Rap Plus Size: conversamos com Sara donato e jupitter sobre vivências, sucessos, pandemia, linguagem neutra, Funk e muito mais
Rap Plus Size é uma dupla paulista formada por Jupitter e Sara Donato na zona norte de São Paulo. O projeto que inicialmente seria apenas um disco, ganhou força e se tornou referência dentro do Brasil.
Com sucessos que vão do funk ao Boombap, Sara e Jupitter tem muito a dizer e conversaram com a nossa jornalista Natasha Garcia, confira:
RAPGOL MAGAZINE – Para quem não conhece, quem é o Rap Plus Size? Onde surgiu? Habitam? Do que se alimentam?
Rap Plus Size – Rap Plus Size é uma junção de Jupi77er e Sara Donato, que na real era pra ser apenas um disco em colab entre ambos artistas, mais que foi se consolidando e ganhando espaço na cena, dando tão certo que estão juntos desde de 2016.Atualmente moramos na zona norte de SP , Jupitter na Brasilândia e Sara no Jardim Elisa Maria. ( PORÉM DEIXANDO BEM ESCURECIDO QUE SARA É DO INTERIOR DE SP – SÃO CARLOS (risos)
RAPGOL MAGAZINE – O que mudou na cena desde o início do grupo?
Rap Plus Size – A cena vem mudando muito desde 2016 né? Hoje conseguimos ver mais Minas na cena, mais pessoas trans e não porque apareceram agora, porque na real essas pessoas sempre estavam ali. Hoje já conseguimos ver mais pessoas pretas, consolidadas e influentes na cena, que há um tempo era bem embranquecida. Porém estamos caminhando, muita coisa precisa evoluir ainda né? Ainda falta oportunidade, ainda existem line de eventos com maioria homens cis, não é mesmo?
RAPGOL MAGAZINE – Hoje vocês unem vários movimentos / recortes em seus sons, e com certeza cada faixa tem se tornado hino para muita gente, seja no hip-hop, no funk ou na sociedade como um todo. Como é ser linha de frente?
Rap Plus Size – Bem, a gente sempre fez o que acreditava e muitos dos nossos sons é sobre nós, reconhecemos a importância do Rap Plus Size e tudo que o rodeia, não é nada fácil botar a cara tapa, nunca foi fácil falar sobre assuntos que normalmente nunca é falado, ainda mais unir essas pautas com um trampo de qualidade. Mas estamos aí, mais importante que fazer hit é fazer algo que vai mudar de alguma forma a vida de alguém.
RAPGOL MAGAZINE – Entendem que o universo digital mais ajuda ou atrapalha? Investem em marketing digital, plataformas e etc? Caso,sim… Dá uma dica pra gente do que pega bem e do que não é legal!!!
Rap Plus Size – Ajuda mas é uma ferramenta que tem que saber utilizar, e hoje em dia as redes estão focadas na criação de conteúdo com a finalidade de levar informação e agregar conhecimento pro público que te segue. A dica é focar em um conteúdo de qualidade e estudar os algoritmos de cada rede da qual você quer trabalhar.
Vocês sempre abordam temas reflexivos, Aquário é uma introdução maravilhosa, a composição é de quem? Nos conte um pouco da história desse som, pls.?
Rap Plus Size – Então, criamos todo um conceito para esse álbum, que foi pensando desde dos beats até as letras , normalmente cada um escreve sua parte e vamos lapidando e entrando cada vez mais na ideia. Aquário fala sobre uma realidade projetada que o sistema criou para aprisionar e vigiar nossos passos, nos colocando em caixas para seguir moldando com o que devemos viver, porém apontamos uma solução que é quebrar esse aquário, podendo abrir a mente para novas possibilidades.
RAPGOL MAGAZINE – Pipeline, é atemporal, mas nunca foi tão temporal quanto os dias Sombrios que temos vivido, como surgiu essa parceria com o Djonga?
Rap Plus Size – Infelizmente é muito real, pipeline é a onda mais mortal do mundo e fazemos uma analogia com a Polícia Militar, quando pensamos nesse som Sara mandou uma mensagem pro Djonga DO NADA e ele aceitou fazer esse som, foi muito foda ter ele nessa faixa rs.
RAPGOL MAGAZINE – O que vocês acham de “tentarem o cancelar” após ter feito um show durante a pandemia?
