Entrevista Capa: Babu Santana conversa com a RAPGOL Magazine

Entrevista Capa: Babu Santana conversa com a RAPGOL Magazine
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Babu Santana

Autor – CRIAA

Ele é cria do Vidigal, uma das comunidades mais badaladas da cidade pela vista do mar, mas que, em simultâneo, esconde diversos perigos.

Desde moleque está na correria e foi na adolescência que ele encontrou no projeto “Nós no Morro” o caminho para a arte. 

Alexandre da Silva Santana, para nós o Babu Santana, conversou com a RAPGOL Magazine em uma entrevista descontraída e repleta de revelações. 

Babu falou sobre o seu início de carreira, prêmios, sobre como teve que se reinventar durante a pandemia, família, como dialogar com a nova geração,  música (Rap / Trap), futebol e muito mais. 

Foi uma honra poder conversar com este ícone da cultura e espero que vocês curtam o nosso bate-papo.

CRIAA

 

RAPGOL Magazine – Os anos 90s foram complicados, principalmente para nós crias de comunidades. Aos 16 anos você entrou para o projeto cultural “Nós do Morro”, local que revelou uma quantidade enorme de talentos. Poderia falar um pouco sobre a importância do projeto na sua vida?

Babu SantanaEu costumo dizer que o Nós do Morro é minha cara-metade. Existe um Babu antes e um depois. Eu tive alguns divisores de água, mas o mar vermelho é o Nós do Morro. Eu comparo o amor e sentimento ao sentimento que tenho pelos meus filhos. Eu sou filho do Nós do Morro. Sou cria de todos de lá, de todos meus criadores. É o início e espero poder, como diretor do grupo, retribuir tudo o que o grupo me deu dentro de uma janela periférica aberta, para que venham novos talentos, e sejam novos profissionais da cultura, de teatro, cinema, televisão, dança, música, como cenógrafos, câmeras, produção. Que continuemos produzindo cidadãos de bem.

Foto: Reprodução – Instagram – Babu Santana

RAPGOL Magazine – Os filmes Estômago (2007) e Tim Maia (2014) lhe renderam dois prêmios Grande Otelo. Como foi para você, cria do Vidigal, receber o maior e mais importante prêmio do cinema brasileiro. Passa um flashback de toda correria enfrentada desde menor?

Babu SantanaOlha, esses filmes realmente foram transformadores na minha carreira. Claro que passa um filme. O do “Estômago” eu lembro que o Marco Jorge marcou teste e eu não pude ir, e ele teve paciência de ir pro Rio fazer de novo. Foi maravilhoso, fui muito bem tratado. Foi quando comecei a me sentir artista e achar que meu trabalho teria relevância no mercado. Foi filme vitorioso, que disputou festivais. Acho que foi o trabalho que mais ganhei prêmios. Foi o que me levou para fora do país, para a África. O Tim Maia eu às vezes esqueço que foi um trabalho. Parece um sonho, meu pai era fã do Tim Maia. Tive contato visual com ele em alguns shows, e uma vez que vi andando pelo Vidigal. E claro que lembro que na preparação aconteceram coisas mágicas. A gente almoçando e do nada tocava uma música dele. Passa um flash, claro. E depois de toda essa água que passou, você contempla aquele esforço e vê que as dificuldades valeram a pena. Um bom flashback. Às vezes sofrido e doloroso, mas foi aí que amadurecemos mais.

Foto: Reprodução – Instagram – Babu Santana



RAPGOL Magazine – Com dezenas de projetos entre cinema, séries, novelas, teatro e etc… Você é considerado uma referência para os mais jovens. As redes sociais são importantes para estar sintonizado com eles?  

Babu SantanaCom certeza. Eu comecei a estreitar relações com as redes sociais pós-BBB. Até então eu era tiozão, low profile. Mas é muito importante, sim. Esse contato com os mais jovens é muito importante, sobretudo pro exercício da humildade. Não podemos pensar que sabemos tudo. E isso me ajudou a estreitar, e o mercado se enverada para esse lado. É bom estar ocupando esse espaço para uma realidade prospera do nosso tempo. Foi muito bacana e é uma responsabilidade grande se comunicar diretamente com as pessoas. Trago a experiência para ter responsabilidade nas falas. Faz parte da evolução do ser humano.

