Nel G é um artista angolano residente no Brasil há mais de 6 anos. Nascido em Luanda, capital de Angola, podemos rastrear algumas marcas que o rapper traz consigo. Segundo a escritora Yara Monteiro, Luanda é uma “dama que bate bué”. É isso que observamos na caneta de Nel G: uma caneta com sede; uma sede para dar certo, uma sede para fazer virar, uma sede de vingança. Vingança de um lugar que ainda não reconheceu um dos maiores artistas de nossa geração. Um lugar que ignora por medo. Como admitir que um dos melhores não é daqui?
O gosto musical vem do berço, desde criança sua casa é repleta por músicas locais – com destaque ao semba -, porém com alguns sucessos brasileiros e portugueses. A veia artística vem de seu pai, já que o mesmo possui uma coleção de vinis em sua residência. Ainda antes de completar 18 anos, Nel G gravou sua primeira música com participação de sua irmã, Yara. A música Tatuagem o elevou para uma espécie de “freshman” em todos os colégios da região. Ou seja, o menino prodígio que já no seu primeiro clipe ostentava uma Harley Davidson e um tênis Zanotti. Porém, o freshman tinha planos além mar. O freshman atravessou o atlântico em busca de seus sonhos.
Ao chegar no Brasil, em 2017, começou a gravar já na segunda semana. Fez contato com algumas lendas locais: Pete MC, Feejay, Rodrigo Nick e Kalu MC. Ao trabalhar sua primeira Mixtape, Triângulo Lunar, totalmente produzida por Weezy Baby (beatmaker com vários projetos com o grupo Mobbbers), o freshman mostra sua cara. Gosto muito do que o Feejay disse certa vez: “Triângulo Lunar ainda não foi lançado” – tendo em vista a ausência de investimento para o projeto. Porém, mesmo com as condições da época, Nel G abriu o show do Marechal e Criolo juntamente com Rodrigo Nick.
Um sonhador não dorme, ele hiberna. Hibernar no sentido que se ausenta por um tempo para voltar com novas energias, novas forças. Para caneta voltar a “bater bué”. O novo projeto de Nel G é intitulado “Casulo”, onde se pretende criar uma nova forma de olhar o mundo, fugir dos estereótipos que o rap carrega. Uma forma de olhar o mundo a partir de uma visão mais adulta, mais responsável. Uma visão que não quer briga/confusão, apenas cuidar de si. A notícia boa é que há mais lançamentos por vir. O projeto está somando com a direção criativa da Depraxe (Daniboy e Salun – MC e ex sócio do Estúdio 172).
Há um fator estranho quando pensamos sobre o apagamento dos rappers angolanos que vivem no Brasil. Usando uma frase bem batida: quem tem medo do rap angolano? Por que ele não é ouvido com mais frequência? Faço menção honrosa ao grupo D nasty: pavimentaram o caminho, porém deveriam ser mais conhecidos. É um perigo não conhecer Nel G.