TIAGO MAC
Há pelo menos 10 anos, Tiago Mac vem apresentando trabalhos excepcionais, dignos de uma escola que consolidou o Rap nacional no início da década passada. Quem nunca ouviu sua voz marcante em “Capricorniana“, do Poesia Acústica, por exemplo?
O cantor, que é cria da Barreira do Vasco, na Zona Norte do Rio de Janeiro, acaba de completar seus 31 anos de idade e, como presente, trouxe ao público o seu mais novo EP, intitulado “Minha Alma Canta II“. A obra faz parte de uma trilogia e contém cinco faixas, contando com as participações de Sant, Gutierrez, e dos produtores dinamarqueses Esben Es Thornal, FredNukes, além do carioca JXVN$.
Sendo assim, nós da RAPGOL Magazine não poderíamos deixar de conversar com o artista, onde, além do EP, falou ainda sobre sua origem, trajetória profissional e também pela paixão que tem pelo seu clube do coração, o Vasco da Gama, entre outros assuntos.
Confira abaixo a entrevista exclusiva que fizemos com Tiago Mac.
Agradecimentos: Dudu Pacceli – Plush Music
“NÃO TEM SOL”
RAPGOL Magazine – Em primeiro lugar quero agradecer imensamente por tirar um tempo em sua agenda para trocarmos essa ideia. Gostaria de saber com suas próprias palavras quem é o Tiago Mac e de onde ele veio.
Tiago Mac – Eu quem agradeço pelo convite. Sou o Tiago Mac, acabo de completar 31 ciclos, Filho de Viviane e Marcos Aurélio, nascido e criado na Barreira do Vasco, comunidade em São Cristóvão na Zona Norte do Rio de Janeiro.
RAPGOL Magazine – Quando e como foi seu início na música?
Tiago Mac – Essa conexão vem desde cedo, por influência do meu pai que era pagodeiro, pique anos 90. Começou no repique de mão, e depois tinha uma bateria no meio da sala. Eu sempre quis ter um grupo de pagode na infância.
RAPGOL Magazine – Quais são as suas maiores referências ao realizar seus trabalhos musicais? Sejam elas da música ou não.
Tiago Mac – Eu tento pegar um pouco de tudo que fez/faz parte da minha jornada. Tem muita referência de música brasileira no geral, eu aprendo muito com os amigos.
Pensa no auge do rap em 2011 eu venho dessa escola. Minha família é minha inspiração, a galera é muito tranquila. Vivo por eles. Ficou uma responsa grande pra mim. Me sinto privilegiado por ter essas pessoas do meu lado.
RAPGOL Magazine – Quais que você pode apontar como os maiores obstáculos, as maiores dificuldades enfrentadas até aqui como profissional?
Tiago Mac – Eu nunca consegui manter uma frequência. Acho que a falta de estrutura e alguns problemas pessoais são coisas que influenciam diretamente. Tive uma perda inesperada e forte, logo em seguida veio a pandemia.
Jogador só evolui jogando, não tem como ficar só treinando. Faltou um pouco, mas agora eu acredito que é um novo momento. Não posso parar.
O primeiro EP “Minha Alma Canta I” foi lançado em 2017, onde Tiago Mac explora os gêneros do Neo Soul, R&B e Hip Hop, relatando a inocência de um jovem Tiago no início de carreira, com sede em realizar seu sonho. Na segunda parte da trilogia, Mac expande seu universo artístico em um projeto denso e versátil, com influências do Funk Carioca, Trap e Synth Pop.
Lançado no último dia 12 de agosto, o EP “Minha Alma Canta II” contém cinco faixas:
Penumbra – A faixa abre o disco e faz conexão com a última música da Parte I da trilogia, trazendo a ideia de que o tempo passou mas nada se encontra diferente. “A QUEDA”.
Solstício – É uma conversa do artista consigo mesmo, retratando o momento em que ele se pergunta: “Vale a pena?”. “A REFLEXÃO”.
Raro – Retrata o momento em que o personagem se vê forte e entra em contato com sua inspiração. “O ENCONTRO”.
Não É Papo de Amor – É o retrato de um vazio encontrado após o fim. “A PARTIDA”.
Não Tem Sol – Encerra o EP com questionamentos internos sobre a importância dos dias mais sombrios e manter a chama acesa. “A ESPERANÇA”
RAPGOL Magazine – Você acaba de lançar o seu mais novo EP, intitulado “Minha Alma Canta II”, o qual compõe uma trilogia, com a primeira parte lançada em 2017. Como foi e quanto tempo levou o processo de idealização e de produção?
Tiago Mac – O primeiro EP é de 5 anos atrás. De lá pra cá eu fiz algumas collabs, que foram importantes pra estar aqui hoje.
Eu encontrei o Nicolas que é Dinamarquês e reside aqui no Brasil. A gente já tinha se conhecido há um tempo atrás, mas eu não estava muito nessa onda, várias neuroses, ainda mais com gringo.