Foto: Reprodução – Instagram – Babu Santana

RAPGOL Magazine – Em seu canal do Youtube podemos encontrar algumas entrevistas com diversos convidados, entre eles temos: atores, cantores, especialistas médicos e etc…
O que te levou a criar os projetos  “Fechado com o Paizão” e “Dá o papo”?  Pretende dar sequência  também como comunicador?

Babu SantanaFoi muito bacana, foi uma moda na Covid essas entrevistas, já que não podia se encontrar, e eu num momento de evidência. Queria trocar ideia com as pessoas que conhecida, falar da experiência, incrível. E esses projetos me possibilitavam isso, ter contato com essa galera. Foi como encontrei a forma de acessar meus ídolos. Teve um programa no GSHOW com o Junior, do Flamengo, que sou muito fã.

Foi muito interessante. Pretendo dar seguimento a essa onda de comunicador. Estou estudando isso de comunicar com o telefone, olhando na câmera. É uma forma de ensaio. Estou buscando um tema, um formato que possa integrar. Gosto muito do que fiz, foi um período pandêmico e o que dava para fazer. Agora estamos estudando. Saímos em turnê de carro, subindo pro Nordeste, vamos encontrar muitas pessoas e buscar o que falar, entender o que podemos falar para jovens, pros mais maduros, para as crianças… Me preocupo muito em trazer conteúdo para todas as idades. Quero transitar, pesquisar. Isso é um faro de comunicador.

Foto: Reprodução – Instagram – Babu Santana



RAPGOL Magazine – Quais os esportes que você gosta de praticar quando não está na correria de gravação?

Babu SantanaGosto de jogar tênis, basquete. Sou louco por futebol. Eu sou atleta frustrado, porque todo esporte que eu peguei para fazer, eu desenrolava. Até beisebol eu joguei. Sou atleta frustrado (risos).

RAPGOL Magazine – Muita gente que acompanha o seu trabalho sabe sobre a sua paixão pela música. O que nós queremos saber é: quando foi a primeira vez que você teve um contato com a música e se viu encantado?

Babu SantanaFoi no Nós do Morro. A gente fazia muito musical, aula de canto, e tive professores maravilhosos, que foram pessoas que me incentivavam a desenvolver a técnica. E nesses musicais eu lembro da primeira vez que ganhei um solo. E era uma responsabilidade grande. Era um elenco gigantesco, de mais de 20 pessoas, e eu tinha a responsabilidade de um solo em uma companhia grande, numerosa. Foi por ali que tive esse contato. E eu ficava tímido. Era um ator que cantava. Na verdade, ainda sou o ator que canta. Mas com Tim Maia eu tive contato com banda, música, comecei a entender mais. E o pessoal do Tim Maia começamos a pegar rotina de gravar, ver bateria, guitarra. E isso foi me fascinando. E eu com 35 anos inventei de pegar amigos que conheci na correria e fazer um show para comemorar meus 35 anos. E essa galera que se juntou fez o Cabeça de Água Viva, e aí montei a Paizão Records. E estamos nesse estudo profundo da música. Sou uma alma e mente inquieta. Sempre quero inventar moda.

Foto: Reprodução – Instagram – Babu Santana 

RAPGOL Magazine – Para o papel de “Santana” no filme “Mundo Cão” você fez aulas de bateria, certo? Fale um pouco sobre este processo de aprendizado.

Babu Santana – Sim, fiz duas semanas de aula de bateria. Consegui fazer um solinho . Foi muito bom. Minha mãe contava uma historia de quando ela me levava pro trabalho dela. Ela era diarista. E uma vez ela me levou na casa de um cara que tinha uma bateria vermelha. Eu lembro a imagem até hoje. Era um instrumento que eu tinha curiosidade, mas não tinha talento. Quando tive possibilidade financeira, eu comprei uma bateria vermelha também (risos).

RAPGOL Magazine – A Paizão Records foca em quais estilos musicais?