Rap Plus Size – Ao contrário do que pensam, não acreditamos nesse punitivismo seletivo. Muitos artistas brancos fazem shows, festinhas e aglomerações e nem tão sendo pagos pra isso e ninguém tá falando nada.Por outro lado, acreditamos que nesse momento em que vivemos é preciso manter o isolamento, se cuidar e NÃO AGLOMERAR!
RAPGOL MAGAZINE – Nos sons vocês narram algumas mágoas em meio a tantas palavras de resistência e o direito de existir, “mente, corpo são um só”, como vocês mantêm esse equilíbrio?
Rap Plus Size – Olha, nem todo dia é um dia bom né? E tá tudo bem, eu Sara procuro equilíbrio no que eu gosto, nas coisas e pessoas que me fazem bem.
RAPGOL MAGAZINE – A Sara têm ótimas dicas de receitas vegetarianas, e o Jupitter sempre aborda sua religião em suas redes sociais, conte-nos mais sobre o dia a dia do grupo. Como encontrar a luz no futuro?
Rap Plus Size – Bem, gente, eu não sou vegetariana, tá? Normalmente faço receitas com o que tem em casa e como consumimos menos carne em casa é o que eu gosto de passar para as pessoas (risos). E como adoro cozinhar, é uma das coisas que uso pra me dar uma luz no futuro, ALIÁS é muita energia envolvida. Eu, Jupitter peço muita licença para falar da minha religião que é uma coisa que me faz bem e mudou a minha vida, sem dúvida não posso ignorar meu caminho espiritual quando olho pro futuro.
RAPGOL MAGAZINE – Qual a música que não pode faltar na playlist?
Rap Plus Size – Para mim Sara, ultimamente tem tocado novo álbum da Mac Julia, repetidamente. Porém O que não sai das playlist são os sons da Cristal, Tasha e Tracie e Stevan. Já eu Jupitter não posso deixar de escutar Febem, Tasha e Tracie, Sant e agora tenho ouvido muito Gabrelu.
RAPGOL MAGAZINE – Qual a música que não pode faltar no show do grupo?
Rap Plus Size – Com certeza, TODA GRANDONA
RAPGOL MAGAZINE – Quais são os próximos trabalhos?
Rap Plus Size – Estamos trabalhando junto com a UZZN REC em um novo EP, que em breve teremos mais novidades, porém já deixo explicado que não esperem mais do mesmo.
RAPGOL MAGAZINE – Como vocês estão se virando na pandemia?
Rap Plus Size – Cada ume está fazendo trabalhos mais voltados para uma área diferente, sem deixar de fazer lives e às vezes as famosas Publis, que ajudam a pagar as contas. Jupitter é designer também, trabalha com marketing e acabou de lançar a loja Orgulhe-se para vender acessórios LGBTQIA+ online.
RAPGOL MAGAZINE – Gostam de ler? O que estão lendo no momento?
Rap Plus Size – ( Sara ) Eu até gosto de ler, mas normalmente tem que ser algo relacionado com algo que eu gosto. E no momento estou lendo um livro de uma amiga que se chama Filhas da Luta da Mah Vieira. Recomendo.
(JUPITTER) No momento estou lendo muitos artigos que falam sobre gênero e não binaridade, atualmente estou lendo o livro Transfeminismo da professora Letícia Nascimento. Além de sempre consumir Zines e outras produções de texto de amigues.
RAPGOL MAGAZINE – E as séries inspiradoras, o que vocês acreditam que não podemos deixar de assistir e aprender?
Rap Plus Size – Eu Sara assisto muita série e pra falar real adoro coisa fútil, reality show aleatório, série de adolescente (risos). E um que recente que eu indicaria é LUPIN, muito boa.
(Jupitter) sou horrível para assistir série, mas a ultima que eu gostei foi Bom Dia Verônica e to acompanhando também Lupin.
RAPGOL MAGAZINE – Falando em dicas, no curso de linguagem neutra e não binariedade o JUPITTER apresenta ótimas referências. Hoje para compor, vocês seguem mais na linha freestyle, como nos velhos tempos, ou já focam em uma produção pesada, como em “Toda Grandona”?
