Na corrida do streetwear, as vibrações californianas estão ganhando a vantagem sobre NYC.
Stüssy e Supreme: de um lado, as palmeiras verdes, pranchas de surfe enceradas e jipes sujos de areia – todos os clichês da boa vida costeira da Califórnia. Por outro lado, o barulho de caminhões e rodas de skate se movendo nos half pipes quentes e joelhos ensanguentados que carregam uma inquietação juvenil.
Embora os nomes de James Jebbia da Supreme e Shawn Stussy sejam frequentemente associados aos de Nigo e Hiroshi Fujiwara, que souberam, na época, como cultivar a cena streetwear no distrito de Harajuku, há mais do que algumas pequenas diferenças que levaram a uma cada vez maior diversificação entre Supreme e Stüssy. Desde sua fundação, as duas marcas foram tão iguais quanto diferentes. O que os manteve distantes por tanto tempo, além de uma questão puramente geográfica e de idade (a primeira foi fundada em 1994, a segunda 10 anos antes), foi o público-alvo, que, diferentemente do que se poderia pensar, muitas vezes falava com duas nichos bastante diferentes, o do skate e do surf. Então, assim que o streetwear entrou no mainstream – basta lembrar o já histórico triênio 2015-2018 – as identidades da Supreme e da Stüssy começaram a convergir no mesmo caldeirão espaçoso, mas enfatizando as respectivas diferenças.
Isso aconteceu quando o hype da marca nova-iorquina cresceu exponencialmente: filas enormes lotavam as lojas flagship da Supreme, os logos da box eram revendidos a preços que hoje parecem descontrolados. Já a Stüssy era sinônimo de uma alternativa mais acessível – tanto em termos de preços de varejo quanto de disponibilidade. As peças, no momento do lançamento, não esgotavam, nem se tornavam presa do mercado paralelo dominado por plataformas como KLEKT e StockX. Até porque, considerando também o sucesso discreto do Palace Skateboards naquela época, a Stüssy era cool, mas não era hype. Hoje em dia, a situação mudou drasticamente: Stüssy é a marca mais desejada entre as três, enquanto Supreme enfrenta um momento de grande incerteza tentando recuperar uma relevância já perdida. Como Stüssy “superou” a Supreme
Com a ascensão imperiosa do menswear 2.0, uma considerável perda de interesse na logomania e a consequente mudança de gostos por parte de uma ampla audiência de jovens apaixonados por moda que habitam o TikTok e o Instagram, a Supreme (e o imaginário e a estética a ela fortemente ligados) perdeu o allure que um dia a tornou única, passando, de fato, o bastão para a Stüssy. A marca fundada por Shawn Stussy teve a grande habilidade de capturar a mudança de gostos do público da moda, entendendo que a estratégia certa seria preservar um DNA expresso através de gráficos, logotipos e cópias irreverentes, combinando-os com peças minimalistas que visam destacar as silhuetas. Se o da Supreme é um produto, o da Stüssy é um estilo, tanto de vestir quanto de viver. A Stüssy também mostrou um compromisso louvável nas escolhas de co-branding, que sem dúvida deram um tom diferente à marca: basta pensar nas parcerias com Tekla e Our Legacy, sem deixar de mencionar as mais acessíveis e “comerciais”, como as parcerias com Converse e Levi’s. Hoje, a Stüssy ainda vende moletons e bonés de caminhoneiro decorados com o Big Crown S Logo, mas não tem problemas em refinar um menswear sabiamente mais minimalista, compartilhando o campo de batalha com novos e antigos concorrentes.
A Stüssy não só percebeu que o streetwear era tanto um trampolim quanto uma “jaula”, mas também soube como inverter suas próprias raízes sem torná-las caóticas e desiguais aos olhos dos potenciais compradores – novos e antigos fãs da marca. Esse processo ocorreu de forma tranquila por duas razões. O primeiro diz respeito a ter se envolvido com um público muito diferente daquele com quem a Supreme se encontra dialogando diariamente. Ainda existem muitos colecionadores de Stüssy hoje em dia, no entanto, raramente se ouvem arrependimentos sobre itens lançados há algum tempo – poucos esperam um retorno da Stüssy aos anos 2010, por exemplo, ao contrário dos fãs da Supreme que são mais apegados do que nunca a um passado que parece tão inalcançável. Em segundo lugar, o fato de as peças da Stüssy não terem desfrutado da mesma iconocidade das da Supreme (pense nas Box Logo ou nas Photo Tee) permitiu que ela se sentisse mais despreocupada em veicular uma imagem renovada de si mesma: não é de se surpreender que nos próximos anos a Stüssy lance cada vez mais clássicos instantâneos apostando em trabalhos, padrões ou silhuetas em vez de estampas repetitivas e decisivamente menos versáteis.