Após quase meia hora de busca no Transfermarkt, maior portal sobre transferências e jogadores relacionados na Série A do Campeonato Brasileiro, encontrei apenas sete jogadores que utilizam a camisa 24 entre os 20 clubes que estão disputando o torneio.
- 24 – Brenno – Gremio.
- 24 – Arthur Gazze – São Paulo
- 24 – Gustavo Ramalho – Fluminense
- 24 – Kevin Malthus – Santos
- 24 – César Haydar – Red Bull Bragantino
- 24 – Víctor Cantillo – Corinthians
- 24 – Leandro Matheus – Bahia
Taxado com razão como sexista, homofóbico e machista, o futebol Brasileiro deveria combater com fervor o preconceito contra a comunidade LGBTQIA+ . Como dito pelo jornalista Mário André Monteiro em 2019, O número 24 é praticamente proibido para os jogadores do futebol brasileiro. E também na sociedade brasileira num âmbito geral. A explicação mais provável e mais plausível para isso é folclórica, cultural e com referência bastante antiga, de mais de 100 anos.
No popular ” Jogo do Bicho “, criado no Rio de Janeiro em 1892 por João Baptista Viana Drummond, a quadra estipulada ao animal veado é a 24ª, contendo os números 93, 94, 95 e 96. Ou seja, o 24, no ambiente machista do futebol, é relacionado a homossexualidade.
Gustavo Andrada Bandeira que é doutor em educação pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e autor do livro “Uma História do Torcer no Presente: Elitização, Racismo e Heterossexismo no Currículo de Masculinidade dos Torcedores de Futebol”, os jogadores buscam se afastar de tudo que questiona a sua masculinidade afim de evitar qualquer desgaste com torcedores.
“Os times representam torcidas. O jogador é o representante do torcedor, ou do sócio, se a gente for pensar no clube. Ele dentro do campo tem que desempenhar o que o torcedor espera. E o que o torcedor espera não é só jogo de futebol, não é só qualidade técnica, gol, passe, drible… ele também quer uma representação de outros valores”.
Ainda na matéria feita pelo Mário André para o portal IG, Gustavo Andrada disse: “Independentemente de estado ou país, a sexualidade é um conteúdo muito importante para esses torcedores. O atleta não pode apenas jogar bem, tem que jogar bem e representar uma masculinidade aceitável que, obviamente, é uma masculinidade não homossexual”.
Para ele, qualquer referência mostra o limite e a fraqueza dessa masculinidade. “Imagina, um número nas costas. É realmente uma falta de confiança e uma masculinidade que tem ser provada o tempo todo, o tempo todo sob vigilância, sob controle e que qualquer coisa é perigosa”, disse
“Se o jogador puder evitar problemas, e aí eu entendo o lado do jogador, esse é um a menos. Já que os torcedores acham importante que você não use o número que faça esse tipo de referência, então não usa. E isso chama bastante atenção”, completou.
Ainda de acordo com Gustavo Andrada Bandeira, a presença de jogadores homossexuais no futebol não é novidade. “E sim, todos estão dentro do armário, escondidos e performatizando como se homossexuais não fossem.
“O ambiente do futebol para os jogadores profissionais é de mercado de trabalho, e um mercado extremamente competitivo e pouquíssimas vagas. Estamos acostumados a ver os jogadores famosos, mas a ampla maioria é de atletas que não conseguem jogar o ano todo e que até precisam trabalhar em outra coisa para compor salário”, lembrou.
“Se um jogador assumir a sua homossexualidade, talvez até pudesse jogar. Mas ele teria que ser muito melhor do que os outros. Caso contrário, em qualquer erro de passe, ele não erraria o passe por erro técnico, mas sim por ser homossexual. Então seria muito perigoso assumir e ele fecharia portas para um mercado restrito”
“A homofobia não é novidade no futebol brasileiro, é uma coisa antiga. O que é novidade é a gente perguntar se ela deveria estar aí, se não deveria ser feito outra coisa, se não está errado essa homofobia. Isso é novidade e nos faz permitir ser otimista”, disse.
“Os clubes estão abraçando as causas, fazem campanhas contra o preconceito, pelo dia de visibilidade, de lutas de sexualidades não normativas. Dá para ter uma pequena esperança de que dias melhores nesse conteúdo aparecerão no futebol brasileiro”, finalizou o especialista.