Nesse período pandêmico que nós vivemos, nos encontramos de novo e foi tipo um feixe de luz. Eu estava muito vulnerável e precisa expurgar muita coisa.
Brotou várias batidas de vários produtores: E$, Freddy Nukes, Rune Rask entre outros que eu tive a honra de ir lá na Dinamarca e conhecer. Foram basicamente dois anos de trabalho.
RAPGOL Magazine – Tendo em vista que você está produzindo uma trilogia, gostaria de saber o que cada uma das três partes representa para você, e para o público?
Tiago Mac – Uma vez eu li uma frase que fez muito sentido e tentei trazer isso pra essa jornada do EP: “As pessoas vivem três vidas. A primeira termina com a perda da ingenuidade, a segunda com a perda da inocência e a terceira com a perda da própria vida.”
O MAC I eu sinto que é essa perda da ingenuidade, a gente aprendeu fazendo. Lá em 2013 eu tive um professor, mentor e amigo que foi muito importante pra essa evolução, o Xará. Com um senso crítico e um talento inquestionável. Ele acreditou na minha parada e me ensinou muito.
O MAC II é a perda da inocência, é o momento em que ele sai pra descobrir outras coisas, Ele já tinha saído da gaiola na busca de se encontrar. Vivendo e experienciando. Mas nem tudo são flores….
O MAC III com toda vulnerabilidade, pelo momento pandêmico, pelas perdas, traz uma sensação mais intimista. É um outro momento. A perda da vida é muito forte, mas trazendo isso pro meu universo, entendo como um fechamento de ciclo, uma mudança e abertura de novos caminhos.
RAPGOL Magazine – Em “Minha Alma Canta II”, você convida para colaboração artistas como Sant e Gutierrez, além de JXVN$ e dos dinamarqueses Esben Es Thornal e FredNukes na produção musical. O que o levou a escolher esses artistas para participar desta etapa do seu projeto?
Tiago Mac – Com meu querido e amigo Sant não é nenhuma novidade. Eu não sei o que é, amo esse mano. não me pergunte, mas existe algo além. Se pá nós já fez até música juntos em outras vidas e estamos aqui por um propósito. Flui demais, Eu sou muito fã dele!
Pensa o que é você poder fazer várias canções com alguém que você admira.. vamos fazer música pra sempre.
O lance com o Gutierrez foi muito doido. Eu estava na casa de Damien (um produtor excepcional e extremamente fora da curva) mixando o EP. Tínhamos dado uma pausa para descansar e ficamos ouvindo uns sons antigos que ele já tinha produzido
Começou a tocar o disco “Corpo Fechado” do Gutierrez, que inclusive é um clássico do Rap. Eu voltei pra casa e não conseguia parar de ouvir Era toda hora mermo… travei numa música e só colocava ela.
Depois eu fui entendendo o por que. Fui pro estúdio depois de um dia super estranho, nunca tinha tido esse lance de crise de ansiedade. Nesse momento eu descobri que música é o melhor remédio.
Escrevi raro, gravei e fiquei pensando em quem chamar pra fazer essa participação. Fui dar um rolé no Twitter e vi o Gutierrez e pra minha alegria ele me seguia.. Foi o choque. Mandei mensagem pra ele que topou na hora. Raro foi a última música a entrar no EP.
RAPGOL Magazine – Neste novo EP, podemos observar que você navega por vários estilos musicais, demonstrando versatilidade. Por exemplo, temos o funk, Symph Pop, bem como um Trap com levada mais lovesong. Pra você, isso acaba destoando um pouco do Rap ou pelo contrário?
Tiago Mac – Cara, eu acho que não. Independente do estilo se você faz com sinceridade, verdade. Nesse EP eu tentei manter minha essência.
RAPGOL Magazine – Aqui na RAPGOL Magazine nós gostamos tanto de assuntos relacionados à música e ao lifestyle do futebol. Sendo assim, a primeira pergunta que cabe fazer é: Qual o seu time de coração e porque?
Tiago Mac – Sou VASCO DA GAMA da meu bem, campeão de terra e mar.
Tive influência de uns amigos da minha rua, Rafael e China, que me levaram a primeira vez no estádio. Eles eram mais velhos do que eu.
Fui nascido e criado na Barreira do Vasco, comunidade ao lado de São Januário, que inclusive tem mais flamenguista do que vascaíno. Porém, se o flamengo é campeão, tu vai até ouvir uma comemoração, agora se o Vasco é campeão, é certo ter uma volta olímpica na favela pelos próprios moradores. Isso diz muita coisa.
Não sei o que rolou, na minha família geral é Flamengo. Só que eu levo a cruz de malta no meu peito desde que eu nasci. “E eu não paro…” (risos)
RAPGOL Magazine – Quais são as suas três camisas de time favoritas?
Tiago Mac – Só tenho as do Vasco.
RAPGOL Magazine – Quais são os seus três jogadores nacionais prediletos e os três internacionais?
Tiago Mac – Diego Souza, Edmundo e Ronaldinho Gaúcho.
