Parteum fala sobre rimas, mix e master na cena atual.

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Foto – Marcelo Ribeiro.

Parteum além de rapper é um exímio produtor musical. Com uma mente brilhante e sempre falando o que pensa, ele utilizou uma de suas redes sociais para falar sobre as rimas, mixagens e masterizações da cena atual, expressando sua opinião de forma clara e objetiva.

“Eu acho estranho ouvir discos de Rap em que não se ouve a respiração do rimador. Essa é apenas uma das escolhas que artista, produtor e engenheiro de som fazem no processo de captação. Há quem realmente edite a respiração. Dependendo do pré usado, do mic, drive, ganho e distância entre o mic e a boca, a respiração aparece mais.

Certa vez, conversando com um amigo de rima, eu disse que ficava parecendo uma máquina rimando. Entretanto, desde o OSX, incorporei as vozes sintetizadas do sistema em dobras de rima dos meus projetos. O Rap precisa ser o que a gente imagina. Esse lance da respiração, na minha arte, serve pra eu ouvir o resultado e perceber se gravei o verso inteiro de uma vez, ou fazendo os famosos “punches”.

Já faz alguns anos que eu uso a minha escrita pra registrar pensamentos cotidianos, estruturá-los e guardá-los na pasta que eu nunca jogo fora: a da música. Por conta disso, ainda mais que antes, posso dar a impressão de estar falando pra poucos ou ninguém, além de mim. Mas o que é música senão esse monólogo que começa no âmago e, com sorte, vira conversa, ganha o mundo e se converte em raiva ou felicidade de comentário da rede criada por Tim Berners-Lee? Obviamente, estou atenuando o poder e o efeito da música na história do mundo. Nossa sociedade tem mais de técnico de time de várzea que de médico e louco. Atenuar, respiração, gate…

De vez em quando, escrevo um som inteiro a partir de uma nota digital do celular, como essa. Vejo até onde consigo esticar a ideia. Por exemplo, acho engraçado chamarem, em português, versos em que as palavras não rimam, de versos brancos (ou livres). Sempre achei que verso torto ou incompleto explica melhor a decisão do poeta. Então, sempre que posso começo a escrever em cima de uma base, começo a estruturar um verso e deliberadamente paro de rimar num trecho ou outro. Killah Priest, num verso de B.I.B.L.E., disse que conhecimento demais acaba quebrando a rima. GZA falou algo parecido em seu segundo álbum. Prodigy, do Mobb Deep, descanse em paz, tinha o hábito de não rimar – rimando de tempos em tempos. E eu o adoro por isso. Tem também o subterfúgio da rima forçada em que o MCEE decide mudar a pronúncia de uma palavra pra que a rima feche. Todos meus MCEEs prediletos já fizeram algo do tipo.

Esse grau de desobediência frente às regras, diria eu, acadêmicas, ainda me anima. E eu usei o termo, pois ainda acho incrível Kendrick Lamar ter recebido um Pulitzer. Como bem disse Maurinho Sabotage, todo bom rap que escreve fará livros também. E o discurso ainda importa e há um acordo tácito entre batida e rima –– não importa a data de lançamento do som. Rap = ritmo e poesia. Tem com firula, tem sem, tem com mais ou menos espaço entre as palavras, tem com grave na frente, tem com grave mais na moral, tem instrumental, com violão, sem violão, com piano, tocando na FM, sendo objeto de estudo em universidades… e tem, também, aquele juntando poeira na gaveta de alguém que a indústria nunca ouviu falar ou esqueceu.”

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