Preta Patrícia e multiartista; MC Taya conta em entrevista exclusiva a Rap Gol Magazine sobre sua trajetória artística e profissional

Preta Patrícia e multiartista; MC Taya conta em entrevista exclusiva a Rap Gol Magazine sobre sua trajetória artística e profissional
Gostou? Compartilhe

mc taya

” preta patrícia e multiartista “

Autora – Mariana Negreiros

MC Taya é uma artista fluminense que dá orgulho de escrever sobre, não apenas pelo clubismo de quem foi nascida e criada na Baixada Fluminense como a autora deste texto, mas sim por ela exalar confiança e ser um grande exemplo de pessoa que batalha pelos seus sonhos e objetivos. 

 

Taya se destaca pela sua capacidade em realizar tudo que se propõe a fazer com um talento ímpar. Além de trabalhar com marketing, produção de conteúdo e cuidar da sua carreira artística na criação e gerenciamento, Taya também toca baixo e é formada em Indumentária (figurino) pela UFRJ, o que dá ainda mais sentido ao adjetivo “multiartista” presente no título desta matéria.

“Eu sempre fui uma baixadense, uma iguaçuana, de muito orgulho! ”

Foto @fernandatine

Apaixonada por música desde criança, principalmente por influência do seu pai, Taya sempre sonhou em ser cantora e poder viver da música, ao longo de sua trajetória, se tornou influenciadora e muitas coisas mudaram em sua vida, mas seu sonho sempre se manteve presente. Com isso, Taya teve que unir as duas coisas: ser influenciadora e rapper, mas será que foi fácil fazer essa junção?

Te falar que não foi fácil não, tive conversas com várias pessoas, desde terapeuta até a minha chefe. Sempre me envolvi com música, desde criança, mas chegou um momento que eu me frustrei e decidi me afastar”, revela MC Taya.

Nesse período de afastamento, Taya começou a trabalhar como influencer, bem no boom que aconteceu entre as marcas de cosméticos, que passaram finalmente a enxergar os cabelos crespos e cacheados e começaram a realizar lançamentos de diversos produtos voltados para esse público-alvo. No momento, a artista passava por sua transição capilar e seu público pedia cada vez mais detalhes sobre suas experiências, com isso, Taya inicialmente criou um blog, depois um canal no YouTube, além de sua participação ativa nas redes sociais. A partir disso, conseguiu destaque com diversas marcas e sua carreira como influenciadora digital começou a se tornar uma realidade rentável e com bons frutos.

 

Nessa época, eu já queria voltar a fazer música, só que a carreira de influenciadora tava voando, tava dando muito certo, várias marcas entrando em contato, eu começando a ganhar dinheiro real com isso, começando a pagar minhas contas, com a oportunidade de morar em São Paulo para trabalhar com produção de conteúdo em uma agência. Então, eu desisti de novo da carreira de fazer música” — MC Taya

“…Eu sempre falo muito de mulheres pretas, mas ficava pensando: ‘será que as brancas estão me escutando?”

Cria de Nova Iguaçu, Taya tem muito orgulho de suas raízes, mas destaca quais foram as dificuldades que a fizeram repensar sobre onde gostaria de estar inserida e sobre sua mudança para São Paulo:

Eu sempre fui uma baixadense, uma iguaçuana, de muito orgulho! Sempre levantei a bandeira da Baixada e de Nova Iguaçu demais, em todos os lugares que eu ia. Eu sempre fui muito envolvida com a cultura de Nova Iguaçu, trabalhei na Secretaria de Cultura de Nova Iguaçu, fiz eventos de moda para os jovens LGBTQIA+ periféricos da baixada.

Eu deveria ter ido pra São Paulo há muito tempo atrás, é o que eu sempre digo. Porque esse meu amor pela baixada me limitou demais, por mais que eu tentasse de todas as formas transformar algo ali, nada acontecia, por mais que eu me esforçasse pra acontecer. Na música, na arte, na cultura, tentei de todas as formas, mas não rolava”.

Foi em um evento de influenciadores em São Paulo que fez Taya abrir seus olhos para as oportunidades que eram geradas ali. Por ser muito observadora e analítica, ela percebeu que naquele evento todas as pessoas que eram de São Paulo, incluindo seus amigos que eram do Rio de Janeiro e foram morar na cidade, conheciam todas as pessoas, de artistas à marcas. Nesse momento, Taya realmente notou que estar em São Paulo é estar no núcleo onde tudo acontece. 

“Eu trabalhei com teatro, a dramaturgia incorporada em filme e novela é algo que me inspira muito. “

A artista então decidiu falar com um amigo que trabalhava em uma agência, dizendo que caso ele conseguisse arrumar algum trabalho fixo para ela em São Paulo, ela se mudaria para a cidade.