RAPGOL Magazine – Um momento do futebol que jamais vai sair da sua memória.
Tiago Mac – Pô, o vasco já me deu alguns bons momentos e uns não tão bons assim.
2011, Vasco x Coritiba final da Copa do Brasil. Aquele gol do Éder Luiz com o sopro divino de Deus. Muito tempo sem ganhar nada, saí correndo da minha casa e me ajoelhei nos caquinhos de São Januário.
RAPGOL Magazine – Qual seria a escalação dos sonhos do seu time?
Tiago Mac – Vou montar um time só com os jogadores que vestiram a camisa do Vasco:
⁃ Carlos Germano
⁃ Fagner
⁃ Mauro Galvão
⁃ Dedé
⁃ Felipe
⁃ Juninho Paulista
⁃ Juninho pernambucano
⁃ Pedrinho
⁃ Philippe Coutinho
⁃ Edmundo
⁃ Romário
RAPGOL Magazine – Na sua opinião, pelo andar da carruagem, acha que o Brasil pode levar o hexa esse ano?
Tiago Mac – Tô acreditando, irmão.. várias evidências nos levam a manter uma esperança. É muito louco como o nosso país tá atrelado ao futebol, né. Mexe com a vibração do brasileiro.
RAPGOL Magazine – Voltando ao lado musical, um single em collab o qual você participou e que fez muito sucesso foi o “Poesia Acústica 3: Capricorniana”. Você considera esse momento um divisor de águas em sua carreira ou foi a partir de outro momento?
Tiago Mac – Eu acredito que na minha jornada foram vários momentos, várias pessoas especiais que tive o prazer de conhecer e que contribuíram com a minha música. Sem dúvidas essa participação foi muito importante. A mais forte. Me abriu muitas portas.
RAPGOL Magazine – Gostaria de saber a sua visão sobre a cultura do Rap da Zona Norte do Rio de Janeiro, visto que você é cria daqui. Como você vê essa dinâmica hoje em dia?
Tiago Mac – Eu vejo uma dificuldade muito grande. muitos talentos mas, que assim como eu, não conseguiram alinhar o trampo com a falta de estrutura e assuntos pessoais por exemplo.
O senso de coletividade é um pouco falho. Enquanto outras pessoas que também tem problemas porém diferente dos nossos, tão se organizando e a gente vai se degladiando friamente. As coisas não se mantém, acende e apaga.
Mas tem que ser levado em conta, tudo o que rola, os traumas, a dificuldade, a vida pessoal de cada um. Eu acredito muito na força do movimento coletivo. Quem sabe um dia muda…
RAPGOL Magazine – Infelizmente passamos por períodos difíceis nos últimos dois anos, por conta de uma pandemia que assolou nossa sociedade. Como foi para você, nesse tempo, lidar e conciliar a vida pessoal com projetos profissionais?
Tiago Mac – Então, foi muito difícil. Eu tinha viajado com o poesia acústica pra fazer show em janeiro de 2020 nos EUA, nem tava rolando pandemia ainda. No rio chegou legal depois do carnaval.
Quando eu volto, infelizmente não consigo mais falar com meu pai. Ele já tinha voltado pro outro plano. Logo em seguida veio esse momento pandêmico, diferentemente do que poderia ser, eu fiquei mais próximo da minha música, mais próximo dele e consegui tirar esse tempo pra me organizar.
No início foi muito difícil, Hoje eu consigo enxergar um caminho.
RAPGOL Magazine – Qual seria o feat dos seus sonhos?
Tiago Mac – Tiago Mac feat Jorge Ben – o maior artista brasileiro.
RAPGOL Magazine – Podemos contar com mais alguma novidade, além do EP, ainda este ano?
Tiago Mac – Nesse período fiz os EPs MAC II e o MAC III que não vai demorar 5 anos pra chegar não. Tá mais perto do que a gente imagina, chega esse ano ainda.
Entre outras coisas paralelas também com algumas participações de uns manos lá de fora. Quero poder juntar os 3 EPs e vender um show nesse formato.
RAPGOL Magazine – Qual a mensagem que você gostaria de deixar para o pessoal?
Tiago Mac – O lance é o seguinte, acreditar! Fazer o que acredita com sinceridade e acreditar de novo.
Eu sou um cara mais na minha, hoje a gente vive numa era de exposição muito grande, se você não mostra você não fez, todo mundo quer seu lugar ao sol. Lógico que a gente quer ser visto, quer conforto, quer dinheiro, mas tem que ter verdade.
Eu não quero ficar aquém do que tá rolando mas também não quero mudar a ponto de ser quem eu não sou. Conseguir conciliar isso hoje é difícil, é o slackline da vida.
Espero dessa vez manter uma frequência e me conectar através da minha música com essa galera. Mesmo sendo uma parcela pequena, já é um começo e é onde eu me sinto agora.
Tiago Mac é um artista versátil e merece muito ser ouvido. Confira abaixo o EP “Minha Alma Canta II”, através do Spotify: