Tasha e Tracie
Autor – CRIAA
Tasha e Tracie Okereke, 26, paulistanas, gêmeas. São DJs,Mcs, estilistas, diretoras de arte, produtoras culturais e blogueiras, ativistas periféricas.
Trabalham em prol da autonomia e da auto-estima do jovem favelado. À frente do projeto Expensive $hit, suas armas são a moda, a música, a arte, a história, a cultura, o conhecimento e a internet.
Dividem e espalham informação para os seus, abordando assuntos urgentes e importantes, e levam cultura e entretenimento gratuito para o seu território, o Jardim Peri. Talentosas e focadas no jogos, estão de volta com o segundo EP “Diretoria”.
“Preta chave da favela”
Após lançar o aclamado “Rouff” em 2018, a dupla de artistas lança o esperado “Diretoria”, composto por 6 faixas, produzidas por Pizzol, Mu540, Devasto, CESRV direção artística de DonCesão, masterizado por Pizzol e lançado pelo selo Ceia Ent.
“Enxergamos “Diretoria” como um pé na porta. A gente tentou passar um recado que somos MC’s, sem essa de RAP de Mina. Com esse EP conseguimos passar a mensagem e agora podemos entrar em outros assuntos e vibes assim como falar de sensibilidade, que são os próximos passos”, comenta Tasha.
Em “Diretoria”, seguem presentes alguns samples de funk e brasilidades, como é o caso da música que leva o nome do trabalho, “Diretoria”, carregada de referência às escolas de samba.
“Nas reuniões sobre o EP, Cesão pensou nessa idéia e como a família da Nicole vem da cultura do carnaval, resolvemos trazer essa referência, motivo pelo qual a capa do disco nos mostra de outra forma”, complementa Tasha.
“Com nós você não vai”
As letras carregam falas sobre conquistas e empoderamento, discurso esse alinhado com toda trajetória da dupla na música e no lifestyle. Ao contrário do primeiro EP “Rouff”, lançado em 2019, esse novo trabalho traz sensações mais divertidas.
“Apesar de ser um disco mais denso, nos sentimentos mais soltas. Tudo acaba sendo político quando é uma pessoa marginalizada fazendo, mas a diferença é que estamos sobrecarregadas com tudo que tem acontecido no mundo e por isso a gente se propôs a colocar nosso momento numa proposta mais divertida”, complementa Tracie.
Em 2020, a dupla esteve presente em todas as premiações da cena do RAP, sendo indicadas como melhores artistas e revelação da cena.
Em 2021 Tasha, Tracie e toda equipe responsável pelo projeto, nos entregam um trabalho que foi muito bem pensado e elaborado.
Idealizado para soar como um disco moderno, malandro e ousando, o trabalho apresenta um fundamento e muitas referências.
Desde a primeira até a ultima faixa o projeto nos leva em uma viagem que transita desde o Dirth South com uma pegada no estilo feito no Texas, como na faixa “Amarrou”, passando pelo Bounce, Trap, até brasilidade do funk e a junção com bateria de escola de samba como acontece na faixa título “Diretoria”.
Sem muitas participações, o EP tem uma quantidade de convidados na medida certa. Veigh, Vinex, Febem, Onnika e Yunk Vino estão no projeto e souberam manter muito bem o alto nível.
A Rapgol Magazine conversou com as artistas que tiraram um tempinho para falar sobre o EP “Diretoria”, a forma de construção do projeto, sonoridade, estética e muito mais, confira:
Obrigado por conversarem conosco e gostaríamos de saber logo de início:
Quanto tempo demorou o processo de criação musical do EP ?
O processo total de construção deste EP durou uns dois meses, já tínhamos algumas rimas escritas, mas a gente sempre ajuda na construção dos beats, falando qual sample gostamos e etc.. Então durou um dois meses.
Como vocês têm lidado com a ansiedade de ainda não terem sentido a resposta ao vivo do público após os últimos projetos?
Nossa! A gente tenta se cuidar o máximo possível, porque a ansiedade realmente pega, ainda estamos tentando entender se é uma bolha ou se de fato está acontecendo, mas o que percebemos é que as pessoas passaram a nos reconhecer, pedem para tirar foto e tal.
Estamos curiosas para saber a receptividade dos sons nas festas, entender como as pessoas estão sentindo as músicas, ver nos shows as pessoas cantando.
