Com colaboração de Camilla Guimarães
Quem costuma ouvir Drill sabe, seu som originário com influência no Trap é conhecido por seu som sombrio e violento. Quando então chega a cantora Shamilla, surpreendendo com sua maneira de expressão musical totalmente voltada para a sensibilidade aos contextos onde se enquadram a mulher, relatando vivências sociais, tais como a do empoderamento feminino e seus reflexos no relacionamento.
Shamilla é uma cantora de R&Drill, um gênero musical estadunidense derivado do blues, junto à mistura do som pesado e ilírico do Drill. Conhecida por seu EP “Vivências”, a rapper compartilha melodias fazendo referência à igualdade de gênero e autoconhecimento.
A rapper se reconheceu no Drill após participar de um projeto da produtora Grime Show, onde após essa experiência, Shamilla mergulhou cada vez mais neste gênero musical, inspirando cada dia mais com seu talento e experiências vividas.
Em seus trabalhos, a cantora relata momentos em que vivenciou e expressa apoio à diversidade social.
RAPGOL – Como foi e o que mais lhe motivou a seguir na música?
Shamilla – Desde a minha infância tenho contato com música, influência do meu pai, ele me apresentou ao Hip Hop, a Black Music, na pré-adolescência eu comecei a tocar violão, compor, e escutava muitas bandas de rock, mas ao crescer tive que deixar a música de lado para poder me dedicar aos estudos e começar a trabalhar.
Em 2018 recebi um convite do DJ Fabio Broa para começar a fazer parte da gravadora RZN Records, e foi nesse mesmo ano que comecei a ser a Shamilla cantora, fiz inúmeros shows, e vi que era o que eu realmente queria, é o meu sonho.
RAPGOL – Poderia nos dizer um pouco sobre as suas grandes referências musicais?
Shamilla – Minha maior referência musical é a Lauryn Hill e todas as mulheres pretas da Black Music, destacando Erykah Badu, SZA, Summer Walker, Ari Lennox, Sade, HER, Alicia Keys, Rihanna, Beyoncé, e tantas outras. Do Brasil eu amo Ludmilla, Iza, Pitty, Tássia Reis, Bivolt, Negra Li, Marisa Monte, mulheres me inspiram demais.
RAPGOL – Quais foram ou são os seus principais obstáculos na sua trajetória até aqui?
Shamilla – Dinheiro. Ter a grana para investir no meu sonho está sendo meu maior desafio. Acho que com dinheiro a gente consegue muita coisa, investir na gente, na gravadora, pagar uma equipe artística. Mas o obstáculo também me move, conquistei muitas coisas, de pouco em pouco, e não irei desistir por falta de grana.
RAPGOL – Em seu EP chamado “Vivências”, há três faixas em sequência: “transição”, “me desculpa” e “saudade me faz”. A primeira relata uma fase de autoconhecimento e amor próprio em âmbito social; no segundo, da continuidade ao amor próprio e empoderamento feminino, só que no âmbito de relacionamento; e no terceiro fala de amor, sentimento.
As faixas no EP foram inseridas aleatoriamente ou representa alguma situação de escala em que você já viveu, como menciona o próprio nome do EP?
Shamilla – Cada faixa do meu EP conta uma história que já passei que ficou no passado e moldou a mulher que eu sou hoje. “Transição”, é sobre minha transição capilar que mudou a minha vida, eu consegui me reconhecer, “Me desculpa”, fala sobre como é naturalizado algumas atitudes do homem, mas quando a situação se inverte e a mulher faz o mesmo, ela é julgada.
“Saudade”, me faz é sobre um relacionamento abusivo que eu tive, “Lonely”, é uma música romântica dedicada ao meu ex namorado que já faleceu, “Q.V.O.S.”, significa Quanto Vale O Show, e expõe algumas revoltas, e “Tipo Rihanna com a Juju Rude”, marca uma vontade de futuro, o que eu almejo para a minha carreira.
RAPGOL – A partir de que momento você mergulhou a fundo no Drill?
Shamilla –Ano passado fui convidada pela produtora do Brasil Grime Show, a Yvie para participar do projeto Sonora, que convidou eu e mais duas cantoras de R&B (Nyna e Amanda Sarmento), nos desafiando a cantar em cima de um beat de R&Drill, eu até então não tinha conhecimento sobre, mas topei o desafio, estudei e construímos a música “Meu Caminho”, com beat da Chlorella, produção musical do Rennan Guerra da Casa do Meio. A partir dessa experiência eu me apaixonei pelo Drill, ouço bastante.
RAPGOL – O seu público alvo é direcionado aonde, quando se trata da sua representatividade no R&Drill?
Shamilla – Meu público alvo é qualquer pessoa que goste do meu som, a minha música é para todos aqueles que se identificam com o que eu canto.
Rapgol – Como você enxerga o cenário musical atual, seja no mainstream ou no underground?
Shamilla – Eu enxergo o cenário engessado, e muito do mesmo. Gostaria muito que a indústria musical abraçasse mais a diversidade, seja de gênero, de estilos musicais, enfim, têm espaço para todo mundo ganhar dinheiro com música, a gente precisa parar com esse lance de panelinha. O que pode muito contribuir com a diversidade que estou falando, são os artistas do underground, muitos com sonoridades próprias, e muita qualidade.
Rapgol – A questão da pandemia do Coronavírus mudou muito os seus planos e projetos? Sente-se preparada para as oportunidades que surgirão após o fim dessa tragédia?
Shamilla – A pandemia me barrou legal, me desanimou, mexeu com meu lado produtivo e fiquei com vários bloqueios criativos, mas me impulsionou a saber mais sobre, a importância das redes sociais como portfólio do meu trabalho.
Estou muito preparada e ansiosa para voltar a fazer meus shows, a participar de projetos, estar no meio dos artistas, trocar experiências e ideias, em breve tudo vai ficar bem.
Rapgol – O público que já a acompanha pode aguardar novidades ainda este ano?
Shamilla – Com certeza, no meio desse ano irei lançar meu EP Minha voz é bala, produção DJ Fabio Broa na RZN Records, cinco faixas de R&Drill, tá lindão! E fim do ano um álbum, aguardem…
Rapgol – Qual mensagem você gostaria de deixar para artistas, em especial as mulheres, que estão dando os primeiros passos na música independente?
Shamilla – Você não precisa que ninguém acredite no seu potencial, seja você o seu maior fã. Se você não acreditar que você é capaz, ninguém irá. Aproveita as oportunidades, mas valorizando seu trabalho, não se submeta a tudo, valorize seu trabalho. Muita sorte, força, foco e fé.
E se o público pode aguardar novidades, não se arrependerá, pois o trabalho da artista vem demonstrando força a cada dia. Acompanhe abaixo o audiovisual de “Mais Forte”, lançado no último dia 02/06: