DAYREL TEIXEIRA

Dayrel Teixeira é cria de Manaus – Amazônia, teve uma ideia brilhante de unir literatura e a cultura funk, através do perfil Funkeirocults

O projeto tem o conceito de mostrar que por mais favelado que você seja, você pode se tornar uma pessoa culta e agir de igual pra igual com qualquer pessoa. Não importa de qual classe social você vem, de qual bairro, quebrada, cidade, o perfil mostra que o estudo é para todos. Os post do perfil são feitos diariamente com livros clássicos da literatura, numa linguagem bem de cria.

Pegando esse gancho, nos do RAPGOL Magazine, além de admiradores do trabalho do Dayrel e sua rapaziada, convidamos o Manauara a bater um papo conosco, sobre funk, rap, lifestyle, meio ambiente e futebol, saca só.

A arte da capa foi feita pelo ilustrador Lukera Andrade

Joãozinho CWBeats 

RAPGOL MAGAZINE DAYREL TEIXEIRA OUTUBRO 2022.
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RAPGOL Magazine – Salve Dayrel, obrigado por topar esse bate papo conosco, tudo certo meu mano?

Dayrel Teixeira– Tudo certo rapaziada

RAPGOL Magazine – Nós somos amantes do funk, do rap, do futebol e da literatura, como surgiu a ideia de juntar tudo isso em uma só pagina? A funkeiroscults é o perfil do Instagram mais legal dos últimos tempos.

Dayrel Teixeira – Sempre gostei de misturar conceitos que as pessoas dizem ser diferente, universos diferentes, e em específico nesses universos; o funk, o rap, a arte, eu não acho tão distantes assim um do outro. Mas o gatilho para a criação do projeto “funkeiros cults” veio depois de várias situações que passei e observações que fiz de pessoas que acreditam que o funk não tem a ver com literatura ou de que o rap e o futebol não tem a ver com arte, eu queria expressar que a periferia existe sim muitos universos e que nenhum deles pode ser desprezado.

RAPGOL Magazine – Você se tornou referência em literatura, mesmo não sendo um autor/escritor. Você sempre gostou de ler?

Dayrel Teixeira – É engraçado muitas pessoas acham que comecei a ler desde cedo, quando na verdade não, nunca fui um bom aluno, e minha escola era daquelas com fama negativa de pior e mais violenta dos bairros, mas eu sempre fui curioso e só precisou de um pouco de incentivo que veio de uma professora, no meu último ano escolar, acabei não devolvendo os livros de poesia da escola, e eles me serviram de refúgio em uma época turbulenta da minha vida, não romantizo essa história, eu era um adolescente de periferia cheio de problemas que vivia na rua, mas que no fim acabou se apegando a literatura e a cinema, hoje só muito feliz em poder ser referência igual a minha professora foi para mim, vejo os manos de diversas quebradas do Brasil me pedindo indicação de leitura, ou professores usando meus posts em escolas fico muito grato com meu trabalho.

RAPGOL Magazine – Você esteve presente no Rock In Rio e no Planeta Brasil, qual a maior diferença de um festival pro outro na sua opinião? O rap esteve presente em ambos, a cultura hip-hop assim como funk, ainda luta contra discriminação e preconceitos, algo que tem sido quebrado ano a ano e a tendência é que se tornem os maiores gêneros musicais mais ouvido desse país um dia. Como você enxerga toda essa luta?

Dayrel Teixeira – São dois festivais fantásticos, cada um com sua proporção, mas ver o Rap e o Funk nesses grandes palcos é o que me deixa mais alegre, me emocionei em muitos Shows, ainda mais quando sabemos que não é surpresa de ninguém o preconceito que esses gêneros sofrem, principalmente o funk, mesmo batendo números incríveis, mas ainda tem muito o que lutar, exemplo mais óbvio que vi era que Racionais, o nosso maior símbolo do rap nacional, demorou mais de 20 anos para estar no rock in rio, e era um show que merecia palco Mundo, mas é prazeroso ver subindo degrau por degrau e estar de perto vendo a história sendo feita.

RAPGOL Magazine – Você também esteve presente no show do Djonga no dia do anuncio do disco novo, como foi o show e como o público reagiu a essa notícia?

Dayrel Teixeira – O show do Djonga foi um dos momentos mais marcantes para mim, por diversos fatores, o primeiro é o discurso dele anunciando o novo álbum foi muito forte, a plateia ouvia em silêncio, admirando, fiquei muito animado com o anúncio e aguardando ansioso, o segundo foi ver a Avó do Djonga enquanto ela canta “BENÇA”, impossível não chorar, chorei muito e pessoas em volta de mim também, e quem diria que no dia seguinte eu estaria no palco com o Djonga kkk, foi mais emocionante ainda sentir a energia dele, do DV Tribo, Febem, Tracie e outros artistas, um dos maiores dias da minha vida e ver até aonde o meu trabalho está me levando.

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RAPGOL Magazine – Sua página é de funk com literatura, mas vemos no seu Instagram pessoal foto com a mixtape “Caro Vapor, Vida e Veneno de Don L” pendurado na parede, o que esse disco representa para você?

Dayrel Teixeira – Só um grande admirador do Don, e do rap no geral, só daqueles nerdzao que pesquisa tudo, história, curiosidade etc. Acho que o que mais admiro no Favorito do Seu Favorito, é esse sentimento de alguém fora do Eixo Rio-SP conquistar o Brasil, lutar por seu espaço, por cada conquista.

RAPGOL Magazine – Você foi um dos convidados do projeto Creator Academy Brasil, projeto com o intuito de conectar pessoas com causas ambientais como a proteção da Amazônia e seu povo. Conta para gente como foi essa experiência?