Esse amigo conseguiu indicar Taya para um trabalho que exigia as mesmas competências que ela possuía, e ao falar com a responsável, a mesma já conhecia Taya por já tê-la convidado para trabalhar como influencer em uma ação de marketing quando era a head responsável por uma famosa marca de maquiagens e cosméticos. Na mesma hora, ela ligou para Taya e fez o convite. Foi dessa forma que a artista começou a trabalhar na Mynd, que está entre as maiores agências de marketing de influência do Brasil. 

 

Mesmo trabalhando como influencer, o @ nas redes sociais de Taya desde 2014 é @mctaya, embora tenha lançado sua primeira música como MC Taya apenas em 2019 — o que já mostrava seu interesse em realizar lançamentos.

Foi em 2018, ao se mudar para São Paulo, que a artista percebeu uma movimentação diferente na cena do rap nacional, que facilitou a nada fácil vida dos artistas independentes, como o maior acesso a home studios, surgimento de novos produtores e, principalmente, maior visibilidade para mulheres que fazem rap. Foi a partir disso que Taya reuniu sua vontade de fazer rap, mas ainda passou por um obstáculo: sua própria insegurança.

Eu ficava muito nisso, né. Aí eu falei: ‘Será que a galera não vai ficar falando: ah, essa blogueirinha aí agora quer virar rapper, quem essa blogueirinha pensa que é’. E no final isso é puramente auto-sabotagem” — MC Taya

Foto: @brunoginesph

A partir de uma conversa com sua antiga chefe e através do seu trabalho, conhecendo artistas, contratantes e aprimorando seu conhecimento que Taya criou coragem e confiança para realizar seu primeiro lançamento “Preta Patrícia”.

Desde sua infância, Taya sempre foi influenciada por artistas mulheres que lhe trouxeram muita inspiração, principalmente dentro do Funk Nacional, cantoras como Tati Quebra Barraco, MC Carol, Deise Tigrona e Valesca Popozuda, são alguns exemplos de artistas que fizeram e fazem parte da construção do que MC Taya é hoje.

Mas a artista não se limita a apenas um gênero musical. Taya ama misturas musicais, principalmente quando essa mistura envolve o Rap. Seu gosto musical flui entre gêneros como o Rock, o Hardcore, o Indie, a Eletrônica, dentre vários outros. Tudo isso faz com que Taya possua um caldeirão de referências, que pode ser observado ao ouvir suas faixas.

 

“Quando eu lancei ‘Piranha Favelada’… …muita mina achou meio vergonhoso falar isso…”

Quando eu lancei ‘Piranha Favelada’, achei que ia ser mais um som de uma mulher falando a palavra piranha, que é uma coisa que eu escuto desde criança no funk carioca desde os anos 2000. Eu achei que não estaria quebrando tabu nenhum, mas até que não. Eu percebi que me intitular assim dentro do rap… bom, muita gente não entendeu muito bem, muita gente achou legal, mas nem tanto, muita mina achou meio vergonhoso falar isso, gritar isso em alto e bom tom” — MC Taya

Para a artista, as mulheres presentes no rap nacional ainda carregam muito o “fardo do rap de mensagem”, onde a mulher tem que sempre falar que é sofrida, que é uma mulher triste, que a vida é difícil pra ela. Deve-se sim falar, cantar sobre suas dores e combater o machismo, mas mulheres não se limitam a apenas isso. As mulheres têm uma infinidade de assuntos e temáticas para abordar dentro do rap, mas infelizmente ainda é difícil alcançar alguns espaços. Uma mulher abordando temas, que são banais em letras masculinas, ainda choca e consegue menos aprovação. Com isso, ainda pode ser percebido a dificuldade das mulheres se ressignificarem dentro dessa cena.

Ainda sobre ressignificação, Taya comenta sobre como é popular dentro do rap hoje em dia falar a palavra “bitch”, mas “piranha”, que seria o “bitch brasileiro”, quase não é utilizado.

As pessoas ainda acham piranha uma palavra muito pejorativa, mas na favela, piranha é como chamamos nossas amigas: ‘Fala Piranha’, ‘E aí, piranha’. Quando eu fui pra São Paulo e pra Bahia e chamei as pessoas de piranha, quase me bateram. Aí eu percebi que isso é algo muito regional, que em alguns lugares realmente essa palavra ainda carrega esse peso. Mas não deveria ser assim, muita menina fala bad bitch, mas tem medo de falar piranha”. — MC Taya

MC Taya não só ressignifica, como também traz em seu repertório diversas inspirações que são ativadas em si de maneira sensorial, através das experiências vivenciadas pela artista ao assistir filmes, novelas ou ler livros, e que a motiva a criar um conteúdo mais rico. Taya, que é apaixonada por dramaturgia, conta um pouco sobre sua admiração por essa arte e como ela a inspira.

