Conheci a Mitay muito tempo atrás, eu ainda era adolescente e ambos flertavam em viver de algo musical, ela já transpirava música naquela época, sonhava em viver de arte, seja lá qual fosse o seu caminho. A DJ já foi dona de festa, cantou em algumas músicas e hoje ela vive em Curitiba discotecando a aproximadamente 8 anos e é uma das pessoas mais dedicadas que eu já conheci.
Mitay não perde pra nenhum outro DJ do eixo SP-RIO, hoje ela já furou a bolha curitibana e uma vez ou outra aparece tocando na capital paulista e em Florianópolis, onde a cena ferve diariamente. Ultimamente a DJ está presente nas melhores festas das cidades que a contratam.
A artista costuma trabalhar seus sets com o Rap e o R&B, mas nunca deixa de lado o funk, afrobeats, entre outros gêneros musicais, mostrando que sua sonoridade é bastante versátil.
A RapGOL Magazine está de olho em toda cena e eu não poderia deixar de conversar com a Mitay, que pra mim, é disparada uma das melhores DJ´s que já vi pessoalmente, além de ser uma das melhores pessoas com quem já convivi também.
Mitay nos conta sobre o começo da sua carreira, sua paixão por música, artistas preferidos e muito mais em mais uma edição da RapGOL Magazine.
RapGOL Magazine: Obrigado por bater um papo conosco, Mitay. Conta pra gente pra quem ainda não te conhece, quem é Mitay e de onde ela veio?
Mitay: Sou uma mina da zona sul de Curitiba, mas especificamente do Boqueirão. Movida a música em todos os sentidos.
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RapGOL Magazine: Em que ano você iniciou sua carreira musical e como foi esse início pra você?
Mitay: Comecei cantando refrões de alguns grupos de Rap aqui na cidade em 2013, fiz alguns shows, gravei algumas tracks. Mais em 2015 de tanto ir em batalha e baile de Rap, Trap e tantos outros segmentos que frequentava o interesse pela discotecagem aconteceu. E foi tipo o encontro da vida. Fiz o curso com o DJ Baqueta na Capão House, DJ Zy foi um grande parceiro também e me ensinou muita coisa.
O início aqui foi foda, na época não tinha tantas mulheres como hoje, éramos poucas, aqui na cidade, tocando Rap, então nem se fala rs, a Allvmi que eu produzia junto com o Zy e Givv foi a festa que nos deu um pouco de notoriedade. Também não posso deixar de citar as produtoras daqui como pessoas que me puxaram junto pros seus lines no início: Salyhane, Priscila Gomes, Brenda Maria, Clementaum e Isa Todt. Produtoras incríveis, sempre me chamaram pra somar nos seus projetos, quando muita gente ainda desacreditava.
RapGOL Magazine: Qual foi a reação dos seus pais assim que você contou pra eles que queria ser DJ?
Mitay: Eu não sou filha de pais financeiramente ricos, então eles sempre querem que você faça algo que te de segurança, estabilidade, mas ao mesmo tempo davam um apoio do jeito deles, porque eu ainda trabalhava CLT, então discotecagem era tipo um hobbie ao ver deles, não algo que teria 100% da minha dedicação. Aí quando pedi as contas e falei que faria o corre integralmente, eles aceitaram até que de boa, acabou sendo um processo árduo, mas natural. Sou o que sou graças a eles, depois de me tornar adulta, temos uns papos incríveis e muita amizade fora o lance pais e filha. Muito abençoada pela família que tenho, não somos financeiramente ricos, mas de outras coisas somos milionários.
RapGOL Magazine: Quais as maiores dificuldades que você teve nesse tempo de carreira?
Mitay: Trampar com música e autonomamente é uma grande roda gigante, vez ótima, vez péssima. Não tenho agência então já rolou calote, maus produtores e festas que as vezes não pertencem a mim (sabe aquela situação que você se pega pensando: aonde me enfiei??) kkkk. Auto sabotagem também, eu como uma boa taurina me cobro demais em sempre entregar uma boa experiência sonora e única, quando sinto que não entreguei o tanto que desejava me frustro um tanto.
RapGOL Magazine: Hoje você toca nos melhores lugares da cidade, como você vê a cena como um todo?
Mitay: Curitiba sempre foi uma cidade potente, de mentes criativas e que se movimentam como pode. Sobre os artistas daqui não tenho o que falar, a não ser coisas incríveis. Temos muitas produções independentes, independente MESMO, feitas na raça e mesmo que sem apoio nenhum, movimentam e alimentam a cidade e seus segmentos e artistas de uma maneira foda.
O que estraga é nossos governantes e grandes empresas… como elevar os artistas a um outro nível? Infelizmente nossos talentos se veem forçados a sair daqui, pra conseguir expandir seu corre. Isso que é triste. Então o meu desejo pros próximos anos é que toda essa cena forte tenha mais oportunidade de mostrar o que sabe, tendo o devido apoio e reconhecimento, sem ter a necessidade de mete o pé pra continuar sendo relevante.
“Curitiba sempre foi uma cidade potente, de mentes criativas e que se movimentam como pode. Sobre os artistas daqui não tenho o que falar, a não ser coisas incríveis.”
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RapGOL Magazine: Existe algum lugar especial ou festa que você toca ou tocou que sempre te traz lembranças boas, se sim, qual?
Mitay: Tá, vou listar aqui os roles que mais me emocionei e ainda me emociono: Curitiba Jazz Festival de 2021 na praça do Athlético Paranaense, nos tinha acabado de receber vacina e fui agraciada com essa benção de tocar nesse festival. Era pra ser um lance nada muito, e do nada me vi cercada por centenas de pessoas curtindo Rap, Boogie, House dentre outras coisas que provém do Jazz.
Hip- Hop de Raiz em Floripa, toquei umas 5 vezes lá e é sempre mágico.
Um Baile Bom que agora é minha residência, primeiro baile preto em Curitiba, tem que respeitar tudo que construíram num lugar como a nossa cidade.
Baile da Brum também em Florianópolis, minha amiga DJ Brum, simplesmente faz o maior e melhor baile funk do Sul e passei o ano novo lá tocando e depois ouvindo um set mais loko que o outro.
Abrir o show pro Racionais MC’s em 2022 foi sinistro também e geralmente show acaba e galera vai embora, nesse a galera queria baile e foi tudo, agradecimentos especiais ao DJ Monrá, fizemos um B2B lindo.
RapGOL Magazine: Seus sets são baseados por festas ou você segue seu felling o tempo todo?
Mitay: Assim, como sou uma DJ de música preta, o repertório é muito vasto e de pesquisa quase que diária. Então quem me chama geralmente já tá ligado nisso. Ai só dá uma direcionada pra algo mais segmentado dentro da música negra né. O restante vai no felling rs
RapGOL Magazine: Música sempre teve presente na sua vida? Quais são suas lembranças musicais da infância
Mitay: Sempre esteve! Lembro da minha mãe cantando pela casa música gospel ou RnB 90s, do meu pai tocando pagode ou dançando break ouvindo Soul. Meus primos ouvindo rap na frente do quintal, as rodas de samba em alguma comemoração de família. São boas lembranças, bom voltar no tempo, fui uma criança feliz.
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RapGOL Magazine: Quando você era pequena o que você sonhava como profissão?
Mitay: Muitas coisas kkkkk teve a fase atriz, fase ginasta (culpa da Daiane Dos Santos), Cantora, mas nenhuma que lembro foi convencional, sei lá. Ser advogada, médica kkkkk nunca quis.
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RapGOL Magazine: Nesses 8 anos de carreira, você tem alguma noção de quantos eventos você já participou até aqui?
Mitay: Nossa João kkkkkkk não sei, vou tentar fazer uma conta básica, minha média de eventos por semana é 3 eventos, as vezes tem muito mais, as vezes menos, mais tá, tentei fazer uma conta furreba porque não sou de exatas kkkk mas devo ter feito mais de 1000 eventos, ou chegando lá kkk
RapGOL Magazine: Você acabou de soltar o projeto “CAIXA PRETA A TRILOGIA”, divido em gêneros musicais, certo? Conta pra gente um pouco sobre.
Mitay: Aí me sinto orgulhosa desse trampo! Sim, foi dividido assim: Ato 1 RnB: Que posso dizer que pra mim é a confort music, o que tenho uma pesquisa muuuuito abrangente, por escutar muito antes de ser DJ e dar continuidade nisso, e já gravei mais de uma mix começando no RnB e depois indo pra outras sonoridades, então nada mais justo que começar a trilogia com RnB do mais puro creme até algo mais dançante.
