Para quem já está por dentro da cultura do Grime, sabe que é impossível dissociar ou afastar qualquer relação deste gênero com o futebol. Arrisca-se a dizer que o bom futebol jogado e um Grime bem feito exigem dos beatmakers e dos cantores a mesma sagacidade, além de vivência de verdade, da pura.
Isso é incontestável. Do Reino Unido ao Brasil, em qualquer país em que o Grime encontra forças, o futebol está presente: seja nas letras, como nas vestimentas utilizadas pelos artistas, que geralmente são compostas por camisas ou trajes diversos de clubes e/ou tracksuits, consolidando o sportwear, um modo de se vestir mais voltado para o lado esportivo.
Aproveitando essa união, o Rapgol teve a oportunidade e a honra de bater um papo responsa com o cantor SD9, integrante do selo On-Retainer, agência sediada nos Estados Unidos, e com braços na República Dominicana e no Brasil.
SD9 é um MC carioca que, sem dúvidas, é uma das grandes referências no Grime hoje no Brasil. Isso se tornou ainda mais evidente após o lançamento de seu primeiro álbum no ano passado, intitulado “40°.40”.
O artista já possui alguns trabalhos, próprios ou em conjunto, que de um jeito ou de outro trata de sua relação com o futebol e com o seu lifestyle, como “Nigéria 96”, “Dry-Fit, Não Climacool” e “90 minutos”.
RAPGOL – Inicialmente, gostaríamos de saber qual a importância da influência do futebol no Grime e vice-versa para você:
SD9 – “A influência se deve por causa da cultura. Se tu olhar para os EUA, tu vê bastante influência do beisebol, futebol americano e basquete no Hip Hop. Com o futebol acontece o mesmo aqui no Brasil, na Europa, entende? A influência acontece de acordo com a popularidade do esporte. Camisa de time e roupa de esporte no Brasil sempre foi algo cultural, principalmente para nós que viemos do subúrbio. E como o Grime é música de preto, música de pobre, acaba um bagulho se conectando no outro.“
RAPGOL – O que o levou a mergulhar a fundo no Grime?
SD9 – “O que me levou ao Grime foi eu me identificar com a música, com o estilo de se vestir dos caras; e em como o Grime é parecido com Funk proibidão. Cheguei a essa conclusão na época em que eu descobri o que era Grime, que o Grime é o Funk do Reino Unido. E isso me levou a misturar os dois gêneros.“
RAPGOL – O que o levou a abordar o futebol em suas músicas?
SD9 – “Não tem como para mim, como brasileiro e amante de futebol, não falar de futebol nos meus trabalhos. O futebol sempre esteve presente em minha vida. Posso dizer que foi o meu primeiro amor. A razão é o amor pelo esporte mesmo. É o esporte mais bonito do mundo.“
RAPGOL – Possui alguma música predileta que envolva o esporte?
SD9 – “Marcelo D2 – Sou Ronaldo
Ian Wright – Jammer
Skank – É Uma Partida de Futebol“
RAPGOL – Quais são as suas grandes referências musicais?
SD9 – “Tenho várias referências, tá ligado? Mas acho que atualmente as principais estão sendo D Double E e MC Rodson”
RAPGOL – Quais são os seus três jogadores prediletos?
SD9 –“Ronaldo Fenômeno, Zinedine Zidane e Gabriel Batistuta. É difícil falar somente 3, porque também tem Romário, Okocha, Kanu, Ronaldinho, Rivaldo, Roberto Carlos, Davids, Thurram… Eu podia ficar aqui umas duas horas só falando nomes de jogadores que fizeram parte da minha infância/adolescência.”
RAPGOL – Poderia elencar 3 camisas, 3 chuteiras e 3 bolas que você considere as mais lindas?
SD9 –“Gosto da camisa do Vasco 2000; a da Inter de Milão, da época do Fenômeno, feita pela Umbro; e da Seleção Brasileira de 1998. De chuteiras eu gosto muito da primeira Mercurial (Nike) feita pelo Ronaldo; aquela Total 90 branca, meio dourada, além de todas as Mercurial R9 alí dos anos 2000, que era o meu sonho ter uma R9. E de bola eu posso falar as duas da Nike Total 90, e a mais bonita de todas pra mim é aquela da Adidas da Final da Copa de 2002. Se eu acho alguém vendendo essa bola da final de 2002, eu faço de tudo pra comprar, papo reto!”
RAPGOL – Qual o seu time de coração, e porque?
SD9 – “Vasco e apenas Vasco. E não tem motivo, é só amor. Mas depois que descobri toda a história do Vasco, a luta do clube contra o racismo, a história da construção do estádio… Mano, o Vasco é pica! Nós podemos estar a tempos, em um momento ruim, mas a nossa história ninguém apaga. Eu fico puto de estar nessa fase ruim há tantos anos, mas foda-se. Vasco pode estar na série D que eu vou continuar Vasco.”
RAPGOL – Momentos do futebol que marcaram sua vida para sempre.
SD9 – “A final da Copa do Mundo de 2002 e o Vasco campeão da Mercosul, em cima do Palmeiras em 2000. Lembro como se fosse ontem!”
RAPGOL – Pelé ou Maradona?
SD9 – “Pelé… Ainda mais depois que eu vi o filme do Pelé na Netflix”
RAPGOL – Copa de 2022. O Brasil leva o hexa?
SD9 – “Espero que nós ganhemos o hexa, não é? Tem muita seleção boa, mas se nós encaixarmos o time certinho, dá pra levar. Nós temos o melhor jogador do mundo (em referência a Neymar). Se ele jogar pro time e o time jogar pra ele, não tem como dar errado. É só o Tite entender isso.”
RAPGOL – O público que já o acompanha pode esperar futuros trabalhos musicais relacionados ao futebol?
SD9 – “Pode esperar e aguardar. O futebol sempre estará presente nos meus trabalhos. É inevitável!”
E se o público pode aguardar, certamente valerá a pena, pois o trabalho do MC vem demonstrando força a cada dia.
Em seu último lançamento, SD9 apresentou o clipe de “Welcome to the Baile”, onde conta com a participação de D r o p e, VND e Grone, artistas esses que também ocupam espaço na cena.
Eles realizaram o remix de “Welcome do the Party”, do saudoso e já falecido Pop Smoke. Em pouco mais de 1 mês, o trabalho já conta com quase 300 mil visualizações. Confira:
Jornalista, nascido no Centro do Rio em 1990. Já passou por veículos de comunicação impressa e também pelo rádio.
Torcedor do Grêmio, amante do futebol latino-americano e inglês.
