop brasileiro. Com uma programação inteiramente gratuita, a Mostra Feminina de Hip Hop chega para derrubar estereótipos, reescrever narrativas e mostrar que o centro do palco também é lugar de quem, por muito tempo, foi invisibilizado.

Essa não é apenas uma série de shows ou oficinas. É um gesto político, uma proposta estética e uma convocação coletiva. É um palco montado com base em respeito, memória e reinvenção. É o momento em que as vozes periféricas e dissidentes da cultura urbana reafirmam que não basta ter espaço — é preciso protagonismo.


🎤 O que é a Mostra Feminina de Hip Hop?

A Mostra é um evento itinerante e colaborativo que reúne oficinas, shows, rodas de conversa, graffiti, breaking e audiovisual, com foco exclusivo na atuação feminina dentro da cultura hip hop. Ela percorre diversas cidades com um propósito claro: valorizar, visibilizar e formar redes entre mulheres que atuam nos quatro pilares da cultura hip hop — MC, DJ, graffiti e dança.

Criada a partir do documentário L.I.C.A.: A Rima Feminina Pelo Mundo, da rapper Lica Tito (fundadora do grupo La Bella Máfia), a Mostra estreou em São Paulo e agora chega à terra natal da artista, Porto Alegre, com uma programação extensa e descentralizada.

Com encontros na Casa de Cultura Mario Quintana e no Museu da Cultura Hip Hop RS, o projeto assume um formato múltiplo: é mostra audiovisual, é festival de rap, é ciclo formativo, é encontro intergeracional de potências femininas.


🎧 Cultura Hip Hop com DNA feminino

O coração da Mostra pulsa em sintonia com a história do hip hop brasileiro — uma história onde as mulheres sempre estiveram presentes, mas nem sempre foram celebradas. “Queremos inverter a lógica que ainda persiste em muitos eventos”, explica Aretha Ramos, coordenadora da Mostra. “Não queremos apenas cotas. Queremos mulheres como centro da cena.”

Essa inversão não é simbólica. Está na curadoria, na direção, nas oficinas, nos palcos e nas câmeras. Está na escolha de convidadas como Negra Jaque, Rubia RPW, B-Girl Cami, Tia Crazy, Nathy MC, DJ Anazú, e tantas outras que transformam arte em linguagem de resistência.


📅 A programação completa da Mostra

Casa de Cultura Mario Quintana

02 de agosto – Abertura

  • Coquetel de recepção
  • DJ Set com Marigdas
  • Exibição de documentários
  • Lançamento do documentário L.I.C.A.
  • Roda de conversa com cineastas e artistas
  • Pocket show com La Bella Máfia

06 e 08 de agosto – Oficinas formativas

  • Graffiti com Bina
  • Breaking com B-Girl Cami
  • MC com Tia Crazy e Nathy MC
  • DJ com DJ Anazú (online e presencial)

Museu da Cultura Hip Hop RS

09 de agosto – Encerramento

  • Oficina “A História do Hip Hop – Um Olhar Feminino”, com Rubia RPW
  • Apresentações das oficinas de MC, DJ, graffiti e breaking
  • Shows com Negra Jaque, MC Bart, Mikaa e La Bella Máfia
  • Roda de DJs com Laiz Regina, Luizza e Anazú

👣 Por que essa Mostra importa?

O Brasil é um dos países com maior produção de rap no mundo — mas, proporcionalmente, a presença feminina continua minorizada. A Mostra atua como reparação histórica e espaço de transformação. Ela valoriza as múltiplas vozes femininas que fazem o hip hop existir longe dos holofotes, mas perto do povo.

Além disso, há um valor formativo inegável. As oficinas oferecidas em Porto Alegre têm inscrição gratuita e abrangem todos os elementos do hip hop. “Estamos formando não só artistas, mas articuladoras culturais, produtoras, educadoras populares”, afirma Aretha Ramos.


🧱 O Hip Hop como linguagem da cidade

Mais do que um evento artístico, a Mostra Feminina de Hip Hop é uma estratégia de ocupação simbólica da cidade. Em um país onde a violência de gênero ainda atinge números alarmantes, criar espaços de afirmação e acolhimento é um gesto de sobrevivência. Ao ocupar a Casa de Cultura Mario Quintana e o Museu do Hip Hop, a Mostra rompe a lógica dos centros elitizados e conecta cultura com território.

“Porto Alegre foi por muito tempo o berço de grandes eventos de hip hop, mas a presença feminina nesses espaços sempre foi limitada”, conta Lica Tito. “Agora, a Mostra chega pra dizer: estamos aqui, sempre estivemos, e não vamos sair.”


🧠 Formação e legado

Ao contrário de eventos efêmeros que priorizam performance e não transformação, a Mostra aposta em continuidade. Os registros das oficinas, as conexões criadas, os lançamentos de documentários e as trocas de saberes deixam sementes. Há um desejo real de que cada edição gere frutos: coletivos formados, artistas reveladas, circuitos fortalecidos.

O documentário L.I.C.A., por exemplo, não é apenas um filme — é um dispositivo pedagógico, que articula histórias de mulheres do rap no Brasil e no mundo. A cada exibição, ele provoca discussões e inspira novas narrativas.


🌍 Cultura periférica como potência global

Não é exagero dizer que o rap feito por mulheres no Brasil é hoje um dos mais criativos e combativos do mundo. A Mostra Feminina de Hip Hop dá palco a essa força, e não por acaso atrai olhares de outros países. Há planos, inclusive, de internacionalizar o projeto, levando oficinas e exibições para países da América Latina e África.

Esse intercâmbio já começa na forma como a Mostra pensa o território: unindo São Paulo e Porto Alegre, articulando zonas periféricas com centros culturais, misturando tradição e futuro.


🚫 O que a Mostra NÃO é

A Mostra não é um evento de nicho. Ela não é “só para mulheres”. Ela não é “alternativa” ou “paralela” aos grandes festivais. A Mostra é o centro. É protagonismo de quem sempre fez o hip hop acontecer no Brasil. É cultura feita com estratégia, identidade e justiça.


📲 Por que isso interessa?

A Mostra Feminina de Hip Hop não é só um evento artístico — é um modelo de gestão cultural baseado em equidade, memória e descentralização. Em tempos de precarização da cultura e avanço de discursos conservadores, esse tipo de iniciativa se torna ainda mais vital.

Para quem trabalha com políticas públicas, educação ou comunicação, é um case de como projetos com recorte de gênero e território podem ter impacto real. Para o mercado cultural, é a prova de que há público, potência e profundidade nas vozes femininas do hip hop.

Para o Brasil, é o lembrete de que o rap é mais que música — é linguagem de transformação.