Dayrel Teixeira – Essa viagem mudou minha vida em todos os sentidos, ela me permitiu me conectar  com a nossa mãe natureza e ver que não somos um só, que tem muita gente lutando igual eu, estar dentro da floresta resgatou esse sentimento de pertencimento e de luta que às vezes eu perco por conta dos estresses e problemas do cotidiano, sem contar que a viagem abriu inúmeras portas para mim, se referindo a trabalho foi extremamente perfeito, foi uma viagem que só me fez crescer em todos os sentidos

RAPGOL Magazine – Algumas ações da sociedade refletem diretamente no meio ambiente, eu acredito que nossas atitudes diárias, tipo jogar lixo no chão e etc, fazem com que a natureza se “revolte” contra nós, você concorda com essa afirmação, por quê?

Dayrel Teixeira – Antes da gente entrar na Floresta, os indígenas, os ribeirinhos e os antigos nos ensinam que devemos pedir “licença” para entrar na floresta, estamos de fato chegando em um lugar sagrado e que devemos ter respeito por ela e eu acredito muito que ela não depende de nós e sim nós dela, cada mal que fazemos a natureza será cobrado lá na frente, ferindo a natureza ferimos toda à humanidade. Chegou momento de todos nós repensarmos nossas ações.

RAPGOL Magazine – Vemos cada vez mais descaso com a Amazônia e seu povo pelos governantes, o quanto isso atinge o dia – a – dia da maior floresta do mundo e das pessoas que moram em volta?

Dayrel Teixeira – Eu demorei para entender que mesmo na cidade as ações humanas contra a floresta me prejudicava tanto quanto as ações humanas dentro da própria cidade, minha favela é na margem do rio negro, e muitas casas não tem água potável, e existem esgotos e igarapés com águas imundas, tornando a vida de muitas das pessoas em um estado de desigualdade gigante, fora outras situações como o clima cada dia mais quente.

 

 

RAPGOL Magazine – Vamos falar um pouco agora sobre futebol, já que você é um colecionador de camisas de times. Camiseta de time é roupa de sair?

Dayrel Teixeira – Eu tenho orgulho de que mesmo não sendo jogador de futebol, as camisas de time são meu uniforme de trabalho, sempre fico rindo por isso, e mais que um uniforme eu vejo como roupas de sair, roupas para qualquer canto, inclusive os mais chiques que possam dizer, é tudo uma questão de bom gosto e saber escolher a camisa, eu gosto de ressignificar isso, levar jovens vestidos de camisa de time em museus, em espaços culturas, mostrar essa nossa indenidade de periferia não importa a grau social do espaço.

RAPGOL Magazine – Qual time você torce?

Dayrel Teixeira – Já fui santista, hoje em dia sou flamenguista

RAPGOL Magazine – Quando você se deu conta que era flamenguista?

Dayrel Teixeira – Não sei dizer, o Flamengo é muito forte de onde eu venho, do meu bairro, acho que veio daí, sempre me senti parecido com as pessoas do meu bairro.

RAPGOL Magazine – Qual a melhor lembrança que você tem em relação ao Flamengo? Pode ser recente, já que em 2019 vocês ganharam tudo, rs.

Dayrel Teixeira – justamente em 2019, por toda a festa que se teve, foi um grande dia em minha comunidade.

RAPGOL Magazine – Vamos agora para um bate-papo rápido. Qual a camiseta mais bonita do Flamengo?

Dayrel Teixeira – Sem nenhuma dúvida a do Flamengo de 2009, a famosa camisa do Adriano Imperador

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RAPGOL Magazine – 3 camisetas mais bonitas de clubes? Vale Brasil e Europeu.

Dayrel Teixeira – Milan Dourada 13/14

Bahia 98/99

Parma 02/03

RAPGOL Magazine – 3 camisetas mais bonitas de seleções?

Dayrel Teixeira – Alemanha 1990

Nigéria 20/21

Coreia do Sul 20/21

RAPGOL Magazine – Cita para gente 3 livros brasileiros que todo mundo deveria ler.

Dayrel Teixeira – O Sol na Cabeça

Falcão: meninos do tráfico

Quarto de Despejo

RAPGOL Magazine – Agora 3 livros gringos (traduzidos para nossa língua).

Dayrel Teixeira – 2666

Caim, do Saramago

Capitães de areia

RAPGOL Magazine – 3 Autores que você gosta.

Dayrel Teixeira – Roberto Bolaño

Carlos Drummond

Clarice Lispector

RAPGOL Magazine – 3 funks que todo mundo deveria ouvir.

Dayrel Teixeira – Mc Vitin – Subaquistao

Dricka – De 30 carregado

Cidinho General – dinheiro é bom, mas incomoda

RAPGOL Magazine – 3 raps que todo mundo deveria ouvir.

Dayrel Teixeira – VND, Passarelas e Vitrines

Emicida, Intro/é necessário voltar ao começo

Djonga, Bença

RAPGOL Magazine – Acho que é isso meu mano, muito obrigado por topar esse conversa conosco! Deixa seu salve final para quem te acompanha e para quem vai conhecer a mente por trás da FunkeiroCults através dessa entrevista.

Dayrel Teixeira – Acho que o salve final que eu poderia dizer para galera que me acompanha é que acreditem sempre  no seu corre, o mundo tem algo bom preparado para nós, só temos que correr e lutar, um abraço para geral que admira meu trampo.

DOACAO rAPGOL
Joaozinho de Bombs 1 e1704924477629

Jornalista, fotógrafo, amante do rap nacional e fã nato do Baianinho de Mauá.