
Poeta Griot: O guardião das palavras que transforma vivência marginal em arte e educação
Poeta Griot: O guardião das palavras que transforma vivência marginal em arte e educação
Morador de Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba (PR), Poeta Griot carrega em seu nome artístico uma profunda reverência à tradição africana dos griots — contadores de histórias, guardiões da memória e transmissores de saber ancestral no oeste do continente africano. É com essa inspiração que o artista se dedica a preservar, narrar e recriar a história do seu povo através da palavra.
Atuante no movimento da poesia marginal, Poeta Griot entende sua arte como uma forma contemporânea de griotismo: um instrumento de resistência, identidade e reconstrução. “A poesia é uma ferramenta para que os marginalizados contem suas próprias histórias. É sobre reconhecer o passado, entender como ele molda o presente e imaginar outros futuros possíveis”, afirma.
Presença marcante nas competições de Slam, ele usa os palcos como trincheiras poéticas para expor realidades sociais, afetos e subjetividades que muitas vezes são silenciadas. O artista também é integrante da Üngueto Crew, coletivo de rap que reúne artistas com o propósito de expressar e fortalecer a vivência periférica por meio da música.
Além da produção artística, Poeta Griot atua como arte-educador, ministrando oficinas de poesia em escolas, centros culturais e projetos sociais. Seu trabalho educativo se entrelaça com sua prática poética, incentivando jovens e comunidades a descobrirem na palavra um caminho de expressão, autoestima e transformação social.
Entre o microfone e o caderno, entre o palco e a sala de aula, Poeta Griot segue firme em sua missão: guardar, partilhar e reescrever histórias — suas, de sua comunidade e de todo um povo que há muito tempo clama por voz e vez.
Poeta Griot está no meu radar a quase um ano e só hoje eu fui ouvir seu EP “Cidade-Dormintório” Lançado recentemente, o disco marca um potente capítulo na trajetória de Poeta Griot, que faz da palavra sua principal arma de expressão. Com composições afiadas e uma estética bem definida, o projeto mergulha nas camadas sociais, emocionais e políticas de quem vive à margem — geográfica e simbolicamente.
O título do EP não é por acaso. Como falado anteriormente, morador de Piraquara, cidade da Região Metropolitana de Curitiba (PR), Griot traz à tona a realidade de milhares de pessoas que habitam o que se convencionou chamar de cidades-dormitório — locais onde a população reside, mas precisa se deslocar diariamente para centros urbanos maiores em busca de trabalho, estudo e acesso a serviços. Essa vivência de trânsito constante, de ausência de pertencimento pleno, é refletida com sensibilidade e contundência nas faixas do EP.
Mais do que um relato, o trabalho é um manifesto poético e político. A produção musical ficou por conta de Santho (@santho.o), enquanto a captação, mixagem e masterização foram assinadas por Brasileiro (@brasileiroforreal). Paula Koseki (@paulakoseki), foi responsável pela direção visual do projeto e a capa com forte apelo estético e simbólico, foram criadas por Luca Okido (@lucahideo).
Um dos grandes destaques visuais do EP é o videoclipe da faixa “Minha Parte Já Tá Feita”, que entrega uma narrativa potente e uma direção impecável. Com roteiro, direção e montagem assinados por Paula Koseki, o clipe também conta com direção de fotografia e color de Luca Okido, além de uma equipe talentosa:
- Diretora Geral: Paula Koseki
- Diretor de Fotografia: @lucaokido
- Assist. de Fotografia: @putsp__
- Assist. de Produção: @nevesnow_
- Figurino: @_giovannaisabella e @eupretowill
- Realização: @coletivolibre
- Participações: @amestica.br e @r.x.d.x_
Na essência do projeto, Poeta Griot reafirma seu papel como intérprete, compositor e diretor criativo, consolidando-se como uma voz fundamental dentro da poesia marginal e do rap periférico. Ao fazer da sua realidade matéria-prima para a arte, o artista transforma o cotidiano em crônica, e a exclusão em expressão. “Cidade-Dormitório” é, portanto, mais do que um EP — é um retrato social em forma de música, que pulsa resistência, identidade e futuro.
Jornalista, fotógrafo, amante do rap nacional e fã nato do Baianinho de Mauá.