VITIN mostra que no Rap e no futebol, só se vence com habilidade, trabalho coletivo e raça

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Criado pelas ruas do Manguinhos, Zona Norte do – RJ, VITIN é mais um jovem que viu no Rap a oportunidade de crescer e ajudar quem está ao seu redor. Rapper, produtor e articulador cultural, foi com o rap que ele conseguiu ajudar algumas famílias durante a pandemia que estamos vivendo e segue trabalhando em busca de outras conquistas coletivas.

Recentemente ele lançou o seu novo single ” Contra-Ataque“, um DRILL que chega dialogando com elementos do futebol e fazendo uma analogia entre o craque dentro de campo que só tem mais uma chance para definir a jogada e os jovens favelados que não podem desistir, utilizando sua raça e vontade de mudança pra transformar o cenário crítico.

Conversamos com o jovem rapper e Flamenguista sobre seus projetos, trabalhos coletivos e muito mais.


RAPGOL MAGAZINE – Quem é o VITIN, como ele descobriu e se encontrou no Rap?

VITINVITIN é um jovem negro, cria do complexo de Manguinhos, filho da Dona Goretti, que assim como a maioria aqui, teve uma adolescência cheia de escolhas erradas, mas que viu na música e na cultura como um todo, uma alternativa de fazer diferente e de fazer a diferença, e foi esse caminho que fez eu ser um mano batalhador, correria, que sonha alto mas sem tirar o pé do chão.


O rap sempre teve nas caixas de som da minha área desde que me conheço por gente, mas pra mim a descoberta dele foi em casa, ainda na infância com o disco “Raio X Brasil” do Racionais. Meu pai, que era presente ainda nessa época, era um amante de música, tinha cd’s de vários gêneros musicais, mas nenhum deles me marcou tanto quanto esse. Então desde lá eu era um ouvinte de rap, até pelos 15, 16 anos começar a arriscar algumas rimas, escrever poesia, e em 2014, através do convite do BG e do HC, fundamos o grupo de rap Faixa de Gaza, que foi o ponto inicial pra eu me olhar e me reconhecer como um MC.

RAPGOL MAGAZINE – No som “contra-Ataque” você inicia o vídeo mostrando trechos de reportagens do massacre do Estado na comunidade do Jacarezinho.
Na música as rimas passam a visão de um cria. Para você o rap obrigatoriamente tem que mostrar vivência e conteúdo?

VITIN É difícil usar “obrigatório” quando se fala de música, acho que o artista tem liberdade pra falar sobre qualquer coisa e o mercado felizmente, e infelizmente em alguns momentos, tem espaço pra tudo. Mas afirmar isso na minhas linhas é um posicionamento de disputa mesmo, o favelado sempre teve que chegar com o pé na porta pra conquistar espaço, e nos dias de hoje a competição aumentou, todo dia tem artista novo lançando som, se for pra alguém ficar de fora da festa, que seja aqueles que sempre tiveram tudo nas mãos.


E quando falo de vivência e conteúdo, não falo nem só de ser politizado ou tratar de assuntos sérios, mas é a nossa vivência que faz o Brasil ser reconhecido, no entretenimento, na comédia, na música, na resistência, tudo isso vem de dentro da favela. Seja pra falar de dor, de ódio, de felicidade, amor, putaria, por tudo que a gente vive e aprende por aqui, não tem como não fazer um som dez vezes melhor, mesmo com dez vezes menos condição pra fazer acontecer.


Sobre a intro do clipe e a chacina do Jacarezinho, acredito que é papel de todo artista não deixar que isso passe em branco, manifestar isso de alguma forma na nossa arte, nós vivenciamos a maior chacina da história do Rio de Janeiro, se nós batemos no peito pra dizer que representamos a favela, temos que mostrar isso na prática também nas nossas produções.

RAPGOL MAGAZINE – Em postagem recente nas redes sociais, você comentou sobre estar gravando. Existe a possibilidade de um álbum ou EP em um futuro próximo?

VITINEstamos trabalhando no meu primeiro EP solo sim, e com a ambição de por ele pro mundo ainda esse ano. Depois dos últimos lançamentos, recebi muitos convites pra rimar com artistas e projetos que admiro bastante, o que fez a gente reduzi um pouco a velocidade do EP, mas deixa a certeza que até ele sair vem muito lançamento brabo por aí, que vão servir pra por meu nome mais ainda no mapa e preparar o público pra receber ele da melhor forma.

RAPGOL MAGAZINE – Além de rapper , você é produtor e articulador de algumas frentes, poderia nos contar sobre isto?