Babu SantanaInicialmente a gente trabalha com rap, hip hop, trap. Pois, é a juventude que chegou até mim e me deixou fascinado com todo o sistema de produção atual. Foi quem me ensinou a entender isso. Somos uma cooperativa de artistas, pessoas com trabalhos independentes e que se juntou na Paizão para fazer isso, e estou amarradão. Escuto muito trap e estou cantando uns aí. Estou com time muito legal, com pessoas que não são conhecidas do grande público, mas com muito trabalho, afinco e dedicação chegarão em um lugar bacana. Serão profissionais competentes e apaixonados.

Foto: Reprodução – Instagram – Babu Santana

RAPGOL Magazine – Quando falamos sobre rap é impossível não lembrar da sua parceria com o MV Bill no videoclipe do trap “Tim Maia” e também nos projetos com o produtor Papatinho. Qual a importância do rap na sua vida?

Babu SantanaEu sou cidadão do gueto. Do gueto nasceu o samba. E lembro da minha infância, meu avô envolvido com escola de samba, uma tia era passista. Eu ouvia samba, pagode, e sempre fui fascinado pelo som da favela. E no fim dos anos 80 surge o funk carioca, que também na minha juventude eu era muito envolvido. E desse funk carioca, frequentando guetos, conheci rap, e era uma coisa que contava nossa realidade, me sentia representado. Não tinha como não arrepiar com Racionais e essa galera que veio com eles.

O MV Bill, que é esse gigante do Rap do Rio de Janeiro, desde o comecinho a gente se conheceu. E eu lembro que ficava no ‘oi, beleza’, até que ele me convidou para fazer o clipe e foi maravilhoso. Estreitamos amizade, recentemente estava na apresentação do livro dele.  É uma figura emblemática. O rap é a voz do gueto, do jovem preto, periférico. E eu aprendi a admirar essa nova geração. Antes do BBB eu vinha estudando os moleques que estavam ali fazendo som. E não sabia o que era. E meu filho falou que era o trap. E eu pensei “nossa, mais um som que surge da favela”. E tudo que vem da favela, do meu povo preto, é importante como toda cultura que siga. De repente tem até um peso maior, por contar nossa realidade e eu me identificar com as letras.

Foto: Reprodução – Video – MV Bill

RAPGOL Magazine – Vários rappers da nossa geração foram mensageiros e voz das comunidades. Como você vê esta nova geração do Rap/Trap? Você acredita que eles dialogam com os jovens ou ainda falta mais interação?

Babu SantanaEu acredito que dialogam, sim. Claro, hoje em dia com redes sociais você fica mais em evidência. E vez ou outra você tropeça. É natural. São jovens. Lembro que fui gravar com o L7 e fiquei espantado, é um garoto muito novo. Matuê, Djonga.. são novos. A juventude traz o ímpeto que às vezes faz a gente de repente exagerar. Mas vejo com bons olhos sim, vejo essa galera colhendo frutos de uma galera que veio antes, do Racionais, Bill, Marechal. Essa turma veio plantando e os meninos colhem os frutos. São trabalhos fantásticos. Djonga é um fenômeno. Acho que sim, conversa com os jovens, o Rap é uma música de protesto e não de postura. E se houver deslize, eu boto na conta do ímpeto. Tem que ter coragem para ser avaliado. São seres humanos corajosos, que vão focado em uma ideia, sobem no palco e se posicionam. Você agrada uns e outros não. Estou feliz com essa nova geração, sim. E espero que aceitem um coroa no bonde (Risos)

RAPGOL Magazine – Falando de Rap, qual o seu Top 5 de álbuns nacionais?

Babu SantanaGosto muito do Djonga, do Matuê, do Orochi. Seriam tantos outros para citar aqui, não me compromete não (risos). Estou tentando dentro da minha visão de vida passar meus valores para a galera, sem passar por cima de ninguém. É uma união de gerações. Tenho muito a aprender.

Foto: Reprodução – Instagram – Babu Santana



RAPGOL Magazine – Somos um site que fala sobre Rap, mas também adoramos futebol e o lifestyle que o acompanha.
O Flamengo faz parte da sua vida e você declaradamente não esconde isto. Qual a sua primeira lembrança ligada ao seu time do coração?

