Dudu Victor conversa com a RAPGOL Magazine

Dudu Victor conversa com a RAPGOL Magazine

DUDU VICTOR

Eduardo Victor, o Eduardo ou carinhosamente como gostamos de chamá-lo, Dudu Victor é mais um dos muitos crias de comunidade, periférico no Rio de Janeiro que encontrou na comunicação, música e arte uma forma de ultrapassar barreiras.

DJ, apresentador e criador de conteúdo, Dudu se aproximou do Rap após escutar um grupo de muito sucesso no Rio de Janeiro, esteve presente em batalhas de rimas e se encontrou finalmente atrás da controladora.

Muito envolvido com o Drill e o Grime, o jovem falou sobre a sua Paralisia Cerebral, anticapacitismo, música, Lifestyle, mercado de trabalho para as pessoas PcD, LGBTQUIA+,  Festival CENA 2K22, palestra na TED Talks e muitos mais.

Confira abaixo, a entrevista feita em conjunto pelos nossos colaboradores CRIAA e Roger Morais com ele que em tão pouco tempo de carreira, já se tornou referência para muitas pessoas.

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Dudu Victor – Foto – Mariana Smania

RAPGOL Magazine – É um imenso prazer poder ter essa entrevista contigo. Conta para quem ainda não lhe conhece, quem é o Dudu e de onde você vem.

DuduÉ um prazer conversar com vocês! Eu sou o Dudu, sou DJ, apresentador e criador de conteúdo sobre música e autoestima. Sou da Zona Oeste do Rio, nascido e criado aqui. Comecei minha carreira na internet falando da minha deficiência – tenho paralisia cerebral – e hoje relaciono tudo isso com a música, sobretudo o rap!

RAPGOL Magazine – Quando foi o seu primeiro contato com a música Rap e em que época da sua vida você começou a carreira como DJ?

DuduAcho que meu primeiro contato com rap que comecei a me aproximar foi no hype da Cone! Claro, quem nunca ouviu Sabotage e Racionais, né? Mas em 2012 que comecei a pegar mais a visão, mas até 2015 eu era bem afastado.

Aí, com a ascensão da Batalha do Tanque eu comecei a me reaproximar. Mas ainda tinha muita resistência, porque na época eu já era assumidamente LGBT e como lá não tinha regra, acabava que muitas das rimas me afastavam da cultura…

Mas como DJ, eu comecei em 2020. Sempre gostei de combinar músicas na minha cabeça, só que um curso, equipamento para discotecar é caro, né? E há dois anos recebi o convite da tropa da Urban Work The Responsa para fazer parte da turma deles, aí foi o empurrão que eu precisava! Tamo aí! (risos)

RAPGOL Magazine – Quais são as suas grandes referências na música?

DuduMinhas maiores referências hoje são do Drill e do Grime. Lá fora, certamente minhas maiores referências hoje são Skepta e o Gazo! Mas a real é que eu sou apaixonado na cena daqui do Brasil mesmo. Vandal, LEALL, N.I.N.A, Big Bllakk, Peroli, Bruno Kroz, Diniboy… São alguns dos nomes que eu estou mais consumindo ultimamente, alguns são meus amigos, graças a Deus!

https://www.youtube.com/watch?v=v_F7Hm-bSwk&t=50s

RAPGOL Magazine – Além de DJ, você é um excelente comunicador, seu histórico na internet pode provar isto. Como foi a experiência de cobrir o festival CENA 2K22?

DuduAcho importante ressaltar que eu não fui pra cobrir o Cena como um todo, fui com a N.I.N.A e a equipe do Brasil Grime Show cobrir o show dela, especificamente. Nem deu tempo de aproveitar muito o festival, na real! Mas foi uma experiência única e histórica. Não sei se fui a primeira pessoa com deficiência a estar ali naquele palco trampando, mas certamente não existiram muitas.

Foi histórico e tô digerindo até agora. Ver os MCs, DJs e a galera da cena reconhecendo minha correria, gente que eu admiro pra caralho… Não superei até agora. Senti muito medo de ser uma pessoa LGBT com deficiência no mundo do rap. Mas toda vez que tem o reconhecimento de dentro, sinto que tô no caminho certo, tá ligado? Não consigo nem expressar o que eu senti e tô sentindo porque não consegui, nem entender o que rolou ainda. (risos)

RAPGOL Magazine – Trazer a tona assuntos relacionados ao anticapacitismo é uma constante em sua vida. Nos últimos anos você observa uma melhora em relação à desconstrução de uma sociedade capacitista?