VITIN Então, desde mais novo que me envolvi na produção de alguns eventos, mas fui me entender como produtor mesmo, em 2017, quando tive contato com o curso de produção cultural, onde eu pude me aprofundar um pouco mais sobre a profissão, e dando a oportunidade pra eu tirar do papel planos grandes, como o Festival MOSCA que rolou em 2018 em Niterói, em que eu fui um dos idealizadores do projeto.


No início da pandemia com o Faixa de Gaza, fui um dos articuladores da Rede Rap Resistência Viva, que prestou assistência a mais de 30 famílias de artistas de vagão, organizadores de rodas culturais, mc’s, entre outros ligados a cultura hip hop que tiveram os trabalhos interrompidos pela COVID.


Em 2021 ainda tive a oportunidade de dirigir meu primeiro mini-documentário que vai ao ar ainda esse ano pela RioOnWaatch e estou, junto a outros moradores da favela, fundando a MANGUINHOS CRIA, um laboratório de projetos do território e teremos nossa primeira ação agora nos dias 12 e 13 de Junho, que é o 1* Festival de Grafitti do MGH.


Mas pra ser sincero, o trabalho com produção tem ficado bastante em segundo plano, como o Brown diz naquela entrevista pro Thaide “se você não doar 100% de você pra música, ela não vai te dar nada em troca” , então meu foco tem sido minha carreira na música, é com isso que quero viver de fato.

RAPGOL MAGAZINE – Quais são as suas referências em produção?


VITIN Falar de referência é até um pouco complexo pra mim, eu sempre ouvi de tudo, e sempre busco essas referências em algum momento, no soul, no pagode, no samba, na mpb, mas o rap e funk tem uma influência muito maior na minha vida. Os mc’s que mais me influenciaram quando comecei a escrever foram o Racionais e o MV Bill no rap, e o Orelha e o Smith no funk. No mais, trabalhar com música é tá atualizando e estudando sempre novas referências, estudo muito o que tá rolando no mercado estrangeiro, ultimamente tenho escutado muito AJ Tracey, Pa Salieu, Isong, fritado muito numa tropa de Gana também, Yaw Tog, Jay Bahd, O’Kennet, e por aí vai, sempre se renovando.

https://www.youtube.com/watch?v=ujybJjW1mqU

RAPGOL MAGAZINE – A sua paixão pelo Flamengo, ficou estampada no peito durante do clipe “Contra-Ataque”, como você descreve o ano de 2019 e aonde você estava quando o Gabigol acertou aquele chute aos 46 minutos do segundo tempo?


VITINAcho até difícil descrever o que foi esse ano de 2019, se aquela cabeçada do Ronaldo Angelim no brasileirão de 2009 e aquele campeonato absurdo que o Elias fez em 2013 já foram momentos marcantes da minha vida, esse ano de 2019 então não tem nem como descrever, eu vivi a temporada mais vitoriosa da história do meu time, eu vou falar disso no mínimo umas 2019 vezes pro meus filhos e netos.

No dia da final eu tava na Cantareira em Niterói, papo de 40 cabeça assistindo o jogo na chuva, na tv do camelô tampada com uma lona, quando o Bruno Henrique deu aquela rabiscada pro gol do Gabi de empate, já voou loja, cadeira, mesa pra todo lado, o amigo quase desligou a tv. Mas quando saiu o segundo não teve como, a alegria foi tanta que eu já saí correndo pela praça, escorreguei no chão molhado, levantei comemorando como se nada tivesse acontecido, foi surreal, parecia carnaval, vagabundo chorando abraçando a tv, abraçando desconhecido, quebrando garrafa, aquele pique que foi no rio e no Brasil todo que vocês tão ligado (risos) Mas pra finalizar, foi um ano único, vamo vê se o Ceni proporciona mais um ano desse pra nós (risos)..

RAPGOL MAGAZINE – Você costuma jogar uma bola ou testa marra de jogador é só no videoclipe mesmo? (risos)


VITINPo o pai amassa, botou na velocidade ninguém para (risos) falando sério agora, desde menor eu sempre fui fominha de futebol, de jogar praticamente todo dia, matar aula, faltar compromisso, mas nunca sai dos campeonatos de várzea e os de escola não, as oportunidades que tive acabei não aproveitando porque nunca levei tão a sério, mesmo sonhando em ser jogador como todo menor de favela. Mas até hoje eu dou aula em campo, pra quem quiser provas, o futebol dos cria aqui no campo da bomboneira do Manguinhos é toda quarta 21:30, só brotar (risos)

RAPGOL MAGAZINE – Obrigado por conversar conosco, deixe uma mensagem e o seu contato.

VITINAntes de mais agradecer muito a toda equipe RapGol e parabenizar por um ano de trabalho sério, realmente fechado com quem tá no corre diário pra fazer o jogo virar. Pra me achar, VITIN em todas as plataformas digitais de música e @vitinfxgz no Instagram e Twitter. Fé pra isso, satisfação total.

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