DIÁSPORA HARMÔNICA

Phedilson: “A surra do preguiçoso” por Elias Jr

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Nascido como Euclides Fernandes Ananás, batizado pelo Hip-Hop como Phedilson, é natural de Huambo, Angola. Cresceu em um lar onde o estudo sempre foi visto como a saída para melhorar de vida. Porém, como o próprio rapper diz: era muito viciado em rap para não fazer. Começou sua carreira com uma carta para a namorada, onde percebeu que tinha um talento com as palavras. Entre palavras bem rimadas aqui e ali, assumiu a coroa do wordplay no rap lusófono.

Phedilson é daqueles rappers improváveis, onde você fica viciado com sua lírica desde o primeiro som que escuta. E assim começou a “minha história” como ouvinte de sua obra. A primeira vez que o ouvi foi numa música chamada Preguiçoso – no beat de Litty do Meek Mill – em janeiro de 2019, a partir de um vídeo do Há Gajus (canal no YouTube de comediantes angolanos). Esse som é uma prova de que ele não veio para brincar. Podemos dizer que é um remix onde o MC mostra que não tem muita vontade para fazer rap, porém deixa marcado e sinalizado que, se ele quiser, o trono muda de rei. Ou melhor, temos mais um na família real.

Na imagem, vemos um homem com expressão séria, vestindo uma jaqueta colorida com tons pastel e um boné branco, em um fundo de luz azul. Ele exibe um estilo moderno e urbano, característico do universo do hip-hop e da moda streetwear. A combinação das cores suaves e o olhar intenso criam uma atmosfera de destaque e presença

Com o tempo e a distância que havia na época entre esses “dois mundos”, não tive mais contato com esse MC. Porém, em 2020, lançou um projeto com o Madkutz – conhecido como Bruxo, produtor de Portugal marcante pelos seus boombaps – na música Surra. Esse clipe mostrou, mais uma vez, que Phedilson não é brincadeira. Começou a música dizendo: “Eu não tenho beef com rappers, sou preto, eu beefo com a polícia”. Essa afirmação é maravilhosa, pois demonstra a consciência racial que o Hip-Hop deveria ter. Ou seja, uma cultura que se inicia tentando romper com os conflitos de gangues em Nova Iorque, às vezes, se perde em uma disputa por “um trono inexistente” – como ele mesmo afirma. Entre punchlines e flows macabros, solta algumas pérolas, como: “Se quer ensinar, liberdade é o início”; “Dizer para os miúdos que estudem, para não precisarem roubar para ter um carro bonito”; “Dizem sobre serem thugs, mas não sabem usar uma gun, só são gangstas em faltar respeito às mães”, onde demonstra um rap com consciência e incentivo para os ouvintes. Porém, como manda a tradição do rap angolano, também lança um: “Vosso rap é crime porque não compensa”.

No mesmo ano, aparece com o Dji Tafinha – um dos maiores nomes do rap angolano, e com total certeza podemos dizer que é um OG no rap da diáspora – em uma música chamada Pancada. Este som é um “encontro de gerações”, onde temos um rosto já conhecido pelo público e a introdução de uma nova cara. Phedilson mantém seu estilo único – flow marcante, wordplay e muita punchline. Afirma, ainda, que precisa “ser ouvido, sem perder o sentido”. Todos nós sabemos que um feat de alguém mais velho e respeitado é algo louvável, então essa é mais uma prova de marcação de território. A partir daí, começaram a surgir rumores de sua possível filiação à Galáxiacrew do Dji Tafinha.

O seu último lançamento, Ene Akwetu, é uma concretização do que Phedilson poderia vir a se tornar. Um clipe muito bem feito, onde o rapper fala sobre as dificuldades que passou para chegar a esse nível. Hoje, já assinado na Galáxia, seus clipes possuem uma produção muito profissional. Neste, em específico, ele aparece com seus amigos em uma cena e, em outra, aparece com o Dji Tafinha. A música passa uma história de superação, porém dando dicas sobre progresso: “Teu carro está parado e você está preocupado com cinto”. Ou seja, é preciso arriscar. Phedilson já se arriscou bastante e hoje está correndo muito. Como disse no primeiro parágrafo: ele é um desses rappers improváveis que você já fica viciado na primeira vez que escuta. E, como o Prodígio disse em um feat que fizeram na primeira metade deste ano: “Yo Phedilson, bem-vindo à primeira liga. Você é gigante, não espere que o hater diga”.

eliasjr

Professor de Filosofia e História, fundador do Cursinho Popular AJA, Booktuber do canal Livrada!