Rap Plus Size – Gostamos de compor usando o beat para referência, mas às vezes a letra vem antes e assim criamos o beat por cima. Às vezes vem de freestyle mas geralmente a gente segue uma linha de raciocínio para escrever, baseado em uma temática que definimos anteriormente.
RAPGOL MAGAZINE – Toda grandona é um hino, como foi a transição das músicas de protesto” – com a pegada boombap – para um funk mega produzido (mas tão subversivo, representativo e acolhedor)?
Rap Plus Size – Toda Grandona foi algo feito especialmente pra festa que existia chamada toda grandona, fizemos em 3 dias se não me engano, foi algo natural e leve. Acredito que ela é bem música de protesto, né ? Só que dá pra rebolar a raba rs.
RAPGOL MAGAZINE – Vocês abraçaram o funk com toda grandona ou foi só um hit?
Rap Plus Size – Gostamos muito de fazer esse som, e já estamos preparando coisas novas, até porque é algo que a gente gosta e consome também.
RAPGOL MAGAZINE – Vocês acreditam que o funk trouxe uma expansão do trabalho por ser mais popular que o rap?
Rap Plus Size – Eu acho que “Toda Grandona” teve muito alcance porque esteve envolvido com um grande canal do YouTube e também contou com a presença de diversos influencers de nome que já estavam atuando na pauta antigordofobia e bodypositive. Mas não é o primeiro funk que fizemos, antes dele veio DEIXA AS GAROTA BRINK já no primeiro álbum. E lógico, TODA GRANDONA teve um peso porque o funk é sim mais popularizado e viralizou com muita facilidade.
RAPGOL MAGAZINE – Muitas pessoas não entendem a linguagem neutra, por acreditar que “querem mudar a língua portuguesa”, em o “Grave Bate” vocês utilizam a linguagem neutra no último refrão. Contudo, vocês acreditam que a linguagem neutra cabe apenas como um ato de protesto, ou que de fato devemos caminhar para uma mais inclusiva?
Rap Plus Size – O uso da linguagem neutra é sim para mudar alguns aspectos da língua portuguesa e deixá-la mais inclusiva, principalmente com a inclusão de pessoas trans não binárias que utilizam pronomes neutros. Entretanto não é apenas sobre isso, é importante defender seu uso, porque a língua portuguesa é sexista em sua origem e já que estamos falando de construir novas narrativas em uma sociedade mais justa e igualitária, nossa linguagem é um dos mecanismos que precisamos mudar para que possamos nos relacionar melhor quanto individues. Usar a linguagem neutra é uma forma de protestar e também impactar a sociedade trazendo uma reflexão para que as pessoas repensem o uso da nossa língua.
RAPGOL MAGAZINE – Haters como vocês lidam?
Rap Plus Size – A gente adora. Nossos haters são dedicados e trazem um ótimo engajamento para nossos vídeos e conteúdos. Antes incomodava, hoje a gente tira onda, são pessoas extremamente infelizes com suas próprias existências, por isso precisam tanto julgar as nossas aparências e odiar nossas ideias.
RAPGOL MAGAZINE – Linguagem neutra, já pensaram em passar a usar / adaptar em todos os sons?
Rap Plus Size – Estamos incluindo nos novos sons, já os antigos ficam do jeito que estão, até para preservar o momento em que foram escritos.
RAPGOL MAGAZINE – Os clipes do grupo são bem produzidos, quem os ajudam na produção?
Rap Plus Size – Depende muito, já fizemos muitas parcerias ao longo desses anos, Iuri Stocco sempre fortaleceu nosso corre, a extinta DMNA que ajudamos a fundar também somou muito. A GangaProd que fez trabalhos incríveis com a gente, Porém a gente também põe a mão na massa né? Sara escreve roteiro, Jupitter já editou alguns clipes, Tayan nosso Dj e Mari nossa produtora no corre da produção, nossa amiga Laura edita os clipes e assim vamos indo rs.
RAPGOL MAGAZINE – Deixem um salve para aqueles que contribuem com o corre.
Rap Plus Size – Muito obrigada por fortalecerem nosso corre ao longo desses anos, nada seria possível sem vocês. E lembre-se de que acreditar nos sonhos é engrenagem essencial
Criaa da Zona Oeste do RJ.
Comunicador, fotógrafo, colecionador de camisas de times e camisa 8 no time da pelada.
Trabalhando com notícias e informações desde 2002.