Já vimos vídeos de várias pessoas cantando e isto foi um choque. Ainda não temos uma dimensão de como a música está chegando nas pessoas.
Vocês se mostram bem versáteis nas rimas, a que vocês atribuem esta habilidade de transitar entre vários estilos?
Esta nossa versatilidade vem da forma que enxergamos a música, para nós a música é uma coisa só, não se divide em ritmos, gêneros e subgêneros.
Eu acho que a música te toca ou não te toca. Um exemplo foi quando começamos a rimar, eu não recuso nenhum tipo de beat, se ele me tocar e eu achar um desafio eu falo – nossa da hora quero entender como eu vou fazer isto – às vezes vejo muita gente dizendo que só consegue rimar em um tipo de beat ou na mesma linha e isto talvez seja uma “caixinha” de segurança.
Sempre ouvimos e gostamos da música independente do estilo, seja um forró, um pagodão, até mesmo de um rock. Nós nunca separamos, sempre pegamos uma referência de acordo com o que sentimos a música. E isto acaba transbordando em nossas composições.
Em vídeos publicados recentemente acompanhamos a emoção da sua família com as últimas conquistas. Qual a importância do apoio familiar na construção deste projeto?
É muito importante o apoio familiar, porque você vê as pessoas que te criaram acreditando em você e podendo ver os frutos, vê que é uma possibilidade realmente viver de música e conquistando as coisas. Para nós é muito gratificante.
Como vocês estão lidando com a fama que vem acompanhando todo este sucesso?
Esta parada da fama, estamos entendo agora. Ainda não sabemos a proporção, porque ficamos bastante em casa ou saímos para lugares que são pontuais, então não dá para entender ainda a dimensão, tá ligado?! Acho que agora com o EP, com as coisas que vem acontecendo, esta parada do Radar Brasil, as pessoas reconhecem mais e é doido. É um processo que vamos ter que nos acostumar.
Vocês sempre estiveram preocupadas com a estética de seus trabalhos, seja ela visual ou sonora.
Estar na moda é se sentir bem com o que está vestindo?
Acho que estar na moda é se conhecer, saber o que vc realmente gosta. Para se vestir bem tem que se conhecer.
Como foram as escolhas das participações do EP?
A gente ouviu alguns dos sons prontos e pensou quem tinha mais a ver com cada som.
Como já dito por vocês em outra oportunidade, o EP tem uma sonoridade que conversa bem com a periferia.
Como vocês estão vendo esta ascensão do Grime e do Drill em parceria com o Funk?
Acho que faz muito sentido, combina muito e ficamos felizes por agora os movimentos estarem se misturando, porque finalmente as pessoas entenderam que um não é melhor que o outro, nois é a mesma fita! Os caras do funk, vários se influenciam pelo Rap e eu e vários mcss nos inspiramos no funk, já rolou muito preconceito das pessoas do Rap com o funk e isso pra nós nunca fez sentido.
As fotos deste projeto foram feitas pela excelente Steff Lima, qual o sentimento que ficou após a escolha das imagens finais?
Dificilmente a gente fica 100 por cento satisfeita mas esse foi um trabalho que a gente amou o resultado, ficamos muito felizes porque a capa imprime muito a vibe dos sons.
Deixe uma mensagem para todes que estão acompanhando o trabalho de vocês.
A gente só tem a agradecer a quem fortalece nosso trabalho, nada seria possível sem essas pessoas. Todo ano há seis anos a gente evolui e nosso trabalho fica mais conhecido e é muito lindo ver como nosso público faz questão de apresentar nosso trabalho sabe, sem palavras a geral que ouve e compartilha, também queremos agradecer muito ao Central Tasha e Tracie e ao Portal Tasha e Tracie que fortalece demais, subir o nível só é possível quando a gente tem apoio, só agradece.
TRACKLIST – PARTICIPAÇÕES – PRODUÇÃO
⦁ Wanna’s Be – Intro (Prod. Pizzol)
⦁ Rouff (Prod. CESRV)
⦁ Amarrou feat. Veigh (Prod. DJ MF)
⦁ Cheat Code feat. Vinex (Prod. Devasto)
⦁ Lui Lui feat. Febem e Onnika (Prod. Mu540)
⦁ SUV feat. Yunk Vino (Prod. Mu540)
⦁ Diretoria (Prod. Pizzol)