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Vazamento da nova camisa da Seleção revela falhas na produção global

por CRIAA · 4 de dezembro de 2025

A repercussão em torno da possível camisa da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 2026 reacendeu um debate importante: por que informações sigilosas de produtos globais vazam com tanta facilidade? A resposta, segundo especialistas, é muito menos cinematográfica do que o imaginário popular: o problema raramente envolve hackers. O maior risco está onde sempre esteve — na operação humana.

O episódio ganhou tração após um site especializado divulgar imagens da suposta nova amarelinha. A situação repete o que já havia acontecido em 2024, quando fotos da controversa versão vermelha circularam antes mesmo de a marca confirmar sua existência. No centro da discussão está a cadeia global de produção do setor esportivo, repleta de brechas que tornam o sigilo uma tarefa quase impossível.


Onde o sigilo se perde? 👀

Para o especialista em Direito Empresarial Fernando Moreira, doutor em engenharia de produção com ênfase em Governança e Compliance, a explicação é direta: os vazamentos surgem em etapas previsíveis.

Quando o desenho está restrito ao time criativo, o controle é rígido. Poucas pessoas têm acesso, tudo é monitorado, e quase não há risco. A ruptura acontece na virada para a fase industrial.

A fabricação, frequentemente terceirizada em países asiáticos, coloca dezenas — às vezes centenas — de trabalhadores diante do protótipo. Qualquer um com um celular no bolso tem poder para gerar o primeiro vazamento. Não há hacker necessário.


O risco cresce na fase comercial 📦

A partir do momento em que amostras, catálogos e materiais de pré-venda começam a circular entre lojas, distribuidores e equipes operacionais, o risco explode.

Segundo Moreira, a maioria das fotos vazadas vem justamente de estoques e depósitos, registradas antes da exposição oficial.

Um dado reforça essa tese: o Verizon Data Breach Investigations Report (DBIR) 2024 aponta que 68% das violações globais de dados têm origem em erro humano, não em ataques coordenados.

As causas incluem:
• acessos indevidos
• falhas operacionais
• manipulação inadequada de materiais
• descuidos no manuseio de arquivos

Ou seja: o fator humano continua sendo o elo mais frágil da cadeia.


E no ambiente digital? O vilão ainda é humano 🖥️

Mesmo online, os vazamentos raramente têm origem criminosa.

Erros de publicação em sites oficiais, arquivos liberados antecipadamente por engano, atualizações automatizadas e até bancos de dados de jogos como EA Sports FC (EAFC) antecipam informações sem que haja invasão de sistemas.

Bots que monitoram alterações em páginas públicas completam o cenário: encontram mudanças antes mesmo de quem as publicou perceber.

“São falhas operacionais, não ataques”, afirma Moreira. O mito do hacker mascarado escondendo linhas de código é, na maioria dos casos, apenas mito.


O papel dos mock-ups e a confusão das redes 🎨

Outro elemento importante é a proliferação de mock-ups criados por fãs. Alguns são tão bem feitos que influenciam boatos e confundem o público.

Sites especializados conseguem diferenciar o que é real e o que é conceitual — mas as redes sociais, com sua velocidade característica, misturam tudo numa avalanche de conteúdo antes do lançamento oficial.


Vendor Risk Management: o calcanhar de aquiles das gigantes globais 🏭

Fernando Moreira destaca que o caso é um exemplo claro de falha em Vendor Risk Management, a gestão de riscos de terceiros.

Por mais que existam acordos de confidencialidade (NDAs) e protocolos de segurança, eles simplesmente não conseguem controlar centenas de pessoas envolvidas no ciclo industrial e comercial. Quanto mais o produto se aproxima do lançamento, maior o número de mãos por onde ele passa — e mais difícil é conter vazamentos.

Para o especialista, o caso deve ser classificado como um vazamento operacional: previsível, recorrente e estrutural ao modelo de produção terceirizado das grandes marcas esportivas.


Por que isso interessa? 💡

Porque revela algo maior do que uma camisa. Expõe como a indústria esportiva global funciona e onde estão seus pontos de tensão.
Mostra que a Seleção Brasileira, suas marcas e seus produtos estão inseridos em um ecossistema que mistura alta tecnologia com processos vulneráveis e dependentes de pessoas.

Para um país que transforma camisas de futebol em símbolos culturais, entender essa cadeia é entender também por que os “vazamentos” viraram parte do ritual — e por que eles continuam acontecendo.

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