 

Eu trabalhei com teatro, a dramaturgia incorporada em filme e novela é algo que me inspira muito. E eu costumo dizer que o rap é muito teatro, todo mundo é um personagem. Não que todo rapper seja um personagem. O que quero dizer é que a gente sempre interpreta uma história, que pode ser sobre a nossa própria vida, mas é uma história, então tem muita atuação nisso”. — MC Taya

“Eu me inspiro muito em livros, tudo que é uma história contada, que tem esse objetivo de storytelling é inspiração pra mim “

A inspiração de Taya por livros e histórias é algo presente em suas músicas e que vai se tornar ainda mais forte no lançamento do primeiro álbum de sua carreira, que tem lançamento previsto para o ano que vem.

Eu me inspiro muito em livros, tudo que é uma história contada, que tem esse objetivo de storytelling é inspiração pra mim, tem música minha que tem referência de livros e filmes. O meu álbum vai vim bem louco e eu tô buscando inspiração em uma história nacional, história nacional assim de vida. E são várias histórias, sabe? Eu leio muito, eu sou muito cinéfila desde criança. A minha avó era colecionadora de VHS e eu sempre vi filmes com ela desde criança e isso me influenciou muito” — MC Taya

Dentro do estilo musical de Taya, ela se encontra no “Strip Club” e em uma sonoridade mais Pop, o que a difere da atual cena do Rap nacional feminino que está polarizado entre quem faz Drill e quem faz Trap. Dentro de seu estilo, a artista se mostra como uma potência, não apenas musical, como também de empoderamento.

Dentro da música, digo de forma geral, como também há exemplos disso em diversas áreas, há uma tendência de dizer que quando uma mulher branca faz algo, ela está fazendo para mulheres de modo geral. Mas, quando uma mulher preta faz, ela está realizando para mulheres pretas. A branquitude cria um recorte dentro da arte e da criação da mulher preta.

Foto: Brunogomesph

As músicas de Taya trazem sua vivência enquanto mulher preta, com isso, a artista pensava no que outras mulheres de outras etnias pensavam ao ouvir sua música.

 

Eu fiquei muito em dúvida no começo, porque minhas músicas são tipo: ‘Preta Patrícia’. Eu sempre falo muito de mulheres pretas, mas ficava pensando: ‘será que as brancas estão me escutando?’. Não só as brancas, mas brancas, indígenas, amarelas e todas as outras etnias que existem. Será que elas gostam de escutar minhas músicas por eu falar sobre mulheres pretas? Mas eu fico feliz de saber que todo mundo gosta de me escutar. Porque eu falo de mulher preta porque é o que eu sou, é a minha vivência, não tem como eu falar da vivência de uma mulher branca, porque eu nunca vivi isso”. — MC Taya

 

Taya quer que suas músicas atinjam todos os públicos, mas que seja reconhecida como mulher preta.

Eu queria que as mulheres brancas se colocassem ali como mulheres, da mesma forma que eu sou mulher também. Eu não quero que minha música seja focada em um nicho, eu quero que minha arte seja pra todo mundo, mas o que eu quero que as pessoas entendam é que essa arte é feita por uma mulher preta. Não tirar esse meu reconhecimento de feito DE. Mas o para QUEM, bom, é pra todo mundo”. — MC Taya

“…Existe a Taya Oliveira que está no LinkedIn, eu falo com grandes representantes e donos de agências do Brasil inteiro”

Com muita garra e persistência, Taya toma conta completamente de sua carreira e sonha em “ser a Anitta”, para isso, encontrou dentro do seu conhecimento sobre marketing e produção de conteúdo um grande aliado para seus sonhos, sendo este uma potência que a artista domina e faz com excelência reconhecida, mas Taya sente falta das coisas que o anonimato pode proporcionar, como poder simplesmente falar qualquer coisa na internet, mas que toma cuidado com tudo o que publica, pois existe além da MC Taya influenciadora, a Taya que trabalha em uma agência e produz conteúdos para grandes marcas. A artista toma como exemplo Rihanna, que ao entrar no mundo dos negócios parou de publicar fotos nas redes sociais fumando maconha. Resumindo: quando assumimos certas responsabilidades, temos que nos portar de acordo com aquilo.

 

Existe a Taya Oliveira que está no LinkedIn, eu falo com grandes representantes e donos de agências do Brasil inteiro, eu já dei palestra no Creative House do Facebook a convite do Instagram pra muita gente de comunicação no Brasil, então eu tenho muitas responsabilidades”. — MC Taya

 

Em outubro Taya irá gravar o videoclipe de uma faixa bem diferente do que a artista vem produzindo atualmente. Com lançamento programado para novembro, a faixa que ainda não teve seu nome revelado será a primeira lovesong da artista e que reserva algumas surpresas para seus fãs.

 

“Essa vai ser minha primeira lovesong, minha primeira música mais cantada, eu que faço o refrão, e é uma música bem diferente de tudo, com produção do MU540 e tem um feat de um cara muito fod*. Esse é o meu próximo lançamento” — MC Taya

 

Podemos esperar muito de Taya, não só em seu próximo lançamento, mas sim por todos que seguirem. 

Postado