O mês de novembro começa com o lançamento de “Plano de Aula”, EP da artista Poeta Gabriela, originária da zona leste Curitibana. A MC é ativa há mais de seis anos na cultura Hip Hop e vem ganhando holofotes nas redes digitais com as suas participações potentes nas batalhas de rima que atravessam as vielas paranaenses.
O projeto lançado hoje (7) tem a produção assinada por Letrô, e apresenta duas facetas da artista: a rapper das ruas e a professora da sala de aula. Gabriela encarou a realidade que as crianças mais pobres enfrentam nas escolas públicas da forma mais dura possível após vivenciar uma chacina do seu bairro enquanto estava na escola, em 2009. Decidiu na adolescência que seria professora, se formou na Universidade Federal do Paraná e hoje leciona para crianças desse território de onde veio, no bairro do Uberaba. As fotos do EP foram tiradas nesta escola que foi palco de violência e, ao mesmo tempo, de esperança para uma jovem da periferia da capital, fotos por: @Skhrai
A escrita presente neste trabalho expressa uma ambição revolucionária: retrata a força presente nos filhos de uma classe explorada, que acorda cedo para construir tudo o que existe na sociedade, e mesmo assim sofre sem direitos básicos garantidos. Em “riquezas”, a participação especial dos estudantes da professora referenciam Emicida e a pulsão de vida que existe em cada favelado que luta – por justiça e pela própria sobrevivência nesse sistema.
“Irmão, você não percebeu que você é o único representante do seu sonho na face da terra?
Se isso não fizer você correr, eu não sei o que vai…
Ousar sonhar e acreditar
na mudança de realidade
que pode proporcionar”
Uma das principais referências do projeto da Poeta é Paulo Freire, filósofo e pedagogo, considerado por estudiosos um dos maiores pensadores da educação internacionalmente. O professor ficou famoso após alfabetizar mais de trezentos trabalhadores rurais em apenas 40 horas. Sua filosofia se baseia em defender a liberdade através da construção do pensamento crítico, por isso a educação e a formação política têm um papel decisivo na transformação da sociedade. Sua experiência coloca a relação professor e estudante em um lugar dinâmico: o professor só ensina se estiver, também, aprendendo.
“Me eduquei ao educar
E aprendi com MCs como Sabota e Black A.
Que o Hip Hop de fato é um bom lugar”
A faixa final encerra o projeto trazendo traços de subjetividade e espiritualidade como seres humanos desumanizados: o fazer RAP se torna uma missão, um instrumento de devoção e de revolta; a alternativa de uma juventude que conta com as suas proteções apesar da violência do Estado. Pete Mc é escolhido a dedo e convidado para transmitir toda essa carga da cultura Hip Hop, e constrói a sua participação com maestria e responsabilidade.
“Plano de Aula” traça um caminho de sonhos, colocando a Educação e o RAP como instrumentos de revolta. O palco de guerra para defender o futuro da juventude mais pobre está nas ruas e na escola, dois territórios que a Poeta conhece bem. Todo favelado que sonha em coletivo e almeja mais do que esse projeto de Brasil para as elites tem a oferecer merece ouvir essa obra e arte.