É com imensa satisfação que a RAPGOL Magazine vem trazer a vocês essa nova entrevista de capa. Desta vez, fomos até Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, para conversar com um jovem artista que já há algum tempo está nos nossos radares.
Maui tem apenas 22 anos de idade, mas sua bagagem cultural é de gente grande. Envolvido no mundo da música desde pequeno. É MC, cantor, produtor, e, graças à sua família, desenvolveu o conhecimento e a sensibilidade para produzir canções peculiares, únicas, orgânicas, como poucos fazem por aí.
No inicio deste ano, Maui apresentou ao público o primeiro EP de sua carreira, intitulado “Rubi”, digno de uma joia viva como tantos crias pelas ruas do Rio de Janeiro, que fala de vivências e de amores. A obra conta com a participação de outros jovens artistas expoentes na cena da música urbana.
Nesse sentido, trazemos a vocês esta conversa bem sincera, onde o artista fala um pouco sobre sua vida, suas referências musicais, seus trabalhos e projetos, além do seu gosto pelo futebol e seu time do coração: o Clube de Regatas do Flamengo.
Confira abaixo, confia 😉
ROGER MORAIS.
RAPGOL Magazine – Muito obrigado por aceitar este convite. É uma honra poder trocar essa ideia. Pode começar contando para quem ainda não conhece quem é o Maui, de onde ele é cria e o que faz da vida?
Maui – Eu sou o Maui, artista de 22 anos, original de Duque de Caxias (RJ). Sou cantor, MC, produtor, videomaker… Mas atuo principalmente como cantor.
Meu trabalho principal, onde busco me expressar, é através da música, misturando as minhas referências de Soul e de R&B com música eletrônica, com Rap, com Trap, pra poder criar uma música dançante e ao mesmo tempo… Gostosa! (risos)
E ai eu gosto de chamar isso de “melodia e barulho”, tento trazer isso, esse é o Maui.
RAPGOL Magazine – Há quanto tempo você está de fato inserido no universo da música? Como foi esse início?
Maui – Desde que nasci. Meu pai é músico na igreja do bairro desde menorzinho. Minha mãe também, apesar de não ser musicista, ama música. Ela escolhia muito bem o que ela queria e o que não queria ouvir…
Mas eu comecei a produzir música com 9 anos de idade, onde aprendi a tocar o básico do violão e a escrever, fazer paródias, e depois outras músicas. E até hoje não parei. Passei por várias fases, a tocar em barzinho bem novo, já com 12, 13 anos.
E foi com 15 anos que eu comecei a me dedicar à música urbana: ao Rap, ao R&B, ao Trap… Mas já fazendo e produzindo música mesmo desde os nove.
RAPGOL Magazine – Quais são as suas maiores referências na vida e na música?
Maui – Minhas maiores referências na vida e na músicas são clichês. É minha família, ela é muito musical. Eu admiro muito a forma como eles fazem as coisas, a gente é uma família muito comunicativa, muito empática. A gente gosta de ajudar as pessoas, mas também sem moralismo.
Eu observo muito a minha avó, meu pai, minha mãe, sabe? Minhas tias, meus tios… Eles sempre acabam me colocando em um rumo.
Mas já fora da minha família tem alguns cantores que foram sim fundamentais pra forma como eu gosto de me expressar. Um deles é o cantor gospel Álvaro Tito, Thalles Roberto…
Essa base Gospel foi muito importante pra mim. Mas também tem as cantoras de Soul americano, Whitney Houston, Lauryn Hill, que influenciaram muito na minha base, naquilo que hoje eu entendo e gosto de música.
E mais pra frente as bandas de rock, todos os gêneros de rock que me ajudam a entender sonoridades diferentes, que nem tudo precisa estar ali bonitinho e melódico pra ser bom, e essa mistura toda gerou quem eu sou hoje, tá ligado?
RAPGOL Magazine – Qual a sua maior dificuldade enquanto artista?
Maui – É conseguir organizar as ideias pra conseguir fazer tudo. Às vezes parece que o tempo é pouco pra quantidade de coisas que a gente quer fazer, e ao mesmo tempo a gente meio que tem que seguir de certa forma um padrão de indústria, sabe?
Se a gente só sai jogando coisa pro público não vai dar certo, e a gente quer ser ouvido. Então tem que ter estratégia de fazer isso, “e agora vai vir a era tal”, e isso é difícil. Às vezes o público está ouvindo uma parada agora que fiz há dois anos atrás, e hoje eu esteja fazendo algo que só vai sair daqui a algum tempo…
Então gerir isso, mantendo a minha arte verdadeira, sendo ao mesmo tempo estratégico é uma dificuldade muito grande… (risos)
RAPGOL Magazine – Você lançou este ano, o seu primeiro EP, intitulado “Rubi”, com participações de talento. Quanto tempo levou para produzi-lo? Como foi o processo de criação e qual a parte mais difícil, se é que teve?
Maui – Essa última pergunta, com relação ao processo de “Rubi”, foi exatamente isso. Eu comecei minha carreira lançando uns singles, e decidi que precisava lançar um EP pra me apresentar da forma que eu queria, e eu não conseguia dar conta de tudo.
E ai comecei a produzir esse EP em 2020. Comecei a pensar, planejar os conceitos e os detalhes… E em 2021 eu fui pro estúdio gravar as primeiras versões.
Eu peguei uma quantidade infinita de composições, eu compus muito pra esse EP. Eu peguei 10 composições pra fazer “demo” e ai fui pro estúdio gravar, testar, pensar em feats e tal… E na época o estúdio da BQ Records, do meu irmão Fabres, me abrigou e me deu toda estrutura que eu precisava, junto com meu irmãozão CL.
E a gente foi produzindo, testando… E chegamos em uma versão do EP com 7 faixas e veio o convite pra fazer parte da Deck Disc, já integrando a Leigo Records. E aí terminando os trâmites todos em 2022, a gente decidiu regravar o EP, e escolhemos 4 faixas que estavam mais impecáveis pra poder produzir.
Então foi um tempo de praticamente três anos produzindo o EP… Muitos desafios de vida mesmo. Nesse processo fui pai, trabalhava em CLT… Então lidar com esse tempo e preciosismo artístico de “poxa, eu quero me expressar de uma forma específica, não quero falar qualquer coisa, de qualquer jeito”. Então tudo isso fez com que se tornasse um processo trabalhoso.
RAPGOL Magazine – Como tem sido o retorno desde o lançamento do EP por parte do público?
Maui – O retorno está sendo incrível e veio muito melhor do que eu esperava. O público se identificou muito com todas as músicas e isso era o que eu queria desde o início. Gerar mais identificação do que números.
Queria que as pessoas sentissem o que estavam acontecendo, que se identificassem com as músicas, usando-as como motivação, tá ligado? Graças a Deus a gente está conseguindo fazer muitos shows, então rodamos os estados do Sudeste, faltando só o Espírito Santo. A gente vai pro Sul também tocar.
E só pela internet recebo relatos, mensagens de gente de lugares que eu nunca imaginei no Brasil as pessoas me ouvindo e dizendo “cara, as tuas músicas me motivam, impactam”… E isso que a gente quer enquanto artista, né?
RAPGOL Magazine – O que você mais gosta de fazer quando não está lidando com música?
Maui – Essa pergunta é difícil, porque até porque quando não estou lidando com música, eu estou sim de uma certa forma. No dia-a-dia o que eu mais gosto de fazer é passar um tempo com a minha filha, ouvindo algumas músicas infantis e tal, como também outras músicas que a gente ouve junto.
Fora isso, eu sou skatista já há alguns anos, e estou retomando o esporte, pois é uma coisa que me traz uma paz fora do comum. E eu gosto muito de bobagem, de besteirol. Então qualquer coisa engraçada e que tenha um besteirol. Sou muito fã de stand-up norte-americano, gosto de ficar falando besteira com meus amigos.
É isso: skate, filha e besteirol.
RAPGOL Magazine – O que não falta hoje na sua playlist?
Maui – Hoje na minha playlist o que não falta em questão de gênero musical é o R&B e todos os seus formatos, R&B em tudo quanto é lugar. Música melódica é a minha parada mesmo, além dessa base do Gospel.
Só que assim, tem o R&B no Drum n’Bass, R&B no Garage, R&B no Dancehall… É o R&B que não falta na minha vida, essas linhas melódicas divinas.
RAPGOL Magazine – Nos últimos anos, diversas vertentes do Rap e da música eletrônica em geral vêm ganhando força no Brasil, como por exemplo o Drill e o Grime. Como você vê a evolução e consolidação desse cenário musical? E como você enxerga a migração de artistas de outros gêneros, como o Trap, para estes estilos musicais?
Maui – Consolidação é uma palavra forte pra ainda falar. Acho que o pessoal ainda está entendendo esses gêneros e pra eles se consolidarem há ainda um grande trabalho a ser feito.
Mas entrando na onda da pergunta, eu fico feliz, eu acho que isso expande as possibilidades para os artistas de música urbana. Se for parar pra pensar, há 10, 15 anos atrás tudo era ainda muito binário, poucas opções na nossa mente, na nossa cena, de tipo de música que você podia fazer. Ou era o Boombap de mensagem, ou era o Boombap de amor.
E hoje em dia temos diversas texturas musicais que permitem que a gente fale de mais coisas, igual a cozinha, mais ou menos. Antes a gente só conhecia arroz e feijão, o que é bom. Mas agora já aparecem mais opções. Acho que a chegada do Grime, principalmente, trouxe essas outras coisas.
A gente chama de Grime tudo que é som eletrônico diferente, mas também tem o Garage, tem o Drum n’Bass, tem o Footwork… Pelo menos pra mim foi assim. Conhecer o Grime foi conhecer a música eletrônica de gente preta e retomar isso pra mim como parte da minha cultura também.
Então acho isso muito positivo e produtivo, e compreendo os artistas que estão migrando. Eu mesmo migrei, eu era do R&B ali, do Trapsoul… E quando eu conheci essas paradas minha cabeça fez um “boom”, e fui buscar, estudar e querer fazer. Porque a gente como artista acaba querendo se expressar e os sentimentos sempre se renovam.
O novo sempre vai ser atrativo e eu acho que quem faz isso com respeito, com estudo, trazendo as bases do que o movimento é na sua essência, tem tudo pra dar certo e eu acho isso honroso, tá ligado? Mais bonito do que insistir numa mesma tecla, de forma vazia e sem sentido.
RAPGOL Magazine – Qual seria o feat dos seus sonhos, se é que já não rolou?
Maui – Mano, eu tenho muita alegria em dizer que o feat dos sonhos rolou esse ano, e é muita emoção falar disso… Ainda não saiu, mas o Luccas Carlos foi o primeiro mano que eu vi cantando R&B em português e eu falei: “É isso, mano! É assim que se faz!”.
E isso me motivou, e eu falei: “Ah, então vou ter que fazer desse jeito”… E hoje eu tenho uma música com ele, que vai sair pela Rap, Falando, que é um portal que eu admiro muito, assim como a RAPGOL, acho que fazem um trabalho incrível.
A gente acha que é fominha, que quer sempre mais. E hoje em dia o artista mais novo que o Luccas, no sentido de cena, que eu gostaria muito de colaborar é o Vulgo FK. Acho que o que ele faz tem uma alma muito grande, um soul muito grande, mas ao mesmo tempo muito moderno, tá ligado? E acho que isso é a parada que me ganha. Com melodia e barulho junto.
RAPGOL Magazine – Aqui na RAPGOL Magazine as culturas da música e do futebol andam juntas. Sendo assim, conta pra nós qual o time do coração e como isso aconteceu?
Maui – Meu time do coração é o maior o Rio de Janeiro, o maior do mundo: o Flamengo. Não tem jeito… Flamenguista de berço, a família inteira é flamenguista. A minha mãe é botafoguense, mas nunca foi muito ligada em futebol; e meu pai também é flamenguista mas também era distante.
Então foi mais aquele lance de comunidade mesmo, dos tios, dos primos. Mas quando entrei na adolescência eu botei isso em xeque: “Poxa, mas pera ai. Sou flamenguista por causa da minha família, mas qual é a minha personalidade no bagulho?”
E ai escolhi um time não só pela história linda do Flamengo, mas também por me identificar com a torcida. Acho que a torcida do Flamengo é essa bagunça, essa mistura, é a favela. Eu enxergo dessa forma, sei que tem favelado que torce para outros times, mas quem eu olho e me identifico como cria de Duque de Caxias é o Flamengo, e a paixão só cresce, né?
RAPGOL Magazine – Tem algum momento do futebol que jamais vai sair da sua cabeça?
Maui – Eu tenho 22 anos. Tomei consciência pra acompanhar futebol ali por 2009, 2010… E peguei essa fase de 2010 a 2023 e não tem como assim, pra mim e pra toda minha geração a Libertadores de 2019 foi absurda. Eu lembro das emoções, de chorar, de gritar, de ficar doidão.
Os antis tentam usar isso de alguma forma pra diminuir, “ah, é torcedor só a partir de 2019”… Mas é isso, é contribuir pra história do time de uma forma muito intensa, e foi o que eu vi, que entendi quando tava acontecendo em campo e vibrei de uma forma surreal, foi a Libertadores de 2019. Foi inigualável.
RAPGOL Magazine – Quais são as suas camisas de time favoritas?
Maui – Mano, eu gosto muito da Puma. E eu gosto da cor vinho. E tem uma do Arsenal com a Puma que é uma camisa de treino, se não me engano…
Gosto muito da azul do Flamengo também, acho que é de 2020, camisa do goleiro. Acho muito bacana. Essas duas são as que mais me chamam a atenção.
RAPGOL Magazine – Quais são seus atletas prediletos?
Maui – Meus atletas favoritos que eu vi jogar, como também pela personalidade e pela conduta dentro e fora do jogo é o De Arrascaeta e o Vinicius Junior, pela forma como eles se comportam. Lógico que não são os melhores do mundo, mas são os que mais gosto (risos).
RAPGOL Magazine – Uma música que fale de futebol.
Maui – ‘FIFA Street’ do meu irmão AKA AFK, tem participação do Sena, do KBrum… Tá o puro suco. FIFA Street, escuto direto.
RAPGOL Magazine – Um estilo musical que vejo que você domina é o R&Drill. Como é pra você conciliar o romantismo do R&B com a sonoridade sombria do Drill?
Maui – Rolê do R&Drill não fui eu quem criei, ele nasceu lá em Londres. Eu acho que é uma mistura que, não para o público, mas pra gente que lida com música o tempo todo, não é coisa tão inusitada, até porque o UK Drill ele tem uma alma muito melódica, como ali no 808 slide, por exemplo.
E foi pensando nas linhas melódicas que o 808 slide faz que eu cheguei na minha identidade de fazer um drill melódico, mas subi ondas gigantes como do Isong, lá de Londres, que é um cantor gigante de R&Drill, e foi ouvindo muito que consegui tentar traduzir a parada pra nossa linguagem brasileira, assim como eles trazem pra eles muito essa referência do Reggae, dos jamaicanos que migraram pra Londres.
Levaram, e eu tento trazer a referência nossa aqui do Funk, do Pagode, principalmente do Pagode no meu R&Drill, eu gosto dessa mistura. Melodia & Barulho sempre.
RAPGOL Magazine – Quais artistas você poderia recomendar para que o nosso público ouça?
Maui – Mano, tem uma pá de artistas que eu acho F*d@, mas tem uma galera que precisa de mais holofotes, até dentro do Underground, que é o Jazzaoquadrado. Tô viciado em uma música dele que se chama “MONCLER’s”, que é um R&Drill mídia também…
Tem a Barona lá em São Paulo, tem os menor da Tropa do Osama, o Vitor, que está ganhando um espaço bolado. Acho que com esses três já temos bastante material pra ouvir, bastante coisa pra se aprender com essa galera.
RAPGOL Magazine – Saímos recentemente de uma triste pandemia que assolou nossa sociedade. Como foi para você lidar com esse período na sua vida pessoal e profissional?
Maui – Na pandemia foi no período em que eu estava fazendo meu EP. Foi um período em que migrei de área, pois estava no audiovisual. E acabou não tendo renda, eu era autônomo, e na pandemia eu não tinha trampo e tive que mudar para um trabalho secundário, de segurança.
Isso no mesmo período morando de aluguel, já morando sozinho… E nesse mesmo período a minha esposa engravidou e passei pelo processo de ser pai.
Então meio que entrei na pandemia pelo processo de ser pai. Entrei na pandemia um menino, um adolescente, e do nada um homem adulto, cheio de responsabilidades (risos). E não falo isso “nossa, como sou demais”, mas tenso, não vou mentir.
E isso me transformou muito, de uma forma muito positiva, pois me ajudou a entender quais são as minhas prioridades. Se os tempos de escassez servem pra alguma coisa, servem pra isso: pra gente entender quais são as nossas prioridades. E eu tento viver a partir disso hoje em dia.
RAPGOL Magazine – Como estão os atuais projetos? Podemos aguardar alguma novidade do Maui neste ano?
Maui – Tá funfando…(risos) Tô tentando fazer o máximo de feat com artistas que eu admiro. Acho esse processo de colaborar muito importante.
Tem bastante single pra sair, com gente incrível. Tem muita gente pra sair. E de projeto meu, como bom fã de pagode que sou, sempre que fazer um DVD ao vivo, e esse ano consegui realizar esse sonho, no Teatro Popular Oscar Niemeyer, onde a gente tenta tocar música eletrônica com banda, sabe?
Músicas românticas, tocadas com banda, sem perder aquela sagacidade da música eletrônica. Uma banda incrível de amigos que eu venho colecionando na minha carreira, sabe? Um grupo de amigos, de juntar a produção do Taleko, que já é um parceiro meu que já está comigo aí como no EP “Rubi”, na música “Absurda”, então acho que isso é uma bomba que vocês vão gostar muito.
RAPGOL Magazine – Imensamente agradecido pelo seu tempo para nos responder. Gostaria de deixar alguma mensagem para quem nos acompanhou até aqui?
Maui – Agradeço pela oportunidade de estar falando aqui. Agradeço a quem está lendo e a vocês que fazem o Maui exisitir. O Maui é uma ideia que só se torna real quando vocês apoiam, e eu sou muito grato por todo apoio que recebo.
E é isso. Vivam música, vivam arte, vivam a ideia que derem na cabeça de vocês, no jeito de vocês, sem essa de bater no peito “sou brabo”, porque nós é leigo. Se é certo ou se é errado não importa, a gente tá aprendendo e se divertindo.
E é isso que eu quero que a galera que me acompanha faça: que se divirta nos processos. Porque eles são eternos (risos).
ESCUTE – RUBI EP – MAUI