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Ato 2 Afrobeats: É um amor recente, de 4 anos pra cá, quando comecei minha pesquisa de Amapiano, Funk, Jersey, fui uma DJ limitado durante muito tempo, só curtia Chill Baile, mas quando consegui furar essa bolha foi algo maravilhoso pra minha expansão musical dentro da música negra, tem tanta coisa foda acontecendo nesse mundo e tentei trazer a minha versão mixada nesse segundo ato.
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Ato 3 Clássicos: É minha essência, minhas referências tem muito soul, Boogie, brasilidades e rap. Um lance de voltar no tempo mesmo, explorar o que a gente já conhece em novas versões seja em mashup, edit ou versões originais.
Enfim, foi um trampo que tem um pouco de audiovisuais captado pelo ObraboMaycon e sets na íntegra no soundcloud, então convido a ouvir, pq tá tão lindo! 🥹🫵🏽
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RapGOL Magazine: Quais são suas grandes referências musicais?
Mitay: Nossa, tantas 🤯 vou tentar resumir: Erykah Badu, A Tribe Called Quest, Pharrell, Luedji Luna, Xênia França, Zudizilla, Yasiin Bey, DJ Cinara, DJ Emii, Morenno, DJ Brum, Discopédia, DJ Vivian Marques, Total, Jeeh FDC, Ajuliacosta, Vhoor, Jorge Aragão, Gal Costa, Alcione, Curumin, James Brown, Chaka Khan, Arthur Verocai, Minnie Riperton, Tems, Deekpz, Burna Boy, Rihanna, Iamddb. Uma salada de frutas kkkkkk e ficou muita gente de fora, graças a Deus somos abençoados.
RapGOL Magazine: O que a Mitay gosta de fazer nas horas vagas?
Mitay: Sair pra comer se tenho dinheiro kkkk beber um vinho em casa assistindo uma série com meu boy. Tomar um gelo com as minhas amigas/irmãs. Está perto de quem eu amo, fazendo coisas que a gente não pode fazer quando tá na correria da vida.
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RapGOL Magazine: Com qual artista você sonha em dividir o palco alguma vez?
Mitay: Aí já realizei alguns, mas agora Badu, Flora Matos, Jorge Aragão, Luedji Luna, Yasiin Bay, Discopedia, A Tribe tbm, mas esse é um sonho quase impossível. E mais muitos outros rs.
RapGOL Magazine: Seu feat dos sonhos?
Mitay: Quando me tornar uma bela produtora né kkkk ainda tô nos processos de treinos, mas pro futuro: Iamddb, Alt Niss, Ojemerie e MC Luanna.
RapGOL Magazine: Gosto de sempre pedir indicações das pessoas que eu entrevisto, tem algum livro, filme, que você curte muito e quer compartilhar conosco?
Mitay: Da hora, de livros “Ninguém é inocente em São Paulo” do Férrez, e “Carta a minha filha” da Maya Angelou. Filme eu deixo pra uma próxima, falhou a memória agora.
RapGOL Magazine: Cada vez mais temos DJ´s novos na cena, tem alguém em especial que você tem prestado atenção e queira citar pra gente?
Mitay: Eu fico tão feliz em ver a cena prosperando e girando a roda, é importante e espero que o ciclo aumente cada dia mais. Vamos lá: Vane Marques, não dá pra falar que ela é nova na cena, porque muito antes de tocar, ela já dançava no balé da Siamese. E é uma artista completa, cada set que tenho o prazer de ouvi-la é uma emoção. DJ Medusa, a única Argentina que a gente se ama, toca muito, tanto Rap, quanto latinidades. Parise, dividimos o line esses dias e fiquei encantada com a versatilidade, feeling e técnica.
RapGOL Magazine: Acho que é isso amiga, valeu pelo papo. Deixa seu salve final e onde as pessoas podem encontrar seu trabalho.
Mitay: Valeu migo, obrigada pelo espaço e quem curtiu esse papo, te convido a ouvir meu trampo, me chamar pra tocar se você for produtor/contratante rs
No Soundcloud você me encontra apenas como: Mitay e no insta como @mitaydj.
Um salve a todos os amantes da cultura Black, seguimos! 🖤
Créditos finais referente a foto de capa.
Produção: @anaheloise
Fotos: @obrabomaycon
Styling: @chrispretacollection
Jóias: @k.e.m.e.t
Make: @nadi.makeup_
Locação: @estudio42