Wu-Tang se despede dos palcos — e Elliott Wilson explica por que isso importa

Wu-Tang se despede dos palcos — e Elliott Wilson explica por que isso importa

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✍️ Quando seu ídolo cobre os seus ídolos

Poucas coisas me formaram mais como jornalista do que ler Elliott Wilson. Sua forma de narrar o hip-hop vai além do factual — é vivência, é testemunho, é código cultural em forma de texto. Por isso, ler o Elliott explicando sobre a despedida do Wu-Tang Clan é uma mistura entre quem inspirou minha escrita e quem moldou o próprio rap como o conhecemos.

E quem melhor para refletir sobre o impacto de Wu-Tang do que alguém que estava lá desde o começo?

Elliott falou sobre o nascimento do grupo, a gênese de Protect Ya Neck, o caos performático dos anos 90 e a maturidade da última turnê. Mais que uma retrospectiva, é um panorama sobre o que o fim de Wu-Tang representa para o hip-hop — e para a cultura como um todo.

🛡️ Wu-Tang: uma força independente que moldou o jogo

“Eles vieram de Staten Island, um lugar fora do radar do rap, com um time completo de MCs talentosos e uma visão única.” — Elliott Wilson

Lançando seu primeiro single “Protect Ya Neck” de forma independente, o Wu-Tang chegou como um fenômeno underground, trazendo uma sonoridade suja, crua e sem concessões, marcada pela produção de RZA e a multiplicidade de estilos de seus integrantes.

Mais do que isso, inovaram no modelo de negócios: um contrato coletivo para o grupo e individuais para cada membro, o que permitiu que Method Man, Ol’ Dirty Bastard, Raekwon e outros criassem suas próprias trajetórias sem abandonar a irmandade do coletivo.


🧨 “Protect Ya Neck”: a faísca que incendiou a cultura

“Foi cru. Focado. Cada MC tinha seu momento. Parecia real. Parecia vivo.” — Elliott Wilson

Elliott lembra o impacto imediato da primeira faixa: um posse cut de respeito, que revelava carisma e identidade nos versos e que abria espaço para uma cultura baseada não só em rima, mas em códigos visuais, sonoros e espirituais.

A virada definitiva? O clássico “C.R.E.A.M.”, que catapultou o grupo do circuito nova-iorquino para o status de lenda global.


🏁 A última turnê é pra valer — e você deveria ver

“A diferença é que agora todos os membros estão comprometidos. RZA quer fazer isso do jeito certo.” — Elliott Wilson

Elliott relata que o grupo aprendeu com erros do passado, como a frustrada turnê com o Rage Against The Machine nos anos 90. Hoje, com mais maturidade, eles valorizam o palco e querem encerrar com todos os membros unidos, entregando um espetáculo onde cada artista terá seu momento: Method Man, Ghostface, Raekwon, GZA, todos juntos — e em forma.

“Quando dizem que é a última turnê, é porque sabem que talvez nunca mais consigam reunir todos assim de novo.”


🔁 Sem Wu-Tang, não existe o underground como conhecemos

“Eles foram a base do que se entende como cultura underground. E criaram um símbolo que ainda hoje significa algo.” — Elliott Wilson

O legado do grupo vai além da música. A logo, a estética, o espírito DIY (faça você mesmo), o branding intuitivo e poderoso — tudo no Wu-Tang foi visionário. Elliott cita que, em uma edição da The Source, a capa mais vendida não teve nenhum rosto na foto, apenas o “W”.

“Era mais do que música. Você vestia o Wu-Tang como uma causa.”


🤖 Por que isso interessa?

A despedida do Wu-Tang não marca apenas o fim de um grupo — marca o encerramento de uma era onde a coletividade era o coração do rap. Em tempos de egos inflados e colaborações plásticas, o Wu-Tang lembra que irmandade, propósito e identidade coletiva são combustíveis de longa duração. Eles nos deram mais do que álbuns — nos deram linguagem, coragem e cultura.

E, nas palavras de Elliott Wilson:

“Wu-Tang é o time ideal do hip hop. Um time que venceu junto, tropeçou junto, e agora escolhe se despedir junto. Isso é mais que rap — é lição de vida.”