DuduPela primeira vez, nos últimos dois anos, a gente viu o termo capacitismo vir à tona nas mídias até mesmo tradicionais. É inegável que existe uma movimentação na sociedade, mas ainda estamos longe. Sabe, sinto que a gente tá muito no “be-a-bá” do que é ser uma pessoa com deficiência no mundo.

Até hoje, as pessoas não entendem que nós podemos viver, que não tem um jeito de ter uma deficiência… Parece repetitivo pra mim que estou vivendo essa mudança, mas são repetições necessárias pra que as pessoas vão entendendo tudo isso. É difícil, mas desistir disso não é uma opção pra mim, não. Entrei de cabeça nesse rolé. E hoje, uso a música a meu favor pra mostrar que tá tudo bem ser como eu sou!

RAPGOL Magazine – Como você observa o mercado de trabalho para as pessoas PcD? 

DuduQue mercado? Hahahaha! A gente é, pelo menos, 24% da sociedade brasileira e só 1% de nós está num emprego estável.

Agora você imagina ousar ser artista com deficiência? Criador de conteúdo, DJ, apresentador… Eu gosto de ir em lugares que as pessoas juram que eu não posso estar. Gosto disso, é difícil, mas é necessário, pegou a visão?

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Dudu Victor – Foto – Mariana Smania

RAPGOL Magazine – Falamos sobre música e gostamos muito de Lifestyle. Você está sempre na moda! Tem alguém que te inspira ou você procura encontrar um equilíbrio no seu próprio estilo?

DuduEu ainda tô descobrindo meu estilo, então agradeço o elogio. Ter uma deficiência e ter identidade é um rolé, porque isso é negado pra gente o tempo todo. O jeito que visto, me comporto, é uma resposta pra isso também.

Mas tô no processo dessa descoberta, ainda falta muito. Me inspiro na galera aqui da favela mesmo e tento misturar com coisas que eu gosto. Sou viciado em croppeds e flaks, por exemplo!

RAPGOL Magazine – Falando sobre inclusão, você percebe uma aproximação maior das marcas com as pessoas PcD?

DuduDe um ponto de vista mais pessoal, com certeza! Isso que pagou minhas contas no último ano e tá pagando até hoje!

De modo geral, existem ações afirmativas nas empresas pra que pessoas com deficiência sejam inseridas no mercado, mas na maioria das vezes elas não são cumpridas. Tem muita coisa pra mudar ainda, sabe? Mas pessoalmente, tenho conseguido manter esse diálogo e mostrar o valor que é pra uma marca ter no time pessoas com deficiência, sejam elas mais ou menos visíveis.

RAPGOL Magazine – Em um dia sem a correria dos trabalhos o que você curte fazer para passar o tempo?

DuduVejo vídeo de comédia de qualidade duvidosa na internet. Queria mandar um beijo especial pro Big Jaum e pro Diogo Defante aqui, inclusive! Hahahaha. E ir à praia. Amo sol, amo mar… Mas tá difícil ultimamente pra nós, cariocas.

RAPGOL Magazine – Como você lidou e tem lidado com sua vida pessoal e o corre profissional em meio a uma pandemia que assolou nossa sociedade?

DuduDe modo geral, fui uma pessoa privilegiada na pandemia. Eu tinha um estágio que ficou remoto por conta de todo o rolé do COVID e, com isso, tive tempo hábil pra investir na minha criação de conteúdo. E, depois de 4 anos tentando incessantemente ter voz na internet, comecei a ser ouvido por muitas pessoas!

RAPGOL Magazine – Você foi palestrante de uma das edições do TED Talks. Pode nos contar um pouco sobre essa experiência?

DuduEu sempre disse que quem ia ao TED zera a vida. Eu ainda não zerei, mas foi um marco na minha vida.

Aos 21 anos, tive um vídeo na maior plataforma de palestras do mundo. Tem noção do tamanho disso? Muitas vezes eu duvidei da minha capacidade e estar lá foi um misto de sensações. Fiquei MUITO ansioso, muito nervoso, mas deu certo e consegui passar a mensagem do que eu faço pro mundo: uma pessoa LGBT, com paralisia cerebral, que experiência a vida através da música – sobretudo do Drill brasileiro -, e como isso ajudou na minha autoestima.

RAPGOL Magazine – Você atua bastante também na produção de conteúdo nas redes sociais. Poderia nos contar um pouco a respeito dessa rotina?

DuduCriar conteúdo é basicamente a minha vida hoje. E é mais difícil do que parece porque parte do meu conteúdo sou eu. E acaba que eu viro número. E isso deixa a gente meio doido da cabeça, pegou a visão? Então estou nessa busca por esse equilíbrio.