Babu Santana  – Eu nasci em 79, eu falo com meu pai… Em 81, nós fomos campeões mundiais. Eu não lembro do jogo, se estava chovendo ou estava sol, mas eu lembro do meu pai enlouquecido com o campeonato. Minha família é maioria flamenguista, tinha minha mãe que vacilava e era Vasco, mas lembro da explosão e da alegria. Eu tinha dois anos de idade. Meu pai não acreditava, e eu narrei a cena para ele. Ele me jogando pro alto, lembro da cara de felicidade dele. Com dois anos já era campeão, não tem jeito né? Em 92 eu estava ali pertinho, tiramos muita onda né? Flamenguista nasce flamenguista. Deve ser muito triste não ser flamenguista.

RAPGOL Magazine – 2019 foi um ano mágico para o Mengão e a conquista da Libertadores serviu como a cereja do bolo. Você consegue lembrar exatamente o que se passou na sua mente após o empate e o gol da virada feito pelo Gabi?

Babu SantanaClaro que eu lembro. Estava com a Cabeças de Água Viva e marcaram um show na véspera do jogo lá em Parati. Fizemos o show e o pessoal falou se eu não queria participar de outro show no dia seguinte. Eu estava durinho, pois tinha aquele esquema de receber depois, né. Era só cobrir gastos. Tinha hospedagem, comida. Fiquei lá. Descemos para Parati, e quando chegamos, estava tudo lotado. Paramos num quiosque, meio espremido. Aí no gol deles, pensei: “ferrou”. Quando o Gabigol faz o primeiro, a gente ainda na comemoração, e outra explosão. E eu fui ver o replay, não acreditava. Nunca vou esquecer desse dia.

RAPGOL Magazine – Ainda sobre o Flamengo: se você pudesse escalar, qual seria a sua seleção de todos os tempos?

Babu Santana – Raul, Mozer, Juan, Leo Moura, Junior. Gerson, Adílio, Bebeto, Gabigol, Andrade, Zico. Não está na ordem. Isso aqui é uma brincadeira, mas coloca então o time de 81. Está escalado.

Foto: Reprodução – Instagram – Babu Santana

RAPGOL Magazine – Hoje vemos várias marcas fazendo parcerias com cantores e atletas, sabemos que  maioria destes pertencem ou foram criados em comunidades, você acredita que as marcas deveriam apoiar mais projetos sociais?

Babu Santana –  Sou suspeito, ne? Sou um dos diretores do Nós do Morro. Claro que achava, até porque a cada real investido em cultura, voltam quatro. Quando se pensa em projeto cultural, tem que pensar no entorno. Tem desde a atração principal monetizando, até o cara que vende pipoca, segurança, eletricista que liga os cabos, o designer. Tem uma circulação financeira, um movimento econômico muito forte. Não vejo porque não pensar nisso das marcas não apoiarem mais ações culturais.

RAPGOL Magazine – O que você curte fazer quando não está na correria?

Babu SantanaQuando não estou na correria, eu gosto de dormir. Por isso quero estar sempre na correria. Quando está muito devagar é que me preocupa.

Foto: Reprodução – Instagram – Babu Santana



RAPGOL Magazine – Você tem o hábito de leitura? Qual livro mais recente que você pode nos indicar?

Babu SantanaLi recentemente o último do MV Bill. Tenho hábito de ler, sim. Leio muita dramaturgia. O Bill no dele fala das coisas boas, não tão boas, de forma humorada, reflexiva. É um livro cheio de imagens, que você lê e consegue se identificar com as histórias. A vida me ensinou a caminhar, do MV Bill.

RAPGOL Magazine – Para finalizar e já agradecendo pela sua atenção e esta entrevista.  Poderia deixar uma mensagem para quem nos acompanhou até aqui?

Babu SantanaHumildade é a essência da vida. Seja humilde. Mas não abaixo demais a cabeça, pois quem abaixa demais a cabeça, mostra a bunda (risos).

Foto: Reprodução – Instagram – Babu Santana 

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