É mais que sabido que a vida e o início da carreira de um cantor independente não é nada fácil. Imagina quando o artista resolve conciliar tanto a música quanto a dança? Tudo o suor deve ser dado em dobro. Assim tem sido a trajetória de Leskill.
Cria da Nova Holanda, localizada no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro, Leskill já possui uma carreira de sucesso como o primeiro Bboy do Estado, já possuindo diversos títulos na bagagem como dançarino, que inclusive o levou a participar de competições e apresentações no exterior.
O artista é membro-integrante do selo On-Retainer, sediado nos Estados Unidos, com braços nos Estados Unidos e na República Dominicana. Outros artistas de renome na cena também fazem parte, como SD9 e D r o p e.
Recentemente, o artista tem demonstrado que veio para ficar também na cena musical, com algumas faixas de Drill. Seu último trabalho foi o lançamento da faixa “TikTok”, um remix da canção do cantor britânico Poundz. Nele, Leskill não desperdiça a oportunidade para demonstrar suas habilidades como dançarino.
E o RAPGOL teve a oportunidade de bater um papo com o artista, onde nos conta um pouco sobre o início de sua trajetória tanto como dançarino como cantor.
RAPGOL – Quando foi que você percebeu que o seu caminho estava na cultura? Desde que ano você atua na dança e na música?
Leskill – Sempre fui viciado em adrenalina. Em 2002 eu estava na 5ª série e matando aula. Vi um cara que tava divulgando uma oficina de Hip Hop, no caso Break e Grafite. Porra, fiquei maluco. O cara mando um mortal de costas do nada, girou de cabeça. Aí foi quando eu percebi que queria aquilo.
Na dança eu atuo profissionalmente desde 2007, quando participei do meu primeiro torneio internacional (Red Bull Breaking). Na música eu sempre escrevi, li muitos poemas, gosto disso. Mas profissional mesmo foi desde 2017, quando comecei a escrever músicas com intenção de gravá-las e me tornar um MC.
RAPGOL – Quais foram os seus principais obstáculos iniciais, se é que houve?
Leskill – Meus principais obstáculos foram a falta de grana e de apoio. Minha família não tinha condição. Então: trabalhar e estudar. Minha mãe chegou a me expulsar várias vezes de casa, mas ela sempre voltava atrás porque via que não era uma coisa que eu tava alí para fazer de rebeldia. Alí era um estilo de vida, era uma escolha: a rua, a música, a dança… Tudo isso funcionou na minha formação de caráter muito mais do que o método formal acadêmico.
RAPGOL – Como era o cenário da música e dança de rua quando você iniciou como BBoy?
Leskill – O cenário era pesado. MV Bill e Racionais sempre abriram as portas da favela para o Hip Hop. O funk também é dominante nas favelas cariocas. Digamos que o Hip Hop tá mais na moda do que nunca. Mas antes chegavam a me confundir até com rockeiro, por não saber diferenciar as coisas. Então o cenário tinha grandes potências sempre alí tocando, mas se você veste um pouco diferente, na pegada Hip Hop, você é maluco, é loka, enfim… Hoje está mais fácil.
RAPGOL – Sabemos que você já possui alguns títulos na bagagem. Poderia nos falar mais deles?
Leskill – Eu me orgulho muito de falar que sou o brabo. Porque se tu for em qualquer treino de break, os caras sabem quem eu sou, mano. Gente que nem me viu dançar pessoalmente me conhece e sabe o que esperar de mim. Eu treinei pra caralho pra ser o rei dessa cidade nas batalhas de break. Hoje meu foco é outro, mas ninguém pode negar:
Tri campeão – Street Love Cypher
1º lugar – Oi Street Jam
2º lugar – R16 qualifier Rio/Korea
Semifinalista – World Bboy Classic UK qualifier
1º lugar – Bboy Confronto
1º lugar – Oun Your Style
1º lugar – Favela em Dança
RAPGOL – Quando que se abriram as primeiras portas?
Leskill – Em 2007, quando participei do Red Bull Breaking, como o mais novo da competição, mas a mídia da época me ajudou a ter uma certa notoriedade, abrindo portas pra participar de eventos de nível nacional e até pra entrar na Cia. de dança que fazia parte há 10 anos já.
Na música eu criei minhas oportunidades botando a cara. Os amigos apoiaram aqui na Nova Holanda. Meu primeiro clipe foi patrocinado por um amigo aqui na NH, o Baiano, amigo disse: ‘Acredito no teu potencial’. Me deu 2k pra fazer e fiz!
RAPGOL – Como é a relação com os demais integrantes da On-Retainer?
Leskill – Na moral… Mais mec que isso, impossível! Geral é cria da área, tá ligado? Só amigo bom envolvido nos projetos. Só não gosto muito do Javan fazendo piada direto com o fato de eu ser lindo, isso incomoda um pouco kkkk. Mas gosto de geral, mandar um salve pro Marley (Máquina) que me atura alí perturbando pra lançar música e pedir desculpa a todas as vezes que o KL ficou bolado comigo.
RAPGOL – Quais são as suas grandes referências musicais e de dança?
Leskill – Gosto muito do proibidão. Gosto de me identificar com o que ouço, tá ligado? Do MC Rodson até o 21 Savage, pegou a extensão do bagulho? Claro que nós temos nossos preferidos e eu tenho ouvido muita coisa nacional, tá ligado? Gosto da pegada mais criminal. E dou muito valor aos produtos das favelas. Nacional, rapaziada. Melhor forma é ter essas referências.
RAPGOL – Quando foi que você resolver trabalhar em faixas de Drill?
Leskill – Quando um amigo da On-Retainer me mostrou o Poundz, eu curti na hora. Não conhecia o trampo dele aí, mano… Foi paixão à primeira vista. Mas o Drill não é só o som, tá ligado? O que me atrai no Drill é a estética, a forma como ela é feita, o tom que se usa. Não é só sobre a voz e o beat. O visual também. Eu já estive em Londres. É cultural da rapaziada o sportlife. Nós vive essa porra! Mesma parada na favela os mesmos gostos. Só que aqui faz sol, né, filho… Então nós não vamos forçar a barra de casacada. Carioca, né? Drill de Kenner e Nike, melhor forma!
RAPGOL – Como você observa o atual cenário musical?
Leskill – Enorme, com espaço pra geral ser feliz e ganhar dinheiro com inteligência e estratégia sem atacar para criar mídia.
RAPGOL – Como estão os seus trabalhos? O público pode aguardar novidades ainda este ano?
Leskill – Estamos eu e a On-Retainer trabalhando bem pra fazer fluir da melhor forma! Então de mim vocês podem esperar muita coisa além do Drill e do Trap. Nos meus planos quero trabalhar também com o Funk. E, mano, a meta é ganhar grana e ficar rico. Eu não vou contar muito… A galera não perde por esperar, sem neurose. Eu sou notório no que faço e eu tô me dedicando de verdade pra essa porra virar, questão de tempo. Obrigado pela oportunidade, família RapGol, vocês são brabão!