Ultimamente, tenho tirado alguns dias no mês pra gravar alguns conteúdos fixos e deixo outros dias livres pra quando eu quiser encaixar alguma pauta. Tem funcionado melhor assim e também otimiza meu tempo.

Mas trabalhar com internet é trabalhar o tempo inteiro sem nem perceber e isso também cansa muito! A gente precisa falar sobre a relação dos criadores de conteúdo com a internet, porque ainda é muito confuso e, por não ser um trabalho tradicional, acaba nem sendo visto como trabalho.

Essa é minha maior dificuldade. E também pensar onde nossa voz ecoa, tá ligado? Eu fico viajando pensando nisso… Na oportunidade que eu tô tendo de disseminar ideias. E, no fim, agradeço, porque entre trancos e barrancos, tô aqui, vivão e vivendo e conseguindo levar alguma coisa de bom pras pessoas. Eu não me vejo fazendo outra coisa! Só de pensar que consegui chegar até aqui, meu olho enche d’água, sem neurose!

RAPGOL Magazine – De todos os projetos e trabalhos que participou no mundo na música até agora, existe aquele que você considera o seu predileto?

DuduCertamente, entrevistar o Chris e o Major RD falando sobre autoestima foi a virada de chave pra eu entender o que eu queria fazer e contribuir com a cena, sabe? Nossa! Foram os dias mais felizes da minha vida na música.

Cobrir o lançamento do álbum da N.I.N.A foi o auge também, me sinto fazendo parte da história do Drill junto de uma mina foda como ela, que se tornou minha amiga. Ah, são muitas coisas já em tão pouco tempo… Mas, certamente, o que tá por vir aí que eu acho que vai ser histórico de verdade. Vamos ver!

RAPGOL Magazine – Com quais instrumentos você costuma trabalhar enquanto DJ nas pistas?

DuduMe dá uma controladora e um pen drive com o Drill e Grime brasileiro que eu pinto e bordo. Inclusive, adoro! E acho engraçado, porque olhando pra minha cara, as pessoas juram que eu vou soltar um popzão na pista! Quando elas menos esperam, vem o rugido icônico do Major RD no ouvido delas! Amo causar esse baque no público. (risos)

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RAPGOL Magazine – Quais são as suas camisas de time prediletas?

Dudu – Ultimamente, estou apaixonado na camisa do Japão com uns personagens de anime no fundo! Se alguém quiser me dar a original, tô aceitando, inclusive!

RAPGOL Magazine – Qual o seu maior sonho pessoal e o sonho profissional?

DuduMeu maior sonho pessoal é, com certeza, morar numa casa com quintal e poder fazer festa toda semana com a minha família e as pessoas que eu amo.

Profissionalmente, já conquistei muita coisa em pouco tempo, mas quero tocar em festivais – quantas pessoas com deficiência já fizeram isso? Eu realmente não sei – e me consolidar como apresentador.

RAPGOL Magazine – Poderia citar alguns artistas que, na sua visão, merecem maior destaque por parte do público?

DuduO que não faltam são artistas que merecem destaque na cena! Alguns dos meus amores pra você: NATH, GEBE, Rdbxd, Maui, CL, Godar Bxd, Beat do Ávila, Btrem, Raro… Ih, gente! Vou ficar aqui até semana que vem!

RAPGOL Magazine – Como estão os próximos trabalhos e projetos? Já algo em mente?

DuduTem muita coisa que pode acontecer por aí e, por não ter nada certo ainda, vou ficar quietinha pra morrer velhinha. Mas, por enquanto, vocês vão ver alguns conteúdos pensados por mim nas redes da N.I.N.A e vou seguir falando sobre gêneros da cultura, alguns artistas…

Mas espero que logo menos vocês vejam bastante minha cara por aí! Estou trabalhando pra isso e tô bem ansioso. Quando eu puder contar, espero que consiga a repercussão que estou projetando! É estranho, inclusive, pensar que estou perto de fazer história de alguma forma.

E, sabe, não estou falando isso de maneira soberba não, tô falando porque não tenho muitas referências de pessoas como eu na arte, infelizmente somos muito invisíveis ainda, mas tenho fé que esse jogo vai virar, tropa!

RAPGOL Magazine – Qual mensagem você gostaria de deixar para o pessoal?

DuduAcho que é o que eu sempre digo: nunca esqueça que tá tudo bem ser como você é. As coisas só começaram a fluir aqui quando eu me permiti experimentar o mundo do meu jeito, descobrir minha identidade. Se você se sente estranho, a real é que isso pode ser ótimo! Porque nossas histórias são únicas e só a gente pode contar elas da maneira